O Estado de S. Paulo

Apetite da China continua a crescer

País asiático é o principal comprador de várias commoditie­s agrícolas do Brasil; expectativ­a para os próximos anos ainda é de expansão

- Rogério Barros Moraes ESPECIAL PARA O ESTADO

A China consome a maior parte das commoditie­s agrícolas exportadas pelo Brasil. Há anos, o país asiático figura como um dos principais responsáve­is pelos sucessivos resultados positivos na balança comercial do agronegóci­o brasileiro. E não há sinal de mudança dessa tendência no curto prazo. Até outubro deste ano, os chineses compraram US$ 23,8 bilhões em produtos do Brasil, o equivalent­e a quase 30% do total de US$ 81,99 bilhões, em relação a igual período de 2016 (veja gráfico).

A China também merece destaque nos números do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC). A Pasta calcula saldo positivo entre US$ 65 bilhões e US$ 70 bilhões na balança comercial, sendo que, até setembro, apenas o superávit ligado às transações com a China representa­va 30% desse total. Parte consideráv­el desse montante veio da compra de commoditie­s agrícolas, como a soja.

Com tamanho peso nas exportaçõe­s brasileira­s do agronegóci­o, a dúvida que sempre permeia as análises de especialis­tas do setor é se não é arriscado manter uma dependênci­a nesse nível. Alguns setores, por exemplo, tomaram um tombo de 2016 para cá. É o caso do açúcar brasileiro, que por causa de taxas protecioni­stas impostas pelos chineses, teve sua participaç­ão reduzida significat­ivamente em 2017. No ano passado, os embarques da commodity somaram US$ 850 milhões. Até outubro de 2017, estavam 84% menores. Analistas concordam porém que, se houver recuo nas compras da China, isso não deve ocorrer nos próximos anos. Para o analista Fábio Meneghin, da consultori­a Agroconsul­t, o consumo de commoditie­s brasileira­s – não só as do agronegóci­o – pelo gigante asiático deve se expandir, mesmo porque se projeta um incremento anual da economia daquele país na taxa de 6% a 7% para os próximos anos. “A China deve continuar sendo principal parceiro comercial do Brasil.”

O pesquisado­r Thiago Bernardino de Carvalho, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da EsalqUSP, lembra que o agronegóci­o do Brasil continuará a ser estratégic­o para o abastecime­nto não só da China, mas do mundo. Apesar de reconhecer que a tecnologia nacional ainda precise avançar, Carvalho ressalta que, em termos de clima, disponibil­idade de solo e água, não há um país com vantagens comparativ­as maiores. “A China, com toda a sua expansão populacion­al e dificuldad­es com área para produção, clima e água, tem aqui um grande e estratégic­o parceiro para os próximos anos”, analisa.

Competição. Ele assinala que a disputa entre as commoditie­s mais vendidas para lá deve se acirrar nos próximos anos, o que não prejudicar­ia o Brasil. A liderança deve permanecer com a soja, “até pelas escolhas políticas e de mercado tanto do governo brasileiro quanto do chinês”, diz. “Entretanto, as carnes ganharão cada vez mais espaço.” No dia 1.º de novembro, por exemplo, o ministro da Agricultur­a, Blairo Maggi, anunciou a habilitaçã­o, pela China, de mais 22 plantas frigorífic­as brasileira­s, sendo 11 de bovinos e 11 de frangos, com potencial para gerar US$ 50 milhões por ano. Além disso, em meados do mês um grupo de empresário­s chineses visitou Mato Grosso para conhecer a produção de suínos, informou o governo do Estado.

O presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportador­as de Carne (Abiec), Antonio Jorge Camardelli, também é otimista quanto à expansão dos embarques do agronegóci­o brasileiro para o mercado asiático. No seu setor, projeta que o incremento da receita de exportaçõe­s de carne bovina in natura só para a China, que até outubro deste ano foi de US$ 718 milhões, com 166 mil toneladas, deverá alcançar 10% – o volume embarcado até outubro já superava o total de 2016 em 7,4%, conforme a Abiec, com base nos dados do MDIC. Ele avalia que a manutenção no poder do líder do Partido Comunista Chinês, Xi Jinping, indica que o país manterá a tendência de abrir mais a economia. Para o executivo, a credibilid­ade da proteína animal brasileira naquele mercado conseguiu, inclusive, prevenir maiores estragos provocados pela Operação Carne Fraca, em março, além dos escândalos envolvendo os executivos a JBS. “A China chegou a suspender alguns contratos de exportação, mas logo reviu a decisão.”

Aves e suínos. O otimismo quanto ao parceiro chinês permeia igualmente as projeções da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). O presidente executivo, Francisco Turra, recorre a números da economia chinesa para reforçar a tendência de alta. O país deve crescer este ano de 6,5%, segundo ele. “Se por um lado o consumo está aquecido na China, por outro a produção avícola reduziu sua capacidade produtiva”, diz, lembrando que 80% da carne de frango adquirida pela China vem do Brasil, que é um país livre de influenza aviária, o que aumenta sua competitiv­idade. “Em 2016, foram 480 mil toneladas com receita de US$ 860 milhões.”

Parceria • “A China tem aqui um grande e estratégic­o parceiro para os próximos anos.” Thiago Bernardino de Carvalho PESQUISADO­R DO CEPEA, DAESALQ-USP

 ?? JONNE RORIZ/ESTADÃO ?? Embarque de soja. China consumiu 50 milhões de t do grão brasileiro até outubro deste ano, quase metade da colheita do País
JONNE RORIZ/ESTADÃO Embarque de soja. China consumiu 50 milhões de t do grão brasileiro até outubro deste ano, quase metade da colheita do País
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil