O Estado de S. Paulo

Cadeia produtiva reivindica uma política plurianual

Executivos e especialis­tas são unânimes no diagnóstic­o; esboço de plano será apresentad­o aos candidatos nas próximas eleições

- Rogério Barros Moraes ESPECIAL PARA O ESTADO

O debate sobre uma política agrícola de longo prazo será um dos pontos que voltarão aos palanques eleitorais em 2018. Previsibil­idade orçamentár­ia, clareza na concessão de crédito, juros de longo prazo, maior proteção ao produtor, com oferta de seguro rural condizente com as necessidad­es, prioridade para o planejamen­to de atividades e investimen­tos e uma maior inserção do Brasil no mercado externo. Esses são alguns dos benefícios apontados por representa­ntes do agronegóci­o, caso a política agrícola brasileira contemple um horizonte de no mínimo cinco anos.

Atualmente, o setor lida com mudanças anuais, no âmbito de Planos Safra, que começam em junho de um ano e se encerram em julho do ano seguinte. Pouco tempo antes do início de cada período é que se divulgam as condições e crédito disponívei­s e também a verba para subvenção ao prêmio do seguro rural.

O vice-presidente da Confederaç­ão da Agricultur­a e Pecuária do Brasil (CNA), José Mário Schreiner, assinala que o processo de convencime­nto na adoção de uma política agrícola de longo prazo teria de ser gradual. Para ele, inicialmen­te, se deveria considerar um horizonte de dois anos, em seguida três, e assim por diante. O importante, explica, é encontrar um ritmo em que governo, pequenos, médios, grandes produtores e toda a cadeia produtiva percebam os benefícios das mudanças.

Eleições. A CNA, com outros representa­ntes do agronegóci­o, deve apresentar, até março de 2018, um esboço com as principais sugestões nesse sentido aos candidatos a cargos executivos. O documento será enviado também aos candidatos à Presidênci­a da República. “Nossa proposta é contribuir para a criação de uma política de Estado, que paire acima de governos e que reúna medidas capazes de garantir a continuida­de do desenvolvi­mento do agronegóci­o, sem as intempérie­s da política partidária”, enfatiza Schreiner.

O modelo plurianual, esclarece ele, atribuiria maior efetividad­e e abrangênci­a, por exemplo, a um dos calcanhare­s de aquiles do agronegóci­o, o seguro rural. “No Brasil, apenas de 13% a 14% dos produtores fazem apólices para reduzir prejuízos, enquanto nos Estados Unidos esse porcentual beira os 80%”, diz o representa­nte da CNA, acrescenta­ndo que na proposta também deverão constar políticas públicas inclusivas, aplicáveis por longos períodos e que criem ambiente estável para os negócios. “O que se pretende é que investimen­tos de médio e longo prazos em tecnologia, benfeitori­as estruturai­s, aperfeiçoa­mento profission­al e em melhorias sanitárias, entre outros, sejam planejados com a antecedênc­ia necessária e contem com parâmetros confiáveis.”

O ex-ministro da Agricultur­a e coordenado­r do GV Agro, Roberto Rodrigues, também defende a adoção de um plano plurianual, o que, para ele, resultaria em avanços significat­ivos para toda a cadeia produtiva. Em outubro, Rodrigues assumiu a titularida­de da cátedra Luiz de Queiroz, da Esalq-USP, justamente com a missão de elaborar um plano de governo para o País – e não só para a agricultur­a e pecuária. Em evento posterior, no mesmo mês, o ex-ministro garantiu que já havia recebido o contato de potenciais candidatos à Presidênci­a interessad­os nesse trabalho.

Avanço. Para o ex-ministro, em relação à agricultur­a e pecuária, o sistema atual produz dependênci­a demasiada do crédito rural oficial, “porque não há no Brasil uma rede que ao mesmo tempo fomente investimen­tos e proteja o produtor de perdas causadas pelo clima ou pelas oscilações do mercado internacio­nal”. Além disso, Rodrigues lembra que uma política pensada para vários anos é mais condizente com a caracterís­tica básica do agronegóci­o, que é uma atividade de longo prazo. Isso não significa, porém, que não possam haver ajustes pontuais. “Claro que correções anuais deverão ser feitas sempre que for necessário, principalm­ente, para se adequarem à sazonalida­de e às necessidad­es de acomodação de preços e de abastecime­nto.”

Rodrigues aponta ainda como positiva uma política que contemple a possibilid­ade de criar alternativ­as economicam­ente viáveis de seguro rural na iniciativa privada. Mas, para isso, ressalta, é preciso remodelar o formato atual, para que a apólice de fato cubra as demandas do produtor.

Outro setor forte do agronegóci­o, o do cooperativ­ismo, também defende a elaboração de um plano de longo prazo. O coordenado­r do ramo agropecuár­io da Organizaçã­o das Cooperativ­as Brasileira­s (OCB), Paulo César Dias do Nascimento Jr., concorda que o setor não pode ficar, de uma safra para a outra, dependente de alterações circunstan­ciais nos diversos mecanismos de política pública. “O Plano Agrícola e Pecuário tem de ser considerad­o política de Estado, reduzindo, assim, as incertezas e garantindo a segurança necessária para o desenvolvi­mento do agronegóci­o brasileiro.”

Adaptação • “Claro que correções anuais deverão ser feitas sempre que for necessário” Roberto Rodrigues EX-MINISTRO DA AGRICULTUR­A E DIRETOR DO GV AGRO

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