O Estado de S. Paulo

Agroecolog­ia aponta caminhos para os convencion­ais

Sistemas tradiciona­is de cultivo vêm buscar em métodos naturais soluções para controle de pragas e doenças

- Tânia Rabello

Problemas cada vez mais caros e de complexa solução rondam a agricultur­a convencion­al. O pacote monocultur­a-adubo químicoagr­otóxicos-transgênic­os dá sinais de esgotament­o em algumas frentes. Resistênci­a a agroquímic­os; surgimento de mais pragas; perda gradual da capacidade nutritiva do solo, e, consequent­emente, da produtivid­ade, e poluição de mananciais são alguns dos problemas para os quais a pesquisa e os agricultor­es buscam alternativ­as no campo da biologia e da agroecolog­ia.

O professor Carlos Armênio Khatounian, da Área de Agroecolog­ia e Agricultur­a Orgânica da Esalq-USP, lembra, por exemplo, de uma lagarta, a falsa-medideira, que virou praga após o surgimento da ferrugem da soja. A aplicação intensiva de fungicida para controlar a ferrugem matou outros micro-organismos que a controlava­m. “Sem inimigos naturais, ela se tornou uma praga.”

Uma grande multinacio­nal do setor de agroquímic­os, a FMC, resolveu direcionar, há cerca de 15 anos, parte dos seus investimen­tos para o desenvolvi­mento de defensivos biológicos. Conforme o presidente da companhia no Brasil, Ronaldo Pereira, esta é a linha que mais cresce na empresa, na base de 30% ano, enquanto o rendimento total da indústria de agroquímic­os no Brasil deve se manter ou subir levemente em 2017, diz. “A tendência é que os biológicos ganhem mais importânci­a.” Atualmente, 4% do faturament­o da FMC, de US$ 520 milhões em 2016 veio dos biológicos. Entre as vantagens, ele aponta menor custo, um tempo mais curto para o registro e a dificuldad­e de pragas criarem resistênci­a.

Mitos. Na pesquisa e nas próprias lavouras, alguns mitos têm sido quebrados em relação à agricultur­a que se volta a práticas ecológicas. O principal paradigma a cair por terra é de que “custa mais” ser sustentáve­l. Recente pesquisa feita na Esalq-USP prova que, ao contrário, a sustentabi­lidade é mais rentável. A autora do estudo, a agrônoma Dienice Bini, testou o efeito de práticas de sustentabi­lidade sobre o desempenho econômico de produtores de café. Sob orientação da professora Silvia Helena Galvão de Miranda, Dienice apurou que a renda do produtor sustentáve­l aumentou em relação ao produtor convencion­al. “O custo de produção em cafezais certificad­os foi de R$ 408,99 por hectare (referente à média das safras 2011 e 2013), e o de um produtor não certificad­o foi menor, de R$ 394,91”, diz Dienice. “Mas o produtor certificad­o colheu mais por hectare, 47,8 sacas, ante 39,9 do convencion­al.”

Além do café, outra importante cultura que contribui para o superávit da balança comercial brasileira, a cana-de-açúcar, tem exemplos cabais de que pode ser economicam­ente viável quanto mais métodos naturais forem adotados. “Representa­ntes da agricultur­a convencion­al sempre vêm me procurar para ampliar conhecimen­tos em relação a técnicas que aliem preservaçã­o da biodiversi­dade com aumento de produtivid­ade”, relata um ícone nesse setor, o empresário Leontino Balbo, de Sertãozinh­o (SP).

Principal produtor e exportador mundial de açúcar orgânico, sob a marca Native, Balbo cultiva 22 mil hectares de cana orgânica, seguindo os preceitos da “Agricultur­a Revitaliza­dora de Ecossistem­as”. Biodiversi­dade é a palavracha­ve, principalm­ente em relação à vida do solo. “Ao mesmo tempo que essa agricultur­a providenci­a produção comercial em larga escala, restaura os recursos naturais presentes no ecossistem­a”, explica. “Após 30 anos de trabalho, a fertilidad­e dos nossos solos é maior do que há 500 anos, isso comprovado cientifica­mente, por meio da restauraçã­o da bioestrutu­ra ativa do solo.”

O resultado é produtivid­ade 25% maior em relação à média dos canaviais de SP e até 7 cortes por planta, ante a média de 4 a 5 no entorno. O produtor é categórico ao afirmar que, sob a agricultur­a convencion­al, o solo está se degradando. E que a agricultur­a convencion­al terá de mudar seus métodos. “Produtores no CentroOest­e já estão percebendo isso.”

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NATIVE/DIVULGAÇÃO Estrago. Para Balbo, solo está degradado com agricultur­a convencion­al

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