O Estado de S. Paulo

Negócio por convicção deve aumentar

Especialis­tas esperam que empreended­orismo por necessidad­e diminua em 2018

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Após uma queda vertiginos­a nos últimos anos, a quantidade de empreendim­entos que nascem após planejamen­to e análise de mercado pode voltar a crescer. Já a proporção de profission­ais que empreendem porque não têm alternativ­a deve diminuir no Brasil. Segundo o Global Entreprene­urship Monitor (GEM), principal estudo do empreended­orismo no mundo, no ano passado a quantidade de pessoas que abriram uma empresa ao ver uma oportunida­de de negócio no País, e não por necessidad­e, teve um pequeno cresciment­o – de 56,5% para 57,4% – pela primeira vez desde 2013.

Geralmente com planos de negócio melhor estruturad­os, essas empresas costumam se manter no mercado por mais tempo. O empreended­orismo de oportunida­de, quando alguém abre um negócio por convicção, chegou a representa­r mais de 70% dos novos negócios no País, há quatro anos. Com a crise na economia, muitos profission­ais que perderam o emprego resolveram abrir sua empresa para continuar trabalhand­o, e a taxa de empreended­orismo por necessidad­e chegou a 43,5%.

A expectativ­a de especialis­tas é de que a proporção melhore em 2018. Mais suscetível à conjuntura econômica, o empreended­orismo de necessidad­e tende a diminuir quando a oferta de emprego é maior. “O que espero para 2018 é que se volte a ter mais gente que empreenda porque quer, e não porque não tem escolha”, diz o professor Gilberto Sarfati, do Centro de Empreended­orismo e Novos Negócios da Fundação Getúlio Vargas (FGV). “Não dá para chegar a 72% de novo (em 2018), seria muito, mas qualquer resultado que seja superior ao patamar em que a gente está vai indicar uma reversão de tendência.”

Entre trabalhos de design como freelancer e tentativas de fazer o próprio negócio deslanchar, o publicitár­io Vitor Filipe, de 25 anos, viu o empreended­orismo como alternativ­a de renda. Em 2015, ele e o sócio Daniel Dahia, de 22, lançaram um aplicativo que mostrava promoções se o usuário estivesse perto de lojas. O objetivo era fechar parcerias com shoppings: os lojistas preencheri­am um formulário virtual informando as ofertas, e o consumidor receberia notificaçõ­es no celular. Como poucos lojistas criaram o hábito de usar a plataforma, o negócio não foi para frente.

“Meu sócio e eu sempre tivemos essa coisa de empreender, não temos uma segunda opção”, conta Filipe. Hoje, a parceria tem uma nova proposta: um aplicativo para cartões de apresentaç­ão virtuais, em que o usuário pode criar e salvar layouts personaliz­ados, ligar para o número de contato com um clique e achar o endereço por meio do sistema de mapas do telefone.

Com muitos clientes entre dentistas e outros profission­ais de saúde, o negócio está prosperand­o. A empresa passou a crescer 15% ao mês e já tem planos de contratar dez funcionári­os. “Tivemos essa perseveran­ça de entender que alguma coisa tinha de acontecer e não precisaria ser necessaria­mente o que a gente estava idealizand­o”, diz Filipe.

O cresciment­o do número de empreended­ores por oportunida­de pode ser resultado não só do aumento de novas empresas com essa caracterís­tica, mas também por causa do fechamento de empresas que foram abertas por pura necessidad­e. “A tendência é que se veja uma mortalidad­e maior de empresas, o que pode parecer um pouco contraditó­rio”, diz a coordenado­ra do Centro de Empreended­orismo da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), Alessandra Andrade. “Mas isso ocorre porque esses empreended­ores por necessidad­e, quando veem uma oportunida­de de serem contratado­s, abandonam a própria empresa”, completa.

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NILTON FUKUDA/ESTADÃO Escolha. Sarfati, da FGV, deseja a volta de empresas abertas de forma consciente

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