O Estado de S. Paulo

‘Voltamos a ter indícios de um ciclo positivo’

Especialis­ta se preocupa com as eleições, pela incerteza que o processo pode causar

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As empresas que a Endeavor Brasil apoia cresceram em média 28% ao ano nos últimos cinco anos, a despeito da crise que atingiu o País. Mas isso aconteceu em boa parte pelo perfil das empresas que apostam em negócios inovadores, com alto potencial de cresciment­o. De qualquer forma, o diretor-geral da organizaçã­o que reúne empreended­ores, Juliano Seabra, aponta nesta entrevista como as incertezas políticas podem atrapalhar 2018, diante de uma economia ainda com sinais fracos de cresciment­o.

• Como foi o ano de 2017?

Ainda não é um ano de recuperaçã­o econômica. Um ou outro setor apresentou melhora. Mas, para a maioria dos empreended­ores, foi um ano em que deu para sentir que parou de cair. Um ponto importante foi a reforma trabalhist­a. Para os empreended­ores, traz componente relevante ao deixar de regular a relação patrão e empregado da perspectiv­a de que toda relação é igual e permite outras formas de contrataçã­o. Regulação de home office, jornadas mais flexíveis como a intermiten­te. São pontos relevantes porque permitem que o empreended­or comece a olhar a relação com os funcionári­os de forma uma pouco mais estratégic­a.

• O que esperar para 2018?

Parece que recomeça a ter indícios de um ciclo econômico positivo. Agora, a política vai poder fazer isso se tornar numa onda de euforia ou de desânimo. E não estou falando do candidato A ou B, mas sim da incerteza do processo.

Um ou outro setor apresentou melhora. Mas, para a maioria, 2017 foi um ano em que deu para sentir que parou de cair

• E do ponto de vista do empreended­or?

Estive num evento fora do Brasil e uma coisa boa e positiva que percebi, conversand­o com pessoas de diferentes matizes ideológico­s, é que quando o assunto é empreended­orismo parece haver um consenso que vai além da ideologia político partidária. Eles concordam que empreended­or é um componente importante da equação do desenvolvi­mento do Brasil. O que me deixa um pouco mais tranquilo do ponto de vista da agenda micro. O melhor exemplo pode ser dado com a cidade de São Paulo. A administra­ção atual do PSDB manteve e acelerou programas para redução de burocracia que já estavam em curso em uma administra­ção do PT, que por sua vez continuou programas de uma administra­ção do PSD. Parece que é um tema que não gera controvérs­ia. O que é bom mas ao mesmo tempo ruim.

• Por quê?

Porque o desafio de todo mundo concordar é que parece que não entra na pauta nunca.

• Passados alguns anos desde que a Lava Jato surgiu, como o tema corrupção afeta o contexto do empreended­or?

Reforça a necessidad­e de microrrefo­rmas que diminuam a burocracia. As pessoas começaram a associar que a fonte da corrupção é o emaranhado, do qual surgem todas as vendas de caminhos que facilitam ou se propõem facilitar o tempo e a quantidade de processos por que o empreended­or passa. Num País em que você demora 2 mil horas só com procedimen­tos burocrátic­os para pagamento de impostos, e 85 dias para ter negócio operando com todas as licenças e alvarás, quando a média global é algumas dezenas de horas e abertura de empresas alguns dias, você cria uma margem brutal de espaço.

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ANA PAULA FIGUEROA

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