Jurassic Park
Pela 1.ª vez, foram encontrados embriões da espécie preservados em três dimensões; trabalho é de pesquisadores brasileiros e chineses
Cientistas apresentaram no Rio ovos com embriões preservados de pterossauros de 120 milhões de anos achados na China.
No inóspito deserto de Gobi, no noroeste da China, paleontólogos chineses e brasileiros descobriram o maior ninho já encontrado de pterossauros, os pré-históricos répteis alados. Foram estudados 215 ovos em um ninho onde se estima que havia cerca de 300. Dentre os fósseis, com 120 milhões de anos, foram achados os primeiros embriões preservados em três dimensões. A descoberta, considerada uma das mais importantes da área dos últimos dez anos, foi publicada ontem na revista Science.
O estudo, assinado por brasileiros e chineses, foi apresentado ontem no Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Até hoje, só tinham sido descobertos oito ovos de pterossauros, cinco na China e três na Argentina. “É a primeira vez que embriões são encontrados com os ossos tridimensionais”, explica o paleontólogo Alexander Kellner, do Museu Nacional da UFRJ, um dos responsáveis pela pesquisa.
O estudo dos ossos dos embriões revelou também uma informação inédita. Quando nasciam, os pterossauros eram capazes de andar, mas não de voar, indicando que precisavam de cuidados parentais até se tornarem independentes.
Os pterossauros formam um grupo extinto de répteis alados: são os primeiros vertebrados a estabelecerem o voo ativo. Eles viveram entre 220 milhões e 66 milhões de anos atrás, no período geológico conhecido como Cretáceo. Foram extintos juntamente com os dinossauros sem deixar descendentes.
Embora fósseis de pterossauros já tenham sido encontrados em todos os continentes, a maioria dos achados costuma ser muito econômica, restrita a um único exemplar e partes fragmentadas do esqueleto. Isso acontece por causa da fragilidade dos ossos, muito finos e delicados, o que dificulta a sua preservação.
No entanto, o seco e desabitado deserto de Gobi se revelou um ótimo local para a conservação dos fósseis. “É uma área muito seca, o que favorece a conservação dos fósseis. Por isso conseguimos encontrar três grandes depósitos”, diz Xin Cheg, um dos 15 chineses que participaram da pesquisa.
Além dos ovos e embriões, foram achadas também dezenas de ossos de pterossauros, todos da espécie Hamipterus tianshanensis, que havia sido descoberta em 2011 pela mesma equipe, liderada por Kellner e por Xiaolin Wang, da Academia Chinesa de Ciências. As pesquisas foram feitas nas proximidades da cidade de Hami, na província chinesa de Xingjiang.
Os fósseis estavam dispostos em um pacote de rochas de 2,2 metros de altura, distribuídos em oito níveis, cada um representando uma época diferente.
O local é um paredão rochoso, onde ossos e ovos se acumularam em várias camadas. O trabalho é meticuloso: foi preciso escavar a rocha com cuidado extremo para não causar danos.
“Quando encontramos essa espécie pela primeira vez ( em 2011), vimos que os ossos estavam presentes em grande quantidade – e havia cinco ovos. A equipe chinesa continuou com as escavações até fazer essa nova descoberta vultosa”, disse Taissa Rodrigues, outra autora do estudo, do Laboratório de Paleontologia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). A quantidade de ovos descobertos, disse, aumentou a chance de encontrar embriões, como aconteceu. Foram achados embriões em 16 ovos. 3D. Segundo Taissa, quando os frágeis ovos são encontrados esmagados, os embriões não fornecem tantas informações. Mas, quando estão em três dimensões, é possível tirar várias conclusões. Uma saliência em um osso, por exemplo, é rapidamente entendida como o local onde ficavam os músculos e tendões que controlavam as asas. Com isso, são reproduzidos detalhes precisos da anatomia do animal, além de seus movimentos e hábitos.