O Estado de S. Paulo

Lula teria conta na Espanha, diz executivo

Afirmação foi feita em julho à PF; Sérgio Moro levantou sigilo

- Luiz Vassallo Fausto Macedo

Gerson Almada, ex-vice-presidente da Engevix, disse à PF ter ouvido relatos de que o ex-presidente Lula e o ex-ministro José Dirceu teriam conta em Madri controlada pelo lobista Milton Pascowitch. O depoimento, de julho, teve o sigilo levantado pelo juiz Sérgio Moro. As defesas não se pronunciar­am.

O ex-vice-presidente da Engevix Gerson Almada afirmou à Polícia Federal que ouviu relatos de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-ministro José Dirceu teriam uma conta em Madri, na Espanha controlada pelo lobista Milton Pascowitch. Almada disse ainda ter feito contratos dissimulad­os para pagar vantagens indevidas a Dirceu. O depoimento, de julho, teve o sigilo levantado ontem pelo juiz federal Sérgio Moro.

As declaraçõe­s foram anexadas às investigaç­ões que apuram a suspeita de pagamento de propinas das empreiteir­as Engevix e UTC para o ex-ministro, que comandou a Casa Civil no primeiro governo de Lula. Dirceu é acusado de receber R$ 2,4 milhões durante e depois do julgamento do mensalão – ação penal em que o petista foi condenado. A denúncia foi ajuizada em 2 de maio e ainda não foi recebida por Moro.

No depoimento no dia 4 de julho, Almada disse à PF que firmou contratos dissimulad­os com a empresa de comunicaçã­o Entrelinha­s com o objetivo de repassar propinas a Dirceu. Ele afirmou que os serviços previstos no contrato “nunca foram prestados”. Conforme Almada, por meio de notas fiscais da Entrelinha­s, a empreiteir­a pagou, entre 2011 e 2012, o valor de R$ 900 mil.

O ex-vice-presidente da Engevix disse que mantinha uma “conta corrente” com Pascowitch desde 2005 para pagar propinas a agentes públicos, políticos e partidos. Segundo ele, o próprio lobista sugeriu que os pagamentos fossem feitos a Dirceu.

Gérson Almada ainda fez “questão de constar” em seu depoimento que “é muito difícil uma empresa estrangeir­a ingressar no mercado de petróleo brasileiro como fornecedor­a e por conta disso buscaram pessoas com ligações políticas para facilitar o seu ingresso e que a decisão na época em adquirir o equipament­o se deu para reforçar os laços com José Dirceu, objetivand­o o favorecime­nto da Engevix nos contratos com a Petrobrás”.

O ex-executivo disse que no início de 2014 Milton Pascowitch teria dito que “iria viajar para Paris e, dali, para não deixar rastro, viajaria de trem para Madri, Espanha, para olhar a conta que ele administra­va para pessoas do PT”. De acordo com o ex-executivo, ele entendeu que as pessoas seriam Lula e Dirceu porque o lobista mantinha contato intenso desde 2008 com o ex-ministro.

‘Nenhum sentido’. Em delação premiada homologada pela Justiça, Pascowitch não declarou administra­r contas no exterior para o PT e nem relatou pagamentos ao ex-presidente Lula. O advogado Theo Dias, que defende Pascowitch, disse que o depoimento de Almada “não faz nenhum sentido”.

O ex-executivo disse que “entendeu” que os valores seriam para os dois porque, quando assinou um contrato entre a Ecovix – Engevix Construçõe­s Oceânicas S. A. e a PNBV Petrobrás Netherland B.V., Milton Pascowitch justificou a comissão pedida afirmando que “parte seria destinada para a aposentado­ria do ex-presidente Luís (sic) Inácio Lula da Silva”.

Segundo Almada, a Ecovix firmou contrato com a PNBV entre 2009 e 2010 para o fornecimen­to de 8 cascos replicante­s para unidades de produção e armazename­nto de petróleo (FPSO) no valor de US$ 3,5 bilhões. Pelo acordo, Pascowitch teria ficado com uma comissão de 0,5% do valor.

Provas. Almada afirmou não ter provas sobre a conta administra­da por Pascowitch em suposto benefício dos petistas, mas entregou documentos às autoridade­s que, segundo ele, comprovam o pagamento de US$ 10 milhões para o lobista, nos Estados Unidos, em 2014.

Procurada, a assessoria de Lula não se manifestou. A reportagem entrou em contato com as defesas de Dirceu e da Entrelinha­s e até a conclusão desta edição não houve resposta.

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