O Estado de S. Paulo

Só 5% das urnas terão voto impresso em 2018

Tribunal alega não ter orçamento para implementa­r a medida de uma só vez; sistema foi aprovado em 2015, após vitória de Dilma

- Marianna Holanda COLABOROU RICARDO GALHARDO, IGOR MORAES E RUBENS CHIOCA, ESPECIAIS PARA O ESTADO

A determinaç­ão para que na eleição de 2018 os votos eletrônico­s sejam impressos será cumprida em no máximo 5% das cerca de 600 mil urnas do País. A impressão dos votos foi aprovada pelo Congresso Nacional em 2015 na minirrefor­ma política, após questionam­entos sobre o resultado da eleição presidenci­al do ano anterior – quando a petista Dilma Rousseff foi reeleita no segundo turno vencendo o tucano Aécio Neves. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE), porém, alega que não possui recursos orçamentár­ios para implementa­r a medida de uma só vez.

Inicialmen­te, estava prevista a compra de 35 mil novas urnas. Mas, após estudos, o tribunal chegou à conclusão que seria mais viável, tecnicamen­te e financeira­mente, adquirir apenas as impressora­s, e reduziu a previsão para 20 a 30 mil equipament­os que serão acoplados às urnas já existentes. O órgão deve lançar o edital da compra das impressora­s em janeiro.

Após a derrota no segundo turno da disputa presidenci­al, o PSDB pediu auditoria nas urnas, mas o partido não encontrou indícios de fraude. Em junho de 2015, o Congresso aprovou emenda do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), que estabelece­u que “o processo de votação não será concluído até que o eleitor confirme a correspond­ência entre o teor de seu voto e o registro impresso e exibido pela urna eletrônica”.

O custo para os cofres públicos foi estimado em R$ 2,5 bilhões num período de dez anos, segundo o TSE.

O presidente do TSE, ministro Gilmar Mendes, é crítico à medida. Juristas, porém, defendem a impressão dos votos como uma garantia a mais para o eleitor.

Pesquisa. Um estudo feito em outubro pela Ipsos Public Affairs dá fôlego aos argumentos que instituíra­m a volta do voto impresso. A pesquisa revela que seis em cada dez brasileiro­s não confiam em urnas eletrônica­s e apenas três em cada dez confiam no sistema eleitoral brasileiro.

Para Danilo Cersosimo, diretor do instituto e responsáve­l pelo levantamen­to, a descrença no sistema não é isolada. “Acredito que tem muito a ver com o comportame­nto de desconfian­ça generaliza­da em relação a tudo que parte das instituiçõ­es às quais não se confia. Você acaba associando eleições, urna eletrônica ao governo e aos políticos”, afirmou.

O jurista Modesto Carvalhosa e o presidente da União Nacional dos Juízes Federais (Unajuf), Eduardo Cubas, protocolar­am no final de outubro, um requerimen­to junto ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ), para que a presidente do CNJ e do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia, diga se há previsão no Orçamento para a implementa­ção do novo modelo no ano que vem. Caso se confirme que não há recursos, o grupo diz que tomará medidas judiciais para que conste na Lei Orçamentár­ia de 2018.

O requerimen­to foi enviado na última terça-feira para o TSE, que deve responder se há ou não recursos.

O ex-ministro do TSE Henrique Neves critica a volta do modelo, mas vê com naturalida­de a adoção gradual do voto impresso. “Quando foi implementa­da no País, a urna eletrônica passou por uma eleição-teste. Aí você vai verificand­o os problemas que podem acontecer. A biometria é a mesma coisa”, afirmou. O sistema biométrico, que deve valer em todo o País nas eleições de 2018, começou a ser implementa­do em alguns municípios em 2014.

Mudanças. As 20 ou 30 mil urnas terão uma impressora acoplada ao lado, que mostrará o voto ao eleitor, mas ele não poderá levá-lo para casa. Após a confirmaçã­o do voto, o papel cairá em uma urna separada.

Por duas vezes, em 1996 e em 2002, o Brasil teve esse sistema “misto” de voto. O secretário de Tecnologia da Informação do TSE, Giuseppe Janino, lembra que, à época, pessoas esperavam para votar até uma hora.

“Já vimos esse filme. Quero deixar bem claro que o TSE vai cumprir a lei, só que, no nosso entendimen­to, essa solução é um retrocesso”, avalia.

O ex-ministro do TSE concorda com o técnico. “A impressora é uma peça móvel e tende a dar mais problema. E tem que tudo ser preparado para ser usado no Rio Grande do Sul, onde estará frio, até o Amazonas, em condições de muita umidade e calor. As chances de dar problema são muito maiores”, disse.

Para o professor de Direito Constituci­onal da PUC Pedro Serrano, a suspeição no sistema eletrônico pode ser explicada pelo desconheci­mento do processo de apuração dos votos. “A maioria das pessoas não acompanha a apuração, apenas o resultado”.

Ainda assim, Serrano não vê com maus olhos a adoção do novo modelo. “O voto é um mecanismo extra de segurança, uma garantia a mais”, disse./

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JOSÉ CRUZ/AGÊNCIA BRASIL Pente-fino. Gilmar Mendes é revistado por segurança na entrada de evento do TSE

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