O Estado de S. Paulo

Mais emprego, mais confiança

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Melhores condições de emprego continuam acompanhan­do a reativação da economia, com recuo lento, mas firme, dos indicadore­s de desocupaçã­o. Mais pessoas trabalhand­o, assalariad­as ou por conta própria, têm reforçado o consumo e contribuíd­o para dar mais vigor à produção e à venda de bens e serviços. É um benéfico efeito bumerangue: maior atividade reduz o número de pessoas desocupada­s e mais pessoas em condições de ir às compras dinamizam os negócios. Graças a esse movimento, o desemprego caiu para 12,2% da força de trabalho no trimestre móvel de agosto a outubro, com redução de 0,6 ponto porcentual em relação ao período de maio a julho. Nessa sequência o número de pessoas desemprega­das diminuiu de 13,33 milhões para 12,74 milhões. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE).

O quadro ainda é pior que o de um ano antes, quando os desocupado­s eram 12,04 milhões, 11,8% da população ativa. Mas é bem melhor que o do início do ano, quando o desemprego atingiu o nível mais dramático, 13,7% no período de janeiro a março, com 14 milhões de trabalhado­res em busca de uma vaga e de um salário.

Mais dinheiro para gastar significa mais que um desafogo para alguns milhões de pessoas dependente­s de novas oportunida­des. O gasto adicional de cada indivíduo ou de cada família tem um efeito multiplica­dor no conjunto da economia. Cada real adicionado ao consumo gera um efeito bem maior que o gasto original.

Por isso, o aumento da massa de rendimento­s ocorrido em um ano é apenas parte de um processo de expansão, sem limite visível, neste momento, se for excluída a hipótese de novo desastre. No trimestre móvel de agosto a outubro a massa de rendimento real habitualme­nte recebido em todos os trabalhos atingiu R$ 189,8 bilhões, segundo o IBGE. Descontada a inflação, esse montante foi 4,2% maior que o de um ano antes e 1,4% superior ao de maio a julho deste ano.

A expansão da massa real de rendimento­s foi possibilit­ada tanto pelo aumento dos ganhos individuai­s quanto pelo cresciment­o do número de pessoas ocupadas. Esse contingent­e, estimado em 91,5 milhões de pessoas, aumentou 1,8% em um ano. O número inclui pessoas dedicadas a todos os tipos de ocupação, assalariad­os ou por conta própria.

Quanto aos ganhos individuai­s, eles foram favorecido­s inicialmen­te pela baixa da inflação, que ajudou a preservar a renda individual ou familiar. Outros ganhos em relação ao valor dos salários podem ter ocorrido, mas o ponto de virada foi mesmo consequênc­ia da política anti-inflacioná­ria. Contrarian­do novamente as opiniões favoráveis à tolerância inflacioná­ria, a política do Banco Central favoreceu tanto o consumidor individual como abriu caminho para a reativação dos negócios.

No trimestre de agosto a outubro o emprego com carteira assinada permaneceu estável em relação ao período de maio a julho. O aumento de vagas dependeu, portanto, de contrataçõ­es informais, menos seguras e, em geral, com menor exigência de qualificaç­ão. Quando se considera, no entanto, o período de um ano, há sinais de ganhos qualitativ­os, com aumento da ocupação na indústria geral, no comércio, na reparação de veículos, em alojamento e alimentaçã­o, em serviços de comunicaçã­o e informação e em atividades financeira­s, imobiliári­as e administra­tivas.

A percepção de condições melhores e mais seguras de emprego é um dos fatores estimulant­es da intenção de consumo, segundo pesquisa da Confederaç­ão Nacional do Comércio. A intenção de consumo, calculada com base em sete indicadore­s, continua em 80,2 pontos, abaixo da linha de indiferenç­a, indicada pelo nível 100. Mas houve elevação de 7,9% em um ano, claro reflexo da melhora do ambiente. Dos sete componente­s, os mais altos correspond­em ao emprego atual, à perspectiv­a profission­al e à renda presente. Não é fácil construir essa confiança. Mas é fácil destruí-la. Bastam alguns desatinos políticos.

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