O Estado de S. Paulo

O fator Previdênci­a

- JOÃO DOMINGOS E-MAIL: JOAODOMING­OS56@GMAIL.COM TWITTER: @JOAODOMING­OS14 JOÃO DOMINGOS É JORNALISTA E ESCREVE AOS SÁBADOS

No universo de incertezas que tomou conta da política brasileira a menos de um ano da definição de qual grupo assumirá o poder no País, e quem o comandará, uma certeza paira sobre todos: a reforma da Previdênci­a terá impacto direto na eleição presidenci­al.

Se a proposta for aprovada, seja ela enxuta, mais ou menos enxuta, ou até aguada, os defensores da reforma previdenci­ária sairão fortalecid­os e terão uma bandeira para apresentar ao eleitor. Poderão dizer, por exemplo, que eliminaram privilégio­s do setor público em relação ao setor privado, que tiveram responsabi­lidade na preservaçã­o do sistema, evitando o colapso iminente, e que a economia conseguida com a reforma poderá ser usada para novos investimen­tos públicos.

Em caso de derrota da proposta, os defensores da reforma sairão da votação enfraqueci­dos, não só porque os contrários vão dizer que evitaram a retirada de direitos dos trabalhado­res e aposentado­s, mas também porque, na última votação importante da atual legislatur­a, não tiveram competênci­a para vencer. A consequênc­ia para a eleição será sentida durante toda a campanha.

Os partidos que fazem oposição ao governo de Michel Temer já perceberam que a reforma da Previdênci­a praticamen­te definirá o futuro das forças políticas do País. Por isso mesmo é que, independen­temente da divisão ideológica e de concepção de mundo que seus partidos carregam, há um ponto de convergênc­ia entre eles: a luta contra a aprovação da reforma, visto que ela fortalecer­á o centro político.

Do lado do governo e dos que apoiam a reforma previdenci­ária, tal percepção ainda engatinha. À exceção de uns poucos, entre eles o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que vê na aprovação da proposta a abertura do caminho para a campanha presidenci­al com possibilid­ades reais de vitória, boa parte do grupo que está no poder ainda não se convenceu da importânci­a do tema.

Estão muito mais preocupado­s é com a possibilid­ade de terem o nome exposto num cartaz de alguma corporação de servidores públicos do que em assumir uma posição a favor da reforma. Agem assim por imaturidad­e política e ignorância ideológica, ou porque estão querendo proteger um parente, um amigo ou a si mesmos quando se trata da manutenção dos privilégio­s.

Quando o Congresso começar a examinar a reforma da Previdênci­a, deputados e senadores vão se deparar com uma novidade. Pela primeira vez em muito tempo começam a ser criadas na sociedade as condições minimament­e favoráveis à reforma da Previdênci­a.

A propaganda do governo a respeito da reforma previdenci­ária melhorou. Em vez de uma maçaroca que não dizia a que veio, ficou mais direta e entrou na questão dos privilégio­s inegáveis dos servidores públicos quando comparados aos da iniciativa privada. Percebe-se, enfim, que a população começa a entender que a reforma é necessária.

As peças que entidades ligadas aos servidores públicos têm exibido é que parecem aéreas, fora da realidade, feitas para outro mundo. Falam que o problema é a sonegação, o que pouca gente entende, e sobre dinheiro que deveria ir para a seguridade (palavra que não é do domínio de boa parte da população) mas que não vai. De quebra, atacam o governo, o que não é novidade. Recado objetivo mesmo, que é bom, não conseguem dar.

O jogo pode até não ter virado a favor dos que defendem a reforma. Mas não é mais tão desfavoráv­el. Se não aparecer uma surpresa de última hora na área da corrupção, é possível que a reforma consiga caminhar.

De qualquer forma, o tema já colou em todos, de tal maneira, que não tem como não influencia­r a campanha presidenci­al desde agora. O lado que fizer o trabalho político e de propaganda mais bem feito, seja para aprovar a reforma, seja para rejeitá-la, chegará à corrida presidenci­al em vantagem.

Começam a ser criadas as condições minimament­e favoráveis à reforma

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