O Estado de S. Paulo

Reforma tributária

Presidente americano busca votos para corte de impostos.

- Cláudia Trevisan CORRESPOND­ENTE / WASHINGTON

Líderes do Partido Republican­o anunciaram ontem que tinham votos suficiente­s para aprovar o projeto de reforma tributária que reduz de maneira drástica os impostos pagos pelas empresas e fratura a espinha dorsal do Obamacare, ao acabar com a obrigatori­edade de americanos contratare­m seguro-saúde.

A medida deixará milhões de pessoas sem cobertura nos próximos anos, mas trará uma economia de US$ 300 bilhões aos cofres públicos, na forma de subsídios que deixarão de ser pagos a pessoas de baixa renda que compram seguro-saúde. O valor será usado para compensar parte do corte de US$ 1,5 trilhão em impostos, que beneficiar­á de maneira desproporc­ional o mundo corporativ­o e os mais ricos.

Os republican­os passaram o dia de ontem fazendo mudanças de última hora no projeto, na tentativa de encontrar fontes adicionais de receita. A aprovação do texto havia se tornado incerta na noite anterior, quando o Comitê Conjunto Fiscal do Congresso estimou que a reforma tributária provocará um déficit fiscal de US$ 1 trilhão nos próximos dez anos.

A conclusão colocou em xeque o argumento do governo de que o rombo provocado pelo corte de impostos será coberto pelo aumento de arrecadaçã­o decorrente de maior ritmo de cresciment­o econômico. Na avaliação dos especialis­tas do Congresso, o cresciment­o adicional será de apenas 0,8 ponto porcentual em uma década, o que correspond­erá a uma receita de US$ 458 bilhões, insuficien­te para compensar o buraco de US$ 1,5 trilhão.

No meio da tarde, os líderes do partido anunciaram o projeto tinha apoio de 51 de seus 52 senadores, o que permitiria sua aprovação com vantagem de 1 voto. Apenas Bob Corker continuava relutante, em razão da preocupaçã­o com o impacto fiscal da medida. O projeto do Senado difere em aspectos fundamenta­is do que foi aprovado pela Câmara dos Deputados há pouco mais de duas semanas. Isso significa que os dois textos terão de ser unificados antes de seu envio para a sanção do presidente Donald Trump.

A reforma tributária é a última chance de os republican­os e da Casa Branca fecharem o ano com uma vitória legislativ­a, depois do fracasso em sucessivas tentativas de revogar o Obamacare. A revogação da obrigatori­edade de contrataçã­o de seguro-saúde acabará tendo efeito próximo, ao afetar o financiame­nto do programa. A exigência foi imposta para que pessoas saudáveis contratass­em cobertura, o que permitiu a redução de seus preços e a proibição de que seguradora­s negassem contratos ou cobrassem mais quem tem doenças preexisten­tes.

Trump vendeu o projeto de reforma tributária como o maior corte de impostos da história dos EUA, que levará a um período de expansão sem precedente­s. Mas os efeitos da redução da carga tributária sobre a atividade foi questionad­o por um fórum de 42 economista­s que participar­am de pesquisa conduzida pela Universida­de de Chicago. Entre eles, há prêmios Nobel de Economia e professore­s das mais importante­s universida­des americanas.

Na avaliação de 52% deles, o corte de tributos não aumentará de maneira substancia­l o cresciment­o do PIB na próxima década. Para 36%, o efeito é incerto. Apenas 2% concordam com a avaliação da Casa Branca.

A posição foi mais homogênea na questão do impacto fiscal da proposta. Para 88% dos economista­s, a reforma tributária aumentará o déficit e fará com que a dívida pública em relação ao PIB seja “substancia­lmente maior” do que a atual dentro de dez anos.

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NICHOLAS KAMM/AP-30/11/2017 Reforma. Trump conversa com Secretário do Interior, Ryan Zinke, em jantar de Natal com congressis­tas, em Washington

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