Cálculo de média do Enem mobiliza colégios privados
Divulgação de lista divide especialistas; quatro escolas do Ceará ficaram entre as 10 primeiras do País na média das provas objetivas
No primeiro ano em que o governo não divulgou as notas das escolas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), os colégios se movimentaram para calcular suas próprias médias. Ontem, uma empresa de consultoria educacional elaborou um ranking mostrando que quatro escolas do Ceará estavam entre as dez primeiras colocadas. Colégios de São Paulo também passaram tabular seus resultados. Os rankings são questionados por especialistas em educação por não serem o único indicador de qualidade de ensino e por serem usados pelo mercado para propaganda.
O argumento também foi o usado pelo Ministério da Educação (MEC) no início do ano quando anunciou que não divulgaria mais as médias, o que era feito desde 2006. Mas, anteontem, o Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep), órgão do MEC, publicou em seu site os dados brutos do Enem, com a nota de cada aluno. A diferença é que o Inep não calculou as médias das escolas, o que acabou sendo feito pelo mercado.
O Estado fez a tabulação depois que a lista elaborada pela consultoria Evolucional foi divulgada pela imprensa cearense. Quatro dos dez primeiros colocados no ranking são instituições da capital do Ceará (mais informações nesta pág.). Horas depois, o ranking feito pela empresa foi tirado do ar. Questionado, o Inep informou que divulgou os dados brutos como havia feito em anos anteriores.
Pela primeira vez desde que o Enem se tornou vestibular, em 2009, uma escola do Nordeste tem a maior nota do País na prova. O Colégio Farias Brito, de Fortaleza, ficou em primeiro lugar, com 743,4 em 1.000 pontos possíveis na prova objetiva. Em segundo lugar está o Colégio Objetivo Integrado, de São Paulo, com 743,2. As notas se referem ao Enem feito em 2016.
“Há uma expectativas das escolas, que ficam carentes de indicadores externos para tomar decisões, ver se as ações adotadas surtiram efeito”, disse Frederico Vilela, CEO da empresa Evolucional, que fez o ranking para escolas de Fortaleza. A startup fica em Campinas (SP) e oferece diagnósticos e intervenções a 1.157 escolas no Brasil para melhorar justamente o desempenho no Enem. Entre as dez escolas com melhor resultado, três contratam a Evolucional. Vilela diz que tirou a ranking do ar após “repensar seu posicionamento” e para “preservar a vontade do Inep”.
Público. Um dos principais críticos à decisão de não divulgar o Enem por escola é o ex-presidente do Inep Reynaldo Fernandes. Ele sustenta que o poder público tem o dever de divulgar as informações que tem. “Ao menos não estão omitindo os dados, é menos grave”, disse, sobre o fato de o Inep ter divulgado os dados brutos. Ele continua defendendo que o governo faça as tabulações. “O aluno de uma escola pública em uma determinada cidade podia comparar a nota da sua escola e da escola vizinha. Agora as informações são limitadas.”
Para a presidente executiva do Movimento Todos pela Educação, Priscila Cruz, o Enem não deve ser usado como principal indicador para medir a qualidade da escola. Ela acredita que se criou, nos últimos anos, uma obsessão com o ranking do Enem entre os colégios privados, o que fez com que famílias perdessem o interesse por outras características das instituições. “O trabalho de formação integral do aluno acaba ficando em segundo plano, como em atividades artísticas, culturais e esportivas.”
O Colégio Objetivo Integrado, que desde 2013 tinha a maior nota, também tabulou o resultado de seus alunos. José Augusto Nasser, diretor-geral do grupo Objetivo, afirma que 41 alunos fizeram o exame e a média foi 754,4 pontos na prova objetiva e 820,49, na Redação. Pela tabulação do Estado, as médias foram 743,2 pontos na objetiva e 803,2 na Redação, considerando a nota de 44 estudantes. “Nossa nota é superior.” Segundo ele, o erro pode ter sido gerado por alunos que colocaram o código do colégio, mas não estão matriculados na unidade.