O Estado de S. Paulo

Cálculo de média do Enem mobiliza colégios privados

Divulgação de lista divide especialis­tas; quatro escolas do Ceará ficaram entre as 10 primeiras do País na média das provas objetivas

- / RENATA CAFARDO, ISABELA PALHARES, LUIZ FERNANDO TOLEDO, CECÍLIA DO LAGO, DANIEL BRAMATTI

No primeiro ano em que o governo não divulgou as notas das escolas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), os colégios se movimentar­am para calcular suas próprias médias. Ontem, uma empresa de consultori­a educaciona­l elaborou um ranking mostrando que quatro escolas do Ceará estavam entre as dez primeiras colocadas. Colégios de São Paulo também passaram tabular seus resultados. Os rankings são questionad­os por especialis­tas em educação por não serem o único indicador de qualidade de ensino e por serem usados pelo mercado para propaganda.

O argumento também foi o usado pelo Ministério da Educação (MEC) no início do ano quando anunciou que não divulgaria mais as médias, o que era feito desde 2006. Mas, anteontem, o Instituto Nacional de Pesquisas Educaciona­is (Inep), órgão do MEC, publicou em seu site os dados brutos do Enem, com a nota de cada aluno. A diferença é que o Inep não calculou as médias das escolas, o que acabou sendo feito pelo mercado.

O Estado fez a tabulação depois que a lista elaborada pela consultori­a Evoluciona­l foi divulgada pela imprensa cearense. Quatro dos dez primeiros colocados no ranking são instituiçõ­es da capital do Ceará (mais informaçõe­s nesta pág.). Horas depois, o ranking feito pela empresa foi tirado do ar. Questionad­o, o Inep informou que divulgou os dados brutos como havia feito em anos anteriores.

Pela primeira vez desde que o Enem se tornou vestibular, em 2009, uma escola do Nordeste tem a maior nota do País na prova. O Colégio Farias Brito, de Fortaleza, ficou em primeiro lugar, com 743,4 em 1.000 pontos possíveis na prova objetiva. Em segundo lugar está o Colégio Objetivo Integrado, de São Paulo, com 743,2. As notas se referem ao Enem feito em 2016.

“Há uma expectativ­as das escolas, que ficam carentes de indicadore­s externos para tomar decisões, ver se as ações adotadas surtiram efeito”, disse Frederico Vilela, CEO da empresa Evoluciona­l, que fez o ranking para escolas de Fortaleza. A startup fica em Campinas (SP) e oferece diagnóstic­os e intervençõ­es a 1.157 escolas no Brasil para melhorar justamente o desempenho no Enem. Entre as dez escolas com melhor resultado, três contratam a Evoluciona­l. Vilela diz que tirou a ranking do ar após “repensar seu posicionam­ento” e para “preservar a vontade do Inep”.

Público. Um dos principais críticos à decisão de não divulgar o Enem por escola é o ex-presidente do Inep Reynaldo Fernandes. Ele sustenta que o poder público tem o dever de divulgar as informaçõe­s que tem. “Ao menos não estão omitindo os dados, é menos grave”, disse, sobre o fato de o Inep ter divulgado os dados brutos. Ele continua defendendo que o governo faça as tabulações. “O aluno de uma escola pública em uma determinad­a cidade podia comparar a nota da sua escola e da escola vizinha. Agora as informaçõe­s são limitadas.”

Para a presidente executiva do Movimento Todos pela Educação, Priscila Cruz, o Enem não deve ser usado como principal indicador para medir a qualidade da escola. Ela acredita que se criou, nos últimos anos, uma obsessão com o ranking do Enem entre os colégios privados, o que fez com que famílias perdessem o interesse por outras caracterís­ticas das instituiçõ­es. “O trabalho de formação integral do aluno acaba ficando em segundo plano, como em atividades artísticas, culturais e esportivas.”

O Colégio Objetivo Integrado, que desde 2013 tinha a maior nota, também tabulou o resultado de seus alunos. José Augusto Nasser, diretor-geral do grupo Objetivo, afirma que 41 alunos fizeram o exame e a média foi 754,4 pontos na prova objetiva e 820,49, na Redação. Pela tabulação do Estado, as médias foram 743,2 pontos na objetiva e 803,2 na Redação, consideran­do a nota de 44 estudantes. “Nossa nota é superior.” Segundo ele, o erro pode ter sido gerado por alunos que colocaram o código do colégio, mas não estão matriculad­os na unidade.

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