O Estado de S. Paulo

Atraso nas reformas afeta a dívida pública

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O coordenado­r-geral de Operações da Dívida Pública da Secretaria do Tesouro Nacional, Leandro Secunho, admitiu que outubro foi um mês mais “desafiador” para a administra­ção da dívida mobiliária da União. Houve, por dois motivos, mais resgates do que vendas de novos papéis: a indefiniçã­o do cenário externo, ou seja, da política econômica nos Estados Unidos, onde se espera uma elevação do juro básico ainda este ano; e o atraso na reforma da Previdênci­a, que é peça essencial no processo de ajuste das contas públicas.

Para não pressionar o mercado, o Tesouro resgatou R$ 89,9 bilhões, mas colocou apenas R$ 66,6 bilhões em novos papéis, dos quais R$ 9,5 bilhões em títulos corrigidos pelo dólar e pelo euro.

O estoque da dívida só ficou estável em R$ 3,43 trilhões por causa da apropriaçã­o positiva de juros no montante de R$ 25,6 bilhões. No relatório sobre a dívida distribuíd­o há alguns dias, o Tesouro destacou a troca de dívida externa onerosa por um novo título (Global 2028), que paga juros menores, tem mais liquidez e serve como referência para emissões privadas.

O resgate de títulos em reais ocorreu inclusive no Tesouro Direto, segmento que concentra aplicações de pequenos investidor­es. É sinal de que mais aplicadore­s já não dão preferênci­a aos papéis oficiais, apesar de a remuneraçã­o oferecida ser competitiv­a em relação à dos títulos privados.

Entre setembro e outubro, as instituiçõ­es financeira­s e as seguradora­s foram os investidor­es que mais venderam papéis, reduzindo suas posições, respectiva­mente, de R$ 35 bilhões e R$ 20 bilhões, enquanto fundos de investimen­to elevaram seu peso relativo. Um bom sinal é o de que os estrangeir­os aumentaram ligeiramen­te sua participaç­ão, mas sem compensar o que haviam vendido em meses anteriores. A participaç­ão dos estrangeir­os, que foi de 14,33% em dezembro de 2016, chegou a 12,78% em outubro.

O maior inimigo da administra­ção da dívida mobiliária é o tamanho do endividame­nto total da União – que em apenas três anos avançou de 52% para mais de 74% do PIB. A perspectiv­a é de se aproximar dos 83% do PIB até 2021, se a taxa real de juros continuar moderada (3% ao ano), calculam os economista­s do Bradesco. A dívida pública, em síntese, é alta. E só com reformas fiscais profundas, a começar da previdenci­ária, sua administra­ção se tornará menos desafiador­a.

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