Pelé rouba a cena
Em cadeira de rodas, Rei do Futebol é reverenciado e ganha beijo de Maradona
Pelé não falou, não discursou e não subiu ao palco. Mas, enquanto seus gols e jogadas apareciam em um telão no Palácio do Kremlin, apenas sua presença foi suficiente para transformá-lo no protagonista do sorteio dos grupos da Copa da Rússia. Até mesmo o presidente Vladimir Putin prestou homenagens ao Rei.
A participação de Pelé no sorteio ainda foi marcada por um momento histórico: pela primeira vez num evento oficial da Fifa, ele e Diego Maradona estiveram juntos. O argentino beijou o brasileiro na testa, colocando fim às desavenças do passado entre os dois. Alimentados pela disputa de quem seria o atleta mais relevante para a história do futebol, as críticas mútuas e recusas em dividir um palco os afastaram por décadas.
Ontem, a Fifa esperou todos estarem sentados e as luzes mais baixas no Kremlin para trazer Pelé à primeira fila. Empurrado em uma cadeira de rodas por causa de duas operações e dores constantes no quadril, o Rei precisou ser levantado por três pessoas para que pudesse ganhar seu lugar. Nem de longe parecia aquele que esmagava seus marcadores. O anúncio da presença de Pelé levou os 6 mil convidados a ovacioná-lo no Palácio do Kremlin. Aos 77 anos, ele agradeceu com acenos.
Ainda no discurso de abertura, o ex-jogador foi chamado de “o rei” por Gianni Infantino. “Estamos muito felizes com sua presença”, disse o presidente da Fifa. Reunir Pelé e Maradona era um dos objetivos do novo mandachuva da entidade, que quer usar a ocasião para dar uma mensagem de que as divisões no futebol terminaram. “Essa é a nova Fifa’’, declarou Maradona, um duro crítico dos cartolas e que, nos últimos meses, passou a ser um dos aliados de Infantino na luta para trazer popularidade de volta à Fifa.
Pelé havia sido convidado para estar na premiação do melhor jogador do mundo, em Londres, em outubro. Mas, por motivos de saúde, a viagem foi cancelada. Ainda assim, a primeira imagem pública de Pelé em uma cadeira de rodas despertou a preocupação de jornalistas estrangeiros e mesmo dos membros da Fifa. A seu pedido, algumas das atividades que ele teria em Moscou foram canceladas. Pelé passaria pelo tapete vermelho na entrada do Kremlin. Acabou entrando por uma porta lateral para evitar o trajeto. Enquanto todos os demais ex-jogadores foram transportados em uma minivan, Pelé ganhou um carro privativo, com seu próprio motorista. “Ele estava cansado’’, disse uma fonte da Fifa. Seus assessores, porém, garantem que não houve uma deterioração de sua saúde.
A reunião entre Pelé e Maradona deu esperanças de que o encontro possa se repetir, agora na Conmebol. A entidade, que nunca homenageou nenhum dos dois craques, quer reuni-los em um evento na América do Sul. Segundo fontes, o caminho foi aberto para uma reconciliação entre o brasileiro e o argentino.
Antes do evento, os ex-jogadores brasileiros que estiveram no sorteio, convidados pela Fifa, como Ronaldo e Cafú, fizeram questão de registrar o momento com o Rei. Tite também conversou com Pelé nos bastidores. Numa foto de “família”, entrou até Gordon Banks, o exgoleiro da Inglaterra que realizou uma das maiores defesas da história, impedindo um gol do brasileiro na Copa de 1970.
Já Vladimir Putin não hesitou em procurar Pelé e brindar com uma taça de champanhe.
Com 77 anos e um olhar cansado, Pelé fechou contrato com a CBF para comentar dois jogos da seleção brasileira.
Já Maradona causou polêmica ao criticar, ao vivo, o time da Argentina, de Messi. “É um grupo acessível para a Argentina pelas equipes que foram sorteadas. Mas a Argentina tem de melhorar, não pode jogar tão mal como vem fazendo”, afirmou.
Questionado pelo Estado, o treinador da Argentina, Jorge Sampaoli, reconheceu que Maradona tinha razão. “Isso é algo que nós também consideramos. Agora, vamos ter de usar o tempo para melhorar e poder ser competitivos no Mundial.’’
Não faltaram as brincadeiras com o argentino, vestido com um terno negro e uma gravata borboleta amarela. Gary Liniker, ex-jogador e que apresentava o sorteio, chegou a dizer, no momento de retirar as bolas, que Maradona era “bom com as mãos”, numa alusão ao seu gol contra a Inglaterra em 1986.
‘Pelé é o nosso Rei. Estamos muito felizes com sua presença. Essa é a nova Fifa’ Gianni Infantino, presidente da Fifa