O Estado de S. Paulo

Para Putin, adversário­s da seleção russa eram o que menos importava

- Jamil Chade

Os congressos do Partido Comunista ainda ecoam pelo mármore do Palácio do Kremlin. Mas, ontem, foi o futebol que concedeu a Vladimir Putin uma plataforma de propaganda. Desde sua entrada triunfal pelo teatro, às imagens de uma Rússia moderna e danças tradiciona­is, tudo foi montado para que o mundo entendesse a grandiosid­ade de um país de dimensões continenta­is e que exige ser ouvido. O evento da Fifa era a ocasião perfeita para mostrar outra imagem de um país que tem desafiado europeus e americanos em diversos continente­s e usado reuniões internacio­nais como palanques para reafirmar o interesse russo.

Desta vez, o palanque que Putin se presenteou custará US$ 10,8 bilhões. Mas tem como meta clara dar visão mais simpática do país, ainda que sempre com um tom de autoridade.

Para a elite política russa, de fato, pouco parecia importar os adversário­s de sua fraca seleção na noite de ontem. Na 68.ª colocado no ranking da Fifa, a seleção russa dificilmen­te teria se classifica­do para o Mundial de 2018 se o torneio não fosse em casa. Engana-se quem considera que o objetivo é mostrar que a Rússia é uma potência no futebol. “O que está em jogo é a imagem do país no mundo”, afirmou um diplomata, enquanto buscava uma forma de encher seu copo de champanhe.

Governador­es das diferentes províncias do país estavam mais preocupado­s em falar das vantagens de suas regiões aos convidados estrangeir­os. Em um canto mais reservado, Pelé e Maradona criavam um mundo à parte, levando oligarcas a tentar uma foto com os ídolos globais.

Como ocorreu na África do Sul e no Brasil, a Copa do Mundo passou a ter dimensão de política externa. Para os dois países do Sul, era a prova ao mundo de que economias emergentes haviam superado parte de seus desafios internos. A Rússia tem como meta mostrar que voltou ao cenário internacio­nal com a força de potência.

Enquanto soava Tchaikovsk­y pelos salões, Gianni Infantino, presidente da Fifa, passava por um dos corredores e me fazia um sorriso de satisfação pelo tratamento que estava recebendo no Kremlin. Claro, ali todos sabem que seu evento é uma poderosa arma.

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