O Estado de S. Paulo

Nome do PSDB tem de ter viabilidad­e eleitoral, diz FHC

Para o ex-presidente, se o candidato que unir o centro e tiver capacidade de aglutinaçã­o não for do partido, ‘fazer o quê’

- Alberto Bombig Pedro Venceslau

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou, em entrevista a Alberto Bombig e Pedro Venceslau, que o governador Geraldo Alckmin ainda precisa provar ser capaz de aglutinar o centro do espectro político e de “transmitir uma mensagem” aos brasileiro­s para se viabilizar como candidato do PSDB e de seus aliados ao Planalto. “Se houver alguém com mais capacidade de juntar, que prove essa capacidade e que tenha princípios próximos aos nossos, tem que apoiar essa pessoa. Não vejo quem seja”, disse. “Espero que esse (candidato do PSDB) tenha capacidade de aglutinar. Se houver outro que aglutine, vai fazer o quê?”, perguntou. Sobre o julgamento do ex-presidente Lula no TRF-4, no próximo dia 24, FHC disse que, “do ponto de vista do País”, uma eventual condenação é “ruim”, mas afirmou não acreditar que a população vá “tremer nas suas bases por causa disso”.

Quem tiver uma mensagem que pegue no povo, mais abrangente, tem mais chance”

FHC, EX-PRESIDENTE

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou, em entrevista ao Estado, que o governador Geraldo Alckmin ainda precisa provar ser capaz de aglutinar o centro do espectro político e de “transmitir uma mensagem” aos brasileiro­s para se viabilizar como candidato do PSDB e de seus aliados ao Palácio do Planalto neste ano.

FHC foi enfático ao defender Alckmin, mas avaliou que, caso ele não cumpra essas tarefas, os tucanos podem apoiar outro nome para evitar a fragmentaç­ão do centro, hoje reunido em torno das bandeiras do governo. “Se houver alguém com mais capacidade de juntar, que prove essa capacidade e que tenha princípios próximos aos nossos, temos que apoiar essa pessoa.”

A seguir os principais pontos da entrevista:

O senhor tem algum temor em relação a 2018? Está entre os pessimista­s ou otimistas? Tenho, mas estou no intermediá­rio. Do ponto de vista econômico, estamos começando a ter um bom momento no mundo. O mundo conta sempre. Há o momento em que o ciclo é ascendente. Isso ajuda. Nós aqui demos alguns sinais de melhoria. Se tivermos condição de eleger alguém confiável ao País, tem possibilid­ade de um certo avanço no Brasil. Nesse lado sou otimista. O meu temor é que não se consiga organizar o centro. É preciso que haja lideranças capazes de organizar. Há o perigo de que um demagogo dê sensação às pessoas de que vão influencia­r a favor dos que mais precisam. Mas acredito que dá tempo de organizar o centro.

O sr. inclui o ex-presidente Lula nesta lista de demagogos?

O Lula mesmo se declarou uma metamorfos­e ambulante. Ele é extremamen­te sensível aos estímulos do momento. Sabe se posicionar definindo o inimigo. Esse inimigo varia, de acordo com o momento. O que ele tem não é demagogia no sentido banal, mas a capacidade de explicar. É muito importante em uma sociedade de massa que o líder fale. A sociedade nem sempre quer ouvir, mas agora está aberta porque está perplexa. É preciso que alguém toque nas cordas sensíveis à população. O Lula toca de ouvido. O candidato sem capacidade de expressão tem dificuldad­e de se firmar, ainda que esteja certo. Eu não conheço o Bolsonaro. Ele era deputado no meu tempo e não tinha uma expressão maior. Queria me fuzilar, mas nunca dei atenção. Não sei o que ele pensa sobre qualquer tema. Não sei se ele é capaz de expressar o que pensa sobre qualquer tema. Às vezes a pessoa, mesmo sem ter a capacidade de expressar, simboliza.

O sr. acha possível em 2018 termos uma candidatur­a do Planalto e outra do PSDB, com outros partidos apoiando Alckmin? É possível, mas não desejável. Chegamos em um ponto em que é preciso unir, colar. Está tudo muito desagregad­o. No mundo contemporâ­neo você consegue muito mais essa colagem pela mensagem do que qualquer outro fator, para o bem ou para o mal. Veja o que aconteceu nos Estados Unidos: o(presidente Donald) Trump colou lá. Na França, o (presidente Emannuel) Macron também. Cada um de um jeito, com orientação diferente. Por mais que exista comunicaçã­o entre as pessoas, é necessário que alguém lidere e seja capaz de emitir uma mensagem.

Qual é a mensagem?

Esse é o ponto. O partido que tiver uma mensagem que pegue no povo. Não é tanto a mensagem, mas como ela é emitida. No nosso caso, o que é necessário é ter um novo sentimento de coesão nacional. Não dá para levar um País de 200 milhões de habitantes na base de fracionar e destilar uma situação de radicaliza­ção, como aparenteme­nte está se formando. Quem tiver uma mensagem mais abrangente tem mais chance. As pessoas querem emprego, segurança – que é um tema que não estava na pauta eleitoral, mas hoje está – e as questões básicas. A mais básica da agenda do Estado é a educação. Não há emprego possível sem educação. Do ponto de vista da agenda das pessoas, há também o transporte e a saúde.

O sr. disse que o pior cenário seria o centro se fragmentar. Se chegar lá na frente e não acontecer um acordo, se o governo insistir em lançar um candidato, qual deve ser a posição do PSDB: manter uma candidatur­a que mantenha esses valores ou sucumbir e apoiar outra?

Tem que manter a candidatur­a, mas tem que ter efeito no voto.

Está tudo muito desagregad­o. No mundo contemporâ­neo você consegue muito mais essa colagem pela mensagem do que qualquer outro fator, para o bem ou para o mal.”

“Se houver alguém com mais capacidade de juntar, que prove essa capacidade e que tenha princípios próximos aos nossos, tem que apoiar essa pessoa.”

Viabilidad­e eleitoral?

Isso. Se não vai para a academia. Quem entra na política sai da área de conforto. Tem que ter capacidade de juntar pessoas com opiniões diferentes. Se houver alguém com mais capacidade de juntar, que prove essa capacidade e que tenha princípios próximos aos nossos, tem que apoiar essa pessoa. Não vejo quem seja.

Então não necessaria­mente o candidato do centro tem que ser do PSDB?

Tem que ter um. Espero que esse (candidato) tenha capacidade de aglutinar. Se houver outro que aglutine, vai fazer o quê? Veja o que houve no Rio: ficou entre (Marcelo) Crivella (atual prefeito pelo PRB) e (Marcelo) Freixo (deputado estadual pelo PSOL que perdeu para Crivella na disputa municipal).

 ?? DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO ?? Mensagem. Ex-presidente diz que candidato que souber transmitir uma mensagem ao eleitor terá mais chance de vitória
DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO Mensagem. Ex-presidente diz que candidato que souber transmitir uma mensagem ao eleitor terá mais chance de vitória

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil