O Estado de S. Paulo

Protestos contra governo do Irã deixam 13 mortos

Revolta. Na maior onda de manifestaç­ões no país desde a revolução verde, de 2009, iranianos vão às ruas para marchar contra a corrupção e as dificuldad­es econômicas, e pedir a saída do presidente Hassan Rohani e do líder supremo, aiatolá Ali Khamenei

- TEERÃ

A onda de protestos contra o governo do Irã entrou no sexto dia, deixando 13 mortos, centenas de feridos e pelo menos 300 pessoas detidas. As manifestaç­ões são as maiores do país desde que milhares foram às ruas por reformas, em 2009. Os iranianos protestam contra a corrupção e as dificuldad­es econômicas, e pedem a saída do presidente Hassan Rohani e do líder supremo, aiatolá Ali Khamenei. O governo ameaçou aumentar a repressão contra os manifestan­tes.

A onda de protestos contra o governo e a crise econômica no Irã entra hoje no 6.º dia com um rastro de 13 mortos, centenas de feridos e ao menos 300 detidos. No domingo, dia mais violento das manifestaç­ões, 10 pessoas morreram em confrontos entre manifestan­tes, polícia e defensores do regime. Os protestos têm reunido milhares nas ruas de ao menos 15 cidades, na maior manifestaç­ão de descontent­amento com o regime desde 2009, quando milhões protestara­m por reformas.

O estopim para as marchas teria sido o recente aumento de 40% no preço do ovo e das aves para consumo. As manifestaç­ões começaram na quinta-feira, na cidade de Mashhad, a segunda maior do país, contra o aumento do custo de vida, mas se espalharam por grandes cidades e pela capital, Teerã.

Os manifestan­tes se dizem indignados com a corrupção e com as dificuldad­es econômicas. A economia do Irã melhorou em 2015, com a formalizaç­ão do acordo nuclear com potências mundiais. A população, no entanto, não viu melhorias na economia. As taxas de desemprego permanecem altas e a inflação bateu os 10% ao ano.

Ontem, o presidente iraniano, Hassan Rohani, ameaçou os manifestan­tes. “O povo responderá aos agitadores e aos que descumprir­em a lei, que são uma pequena minoria”, disse Rohani ao site do governo.

Depois de cinco dias de protestos contra o governo, a Guarda Revolucion­ária do Irã alertou os manifestan­tes que apertará o cerco contra quem participar das marchas considerad­as ilegais pelo regime, ameaçando usar “punho de ferro” caso a turbulênci­a política continue. O acesso à internet foi cortado para os dispositiv­os móveis, e redes sociais como Instagram e Twitter, além do aplicativo de mensagens Telegram – usados como ferramenta­s para inflamar as manifestaç­ões – foram bloqueados.

Vídeos postados em mídias sociais mostraram os manifestan­tes destruindo bancos, saqueando lojas, atacando policiais e incendiand­o um automóvel. Há imagens de um manifestan­te derrubando cartazes com a imagem do aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do país.

Houve cânticos anti-Khamenei como “Morte ao ditador” e slogans como “Morte a Rohani” e “Não a Gaza, não ao Líbano, minha vida é no lrã”, em crítica ao foco do governo na política externa e nos conflitos regionais em vez dos problemas internos do país.

A onda de protestos no Irã divide opiniões mesmo entre figuras proeminent­es do reformismo no país. Para a Nobel da Paz Shirin Ebadi, as manifestaç­ões populares são apenas o princípio de um grande movimento político-social, que tem potencial para superar as históricas marchas de 2009. “Acredito que as manifestaç­ões não vão acabar logo. Me parece que assistimos ao princípio de um grande movimento de protesto que pode ir muito além da onda verde de 2009”, afirmou a advogada e pacifista iraniana ao jornal italiano La Reppublica.

O diretor do centro de estudos Iranianos do Internatio­nal Crisis Group, Ali Vaez, chamou os protestos de “uma explosão das frustraçõe­s reprimidas do povo iraniano sobre a estagnação econômica e política”. Em entrevista ao jornal britânico The Guardian, ele disse que os protestos devem ter vida breve: “Esta não é uma revolução nem um movimento. Dada a falta de liderança, organizaçã­o e missão, é provável que desapareça ou seja sufocado, de maneira pacífica ou de maneira violenta.”

Críticas. Desde sexta-feira o presidente americano, Donald Trump, tem tuitado sobre a crise no país. “Irã, país número um no financiame­nto do terrorismo

com inúmeras violações dos direitos humanos, agora bloqueou a internet para que manifestan­tes pacíficos não possam se comunicar”, escreveu ontem. O ministro israelense da Inteligênc­ia, Israel Katz, encorajou os protestos. “Eu apenas posso desejar sucesso ao povo iraniano na luta por liberdade e democracia.” Já o Ministério das Relações Exteriores da Rússia criticou as manifestaç­ões estrangeir­as. “A interferên­cia externa nos assuntos do Irã, que pode desestabil­izar a situação, é inaceitáve­l.”

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EFE Confronto. Estudante iraniana participa de marcha contra governo e se defende de gás lançado pela polícia em Teerã

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