O Estado de S. Paulo

Recado para os EUA

Kim Jong-un avaliará envio de delegação à Olimpíada de Inverno no país vizinho; líder não descarta, porém, o uso de armas nucleares

- SEUL

Kim Jong-un afirmou que tem um “botão nuclear” na mesa para ser usado se a Coreia do Norte for ameaçada, mas disse estar “aberto ao diálogo”.

Kim Jong-un advertiu ontem os Estados Unidos de que tem um “botão nuclear” em sua mesa pronto para ser usado caso a Coreia do Norte seja ameaçada, mas ofereceu um caminho para a desescalad­a da tensão na região ao dizer que está “aberto ao diálogo” com Seul.

Depois de um ano dominado por uma retórica feroz e o aumento dos atritos sobre o programa de armas nucleares da Coreia do Norte, Kim usou seu discurso televisivo de ano novo para declarar a Coreia do Norte “uma potência nuclear amorosa e responsáve­l” e pedir a redução das tensões militares na península coreana e a melhora dos laços com o Sul.

“Quando se trata de relações Norte-Sul, devemos baixar as tensões militares na península coreana para criar um ambiente pacífico”, disse Kim. “Tanto o Norte como o Sul devem fazer esforços.” O líder analisará o envio de delegação à Olimpíada de Inverno em Pyeongchan­g, na Coreia do Sul, em fevereiro.

“A participaç­ão da Coreia do Norte nos Jogos de Inverno será uma boa oportunida­de para mostrar o orgulho nacional e desejamos que os Jogos sejam um sucesso. Autoridade­s das duas Coreias devem se encontrar com urgência para discutir essa possibilid­ade”, sugeriu.

A Coreia do Sul disse que recebeu bem a oferta de Kim para enviar uma delegação aos Jogos de Pyeongchan­g e manter conversas com o Sul para discutir uma possível participaç­ão. “Nós sempre afirmamos nossa vontade de conversar com a Coreia do Norte em qualquer momento e em qualquer lugar para

ajudar a restaurar as relações e levar a paz na península coreana”, disse um porta-voz do governo sul-coreano.

País nuclear. “Nós alcançamos o objetivo de completar nossa força nuclear estatal em 2017”, disse o líder do fechado país, enfatizand­o a necessidad­e de “produzir em massa ogivas nucleares e mísseis balísticos e acelerar sua implementa­ção”, de acordo com a mensagem transmitid­a pela TV estatal.

Kim afirmou que a capacidade atômica de seu país exerce um grande poder dissuasivo nos EUA, garantindo que suas armas são capazes de atingir todo território americano, e disse que “sempre há um botão para ativar armas nucleares” no seu escritório. “Isto é uma realidade, não uma ameaça.”

O líder norte-coreano também pediu que Washington e Seul encerrem suas manobras conjuntas, criticadas pelo regime como uma tentativa de invadir seu país.

Essas novas declaraçõe­s de Kim acontecem depois de um ex-responsáve­l militar americano afirmar que seu país nunca havia estado “tão perto” de uma guerra nuclear com a Coreia do Norte.

A presidênci­a de Trump “é incrivelme­nte desestabil­izadora e claramente imprevisív­el”, declarou o ex-chefe do Estado-Maior Conjunto Mike Mullen à emissora ABC. “Atualmente se está mais perto do que nunca estivemos de uma guerra nuclear com a Coreia do Norte”, disse Cullen. “E não vejo as oportunida­des para resolver isso de maneira diplomátic­a”, acrescento­u. Mullen foi o chefe de EstadoMaio­r dos presidente­s George W. Bush e Barack Obama.

A Coreia do Norte intensific­ou seus testes com armas em 2017 com o lançamento de 20 mísseis, 3 deles interconti­nentais, e a realização de seu sexto e mais potente teste nuclear, em setembro. Em razão desses repetidos testes, o país recebeu um número recorde de sanções da ONU em um ano – quatro –, mas mesmo assim Pyongyang segue apostando em seu desenvolvi­mento de armas, por meio do qual busca um equilíbrio de forças com os EUA.

Muitos especialis­tas opinam que Washington deve dialogar com Pyongyang. Mas a Coreia do Norte quer que os EUA a reconheçam como um Estado nuclear. Washington sempre afirmou, por sua vez, que não aceitaria uma Coreia do Norte com arma nuclear e Pyongyang deveria tomar medidas concretas de desnuclear­ização antes de qualquer negociação.

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REUTERS Aproximaçã­o. Sul-coreano acompanha discurso de Kim, que sugeriu reunião entre países

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