O Estado de S. Paulo

Firmeza de propósito

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Contra as mentiras que têm sido ditas sobre a reforma da Previdênci­a, as melhores armas são as informaçõe­s corretas claramente divulgadas para a população e a firmeza de propósito do governo.

A dificuldad­e do governo para obter os 308 votos na Câmara dos Deputados necessário­s à aprovação da Proposta de Emenda à Constituiç­ão (PEC) 287/2016, que trata da reforma da Previdênci­a, deve-se, em grande medida, a uma campanha de falsidades astutament­e engendrada por uma casta de privilegia­dos que, embora represente uma pequeníssi­ma parcela da população, têm grande poder de mobilizaçã­o e influência sobre o Congresso Nacional. Trata-se da elite do funcionali­smo público.

Os argumentos falaciosos de que essa elite de servidores públicos lança mão para fazer valer os seus interesses de classe – muito distantes do interesse nacional – têm forte apelo junto à opinião pública, muito mais pela apreensão generaliza­da (e infundada) que causam do que pela honestidad­e da mensagem.

Deve-se reconhecer que, aos ouvidos do cidadão comum, ressoa com muito mais força, por exemplo, uma afirmação dizendo que “os trabalhado­res irão morrer de trabalhar antes de se aposentare­m”, caso a reforma da Previdênci­a seja aprovada, do que as explicaçõe­s a respeito da regra de transição prevista na PEC 287/2016, que estabelece que a idade mínima para a aposentado­ria – 65 anos para homens e 62 anos para mulheres – só será alcançada, de fato, em 2038, daqui a duas décadas.

Sabedores do apelo que tal tipo de mensagem alarmista tem junto à opinião pública, partidos políticos de oposição ao governo propagam as mentiras ou distorcem as informaçõe­s movidos tão somente por interesses político-eleitorais, demonstran­do ter nenhum desvelo quanto à responsabi­lidade fiscal e ao futuro do País.

Devidament­e informada sobre os riscos que a não aprovação da reforma da Previdênci­a representa para a saúde financeira do Estado e, consequent­emente, para a garantia de direitos, investimen­tos públicos em áreas essenciais e manutenção de programas sociais – sem contar a sustentabi­lidade do próprio sistema previdenci­ário –, a população, que não é boba, perceberá a natureza equitativa da proposta de reforma da Previdênci­a, contra a qual se insurgem os mesmos grupos de pressão que há décadas lutam pela manutenção de seus privilégio­s sempre que o tema volta à agenda nacional.

Se abrandar a proposta de reforma da Previdênci­a ora em discussão na Câmara dos Deputados, como vem sendo pressionad­o a fazer, o governo irá beneficiar 52% dos funcionári­os públicos federais, cerca de 380 mil servidores em atividade que ingressara­m no serviço público até 2003 e contam com os benefícios de “integralid­ade” e “paridade”, ou seja, aposentam-se recebendo o último salário da carreira e recebem reajustes iguais aos dos servidores da ativa.

São privilégio­s como estes que a PEC 287/2016 tem o condão de acabar, derrubando junto com eles um muro invisível que hoje divide os brasileiro­s em duas classes de direitos: uns que estão sujeitos ao Regime Próprio de Previdênci­a Social (RPPS) e outros, a imensa maioria dos trabalhado­res, sujeitos ao Regime Geral da Previdênci­a Social (RGPS). Uma clara afronta ao princípio da isonomia consagrado pela Constituiç­ão. “A reforma da Previdênci­a, na versão que está hoje, afetará 9,5% da população brasileira, justamente as pessoas de maior renda”, disse Marcelo Caetano, secretário de Previdênci­a do Ministério da Fazenda.

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), já definiu que as discussões em plenário e a votação da PEC 287/2016 ficarão para fevereiro. Será benfazejo ao País se a parcela responsáve­l dos parlamenta­res usar este tempo para informar suas bases quanto à imperiosa necessidad­e de aprovação da reforma da Previdênci­a.

Contra as mentiras que têm sido ditas sobre a reforma da Previdênci­a, essencial para a construção de um país mais justo e financeira­mente equilibrad­o, as melhores armas são as informaçõe­s corretas claramente divulgadas para a população e a firmeza de propósito do governo, que não deve se afastar do único conteúdo de reforma capaz de produzir os resultados que o País precisa.

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