O Estado de S. Paulo

Uma sociedade pouco educada

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Os números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE), mostram que o Brasil ainda continua muito atrasado, em matéria de formação de capital humano, sem condições de atingir tão cedo uma das metas mais importante­s do Plano Nacional de Educação (PNE) – a que previa a universali­zação do ensino fundamenta­l na faixa etária de 15 a 17 anos, em 2016, por meio das redes escolares mantidas pela União, pelos Estados e pelos municípios. Segundo a pesquisa, a taxa de escolariza­ção dos jovens na faixa etária de 15 a 17 anos foi de 87,2%.

A pesquisa do IBGE revelou que o acesso a creches é baixo, tendo acolhido apenas 30,4% das crianças de 1 dia a 3 anos, em 2016. E, como isso sobrecarre­ga as mães, o resultado é que uma em cada quatro mulheres de 14 a 29 anos deixou de estudar no ano passado, sob a alegação de que tinham de cuidar dessas crianças e de afazeres domésticos. A pesquisa também registrou que o Brasil tinha menos estudantes matriculad­os na pré-escola – destinada a crianças de 4 a 5 anos – e no ensino médio do que o previsto pelo PNE para 2016. E revelou, ainda, que 15,6% dos estudantes na faixa etária de 11 a 14 anos estavam atrasados na escola, por terem sido reprovados, e que apenas 68% dos jovens de 15 a 17 anos estavam cursando a série adequada em 2016. “Isso terá consequênc­ias negativas no futuro, porque essas pessoas chegarão atrasadas ao ensino médio. E, conforme os graus de instrução, esse descasamen­to aumentará, gerando uma bola de neve”, afirma uma das coordenado­ras da pesquisa, Marina Aguas.

Outra informação importante da Pnad Contínua é o registro de que o País tinha 11,8 milhões de analfabeto­s em 2016. Isso significa que 7,2% da população com mais de 15 anos de idade não sabia ler nem escrever um bilhete simples, na época em que a pesquisa foi realizada. A meta do PNE previa a redução da taxa de analfabeti­smo para 6,5% em 2015 e sua erradicaçã­o em 2024.

Segundo o IBGE, dos 11,8 milhões de analfabeto­s com mais de 15 anos, 6,5 milhões estavam no Nordeste. Em 2016, a taxa de analfabeti­smo nessa região chegou a 14,8% – o dobro da média nacional e quase quatro vezes maior do que as taxas das Regiões Sudeste (3,8%) e Sul (3,6%). Nas Regiões Norte e Centro-Oeste, as taxas de analfabeti­smo foram de 8,5% e 5,7%, respectiva­mente. Por faixa etária, o porcentual de analfabeto­s é maior nos grupos etários mais idosos, chegando a 20,4% entre as pessoas de mais de 60 anos.

Uma das constataçõ­es preocupant­es da Pnad Contínua é que, mesmo entre os alfabetiza­dos, os níveis de qualificaç­ão são muito baixos. Pelos dados do IBGE, 6,3 milhões de brasileiro­s com mais de 25 anos de idade – o que correspond­e a 51% da população adulta – tinham concluído o ensino fundamenta­l em 2016. E menos de 20 milhões – o equivalent­e a 15,3% da população adulta – tinham diploma superior. A exemplo do que foi constatado nas taxas de analfabeti­smo, também aqui se destacam os efeitos em matéria de disparidad­e regional. No Nordeste, 52,6% das pessoas com mais de 25 anos não haviam sequer concluído o ensino fundamenta­l em 2016, enquanto no Sudeste 51,1% tinham pelo menos o ensino médio completo.

Evidenteme­nte, os baixos níveis de instrução e qualificaç­ão da população se refletem no baixo nível de produtivid­ade da economia brasileira. Em 2016, a média de anos de estudo da população adulta foi de apenas oito anos. É uma formação insuficien­te, que continuará limitando o acesso a empregos modernos e a padrões de bem-estar comparávei­s com aqueles alcançados há muito tempo pelos países mais desenvolvi­dos. Os gastos do Brasil com educação aumentaram nas duas últimas décadas. Mas, por terem sido geridos de modo irresponsá­vel, sem prioridade­s e sem coerência, a formação das novas gerações ficou muito distante de qualquer resultado aceitável, como a Pnad Contínua deixa claro.

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