O Estado de S. Paulo

Iranianos temem repressão e sofrem com a crise econômica

Altos preços, índice de desemprego recorde e medo de criticar o governo são algumas das preocupaçõ­es em Teerã

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Apesar de a capital iraniana ter sido pouco afetada pelas manifestaç­ões contra o governo iniciadas na quinta-feira em outros pontos do país, os moradores de Teerã também reclamam da situação econômica e pedem melhorias ao governo de Hassan Rohani.

“A vida é realmente muito dura, os altos preços nos deixam de mãos atadas. Meu marido está empregado, mas seu salário é muito menor do que as contas que temos que pagar no fim do mês”, diz Farzané Mirzaie, de 42 anos.

Mãe de dois filhos, ela afirma que a maioria de seus parentes trabalhava­m em uma fábrica de tapetes na cidade de Kashan, 250 km ao sul de Teerã, mas todos perderam seus empregos há pouco tempo. “O dono da fábrica já não conseguia mais comprar fios para fazer seus tapetes e despediu todo mundo. Como eles vão fazer para sobreviver?”, questiona Farzané.

Estes casos são um exemplo das dificuldad­es econômicas enfrentada­s pelo Irã, país que tenta se recuperar de muitos anos de governos ineficient­es e de sanções econômicas internacio­nais que contribuír­am para sua estagnação.

“Ele (o presidente Hassan Rohani) disse que podemos nos manifestar, mas temos medo de falar. Neste momento, por exemplo, tenho medo de criticar”, disse Sarita Mohammadi, uma professora de 35 anos.

Muitos moradores da capital disseram concordar com a ideia difundida pelo Executivo de que os protestos “são guiados do exterior”. Ainda assim, alguns dizem ter a sensação de que “os problemas econômicos vividos no dia a dia pelo povo” ajudaram a desencadea­r as manifestaç­ões, as maiores desde 2009, quando milhões foram às ruas pedir reformas políticas.

“Não acredito que as pessoas gostem de vandalizar ou de incendiar os locais, mas esta é única forma de escutarem nossa voz”, justificou Naser Jalaf, de 52 anos, funcionári­o de uma companhia petroleira.

Alguns opinam que até hoje o país não foi recompensa­do apesar de ter suportado décadas de dificuldad­es – desde a Revolução em 1979, passando pelos oito anos de guerra com o Iraque nos anos 80 e as sanções internacio­nais, que só foram parcialmen­te suspensas em 2015.

“Depois de 40 anos (de República islâmica), se deram conta de que todas essas provações eram em vão”, opina Arya Rahmani, uma enfermeira de 27 anos. “Trabalho, mas vivo com medo de ser despedida no dia seguinte.”

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REUTERS Chamas. Incêndio atinge prédio após protesto em Dorud

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