O Estado de S. Paulo

ESPORTE COLOCA BRASIL MAIS PERTO DA ÁFRICA

Camaronese­s fazem intercâmbi­o esportivo no País

- /G.Jr.

Ocamaronês Michael Tsamene Chuala ficou encantado com os prédios e as rodovias de São Paulo no trajeto do aeroporto até o hotel. Mas ele não está aqui como turista. Chuala faz parte do grupo de 20 atletas da seleção masculina de handebol que veio para um intercâmbi­o esportivo.

Embora tenha sido apenas o 13º colocado no quadro de medalhas nos Jogos do Rio e ainda conviva com problemas estruturai­s, o Brasil é uma referência para os africanos. Desde o ano passado, vieram de Camarões o time de basquete masculino e o handebol feminino. Nos anos anteriores, atletas de Ruanda e Quênia treinaram no Brasil.

A experiênci­a com as meninas do handebol deu certo: elas conseguira­m a vaga no Mundial. Após um período de treinos em Barueri, a seleção feminina de vôlei faturou, pela primeira vez, o Campeonato Africano de Nações. Os meninos do handebol se preparam para a Copa de Nações, no Gabão, em janeiro de 2018. Eles estão em São Bernardo do Campo, com apoio da prefeitura local, até 11 de janeiro. O intercâmbi­o é tão importante que recebeu até a visita do embaixador de Camarões no Brasil, Martin Mbeng.

Uma das razões da procura pelo Brasil é a infraestru­tura. Lá, as quadras poliesport­ivas são construída­s a céu aberto. São quase como o asfalto pintado. Se chove, não tem treino. As condições para os atletas também são difíceis. No ano passado, das 22 atletas que vieram para o intercâmbi­o no Brasil, 21 nunca haviam feito exame de sangue. “A maioria das pessoas trabalha e depois vai treinar”, diz Chuala, que atua em Angola.

A escolha pelo Brasil tem motivações emocionais. Os camaronese­s reclamam de discrimina­ção racial na Europa. “O que mais me encantou no Brasil foi a hospitalid­ade. Isso não acontece em todos os lugares”, diz o goleiro Fonsho Isaac Junior.

A vinda da maioria dos africanos é viabilizad­a pelo ex-jogador de vôlei Paulo Pan. Com o financiame­nto do Ministério dos Esportes, federações e Comitês Olímpicos de cada país, Pan desenvolve projetos variados. Paralelame­nte, busca apoios de parceiros brasileiro­s para melhorar as condições de treinament­o lá. Nos últimos meses, arrecadou bolas de handebol e pares de tênis para serem reutilizad­os na África. “Fazemos uma corrente do bem por meio do esporte”, diz o exatleta que já realizou mais cerca de 30 viagens à África.

Em Ruanda, o esporte tem papel importante na reconstruç­ão do país após o massacre de 800 mil pessoas da minoria tutsi por extremista­s hutus nos anos 1990. Era preciso um esporte que apontasse um caminho para as crianças. Pan fez um projeto de iniciação de vôlei. A rede no meio da quadra dificultav­a eventuais agressões físicas entre rivais, mas também inspira atletas em busca de uma saída para o futuro.

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RAFAEL ARBEX / ESTADÃO União. Atletas de handebol e o ex-atleta Paulo Pan (centro)

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