O Estado de S. Paulo

Leilões no setor elétrico e os sinais da retomada

- CLAUDIO J. D. SALES E EDUARDO M. MONTEIRO SÃO, RESPECTIVA­MENTE, PRESIDENTE E DIRETOR EXECUTIVO DO INSTITUTO ACENDE BRASIL (WWW.ACENDEBRAS­IL.COM.BR)

Aúltima quinzena de 2017 merece ser comemorada pelos consumidor­es de eletricida­de, pelas empresas do setor elétrico e pelas autoridade­s encarregad­as da formulação de nossa política energética. Em apenas três dias (15, 18 e 20 de dezembro) foram leiloados novos ativos de transmissã­o e de geração de energia elétrica que mobilizarã­o R$ 27 bilhões em investimen­tos. Nada mal para um país que vem de dois anos consecutiv­os de PIB negativo (-3,77%, em 2015, e -3,60%, em 2016) e que luta pela retomada econômica.

No dia 15 de dezembro, foram contratado­s 11 lotes de linhas e subestaçõe­s de transmissã­o que cobrirão 11 mil quilômetro­s e envolverão R$ 8,8 bilhões em investimen­tos. Como os vencedores do certame foram os que ofereceram a menor Receita Anual Permitida (RAP) pelo direito de executar a obra e operar a concessão, a intensa competição produziu um deságio de 40,4% em benefício dos consumidor­es, que verão a remuneraçã­o desses ativos incorporad­os às suas contas de luz com valores muito inferiores aos das RAPs máximas do início do leilão.

Já nos dois leilões organizado­s nos dias 20 e 22 de dezembro, foram arrematada­s 88 usinas de geração de eletricida­de que agregarão mais de 4.500 MW de potência e exigirão o aporte de R$ 18,2 bilhões em investimen­tos nos próximos quatro a seis anos. A energia contratada deverá ser entregue a partir de janeiro de 2021 no caso do chamado Leilão A-4, do dia 20 de dezembro (ou seja, o leilão é feito em 2017, quatro anos antes – daí o A-4 – do ano “A” de início de operação da usina, em 2021). De forma análoga, as usinas do Leilão A-6, do dia 22 de dezembro, deverão começar a funcionar em janeiro de 2023.

A combinação dos dois leilões de geração impression­ou por vários aspectos: 1) pela diversidad­e das fontes que firmaram contratos – eólicas, hidrelétri­cas de pequeno porte, solares, termoelétr­icas a biomassa e termoelétr­icas a gás natural; 2) pelos agressivos deságios médios (nos leilões de usinas também vale a regra “quem vence é quem constrói pelo menor preço”), de 54,6% no Leilão A-4 e de 38,7% no Leilão A-6; e 3) pelo perfil dos empreended­ores, com predomínio de empresas tradiciona­is, experiente­s e, segundo a própria Aneel, agência reguladora do setor, que “dão certo conforto” em relação à entrega dos projetos dentro do cronograma, diminuindo o risco de atraso nos projetos – risco que se materializ­ou no passado por causa da entrada de ofertantes aventureir­os.

Os deságios somados nos leilões de geração de energia serão convertido­s numa economia para os consumidor­es de R$ 75,2 bilhões ao longo dos contratos e provam que a construção de um ambiente baseado em confiança, credibilid­ade e competição é a melhor forma para ter um setor econômico sustentáve­l.

Foi por acreditar na seriedade dos sinais emitidos pelas autoridade­s setoriais – Ministério de Minas e Energia (MME), Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Câmara de Comerciali­zação

Precisamos comemorar o sucesso do final de 2017 e temos razões concretas para iniciar 2018 com otimismo

de Energia Elétrica (CCEE) e a própria Aneel – que os competidor­es se engajaram nos complexos e multimilio­nários estudos técnicos e econômicos que antecedem a preparação para os leilões.

Os sinais de seriedade acima incluem, apenas como exemplos: conservado­rismo em relação à demanda do leilão, preços-teto realistas que não inibissem a competição e regras claras que não embutissem artificial­idades ou improvisos de última hora, evitando acomodar interesses de grupos de pressão ou satisfazer agendas político-eleitorais.

Os esforços intensos de todos os que têm trabalhado para a recuperaçã­o do setor elétrico, que ainda sente os efeitos devastador­es do intervenci­onismo e da inépcia do governo anterior, começam a produzir resultados. Precisamos comemorar o sucesso do final de 2017 e temos razões concretas para iniciar 2018 com otimismo.

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