O Estado de S. Paulo

Relógio da Apple acha sua vocação na medicina

Com lançamento de nova versão com 4G, empresa abriu espaço para inovação no setor

- Daisuke Wakabayash­i THE NEW YORK TIMES /TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

Nos seus últimos meses de vida, Steve Jobs, cofundador da Apple, lutou contra o câncer e o diabetes. Como detestava tirar sangue para os exames, Jobs autorizou uma equipe de pesquisa da Apple a desenvolve­r um leitor de glicose não invasivo e com uma tecnologia que poderia, potencialm­ente, ser integrada a um relógio de pulso.

Esta era uma das muitas aplicações médicas que a Apple pretendia para o Apple Watch, lançado em 2015. Mas como muitos aparelhos com objetivos médicos acabaram por não cumprilos, gastavam muita bateria ou tinham tamanho grande, a companhia acabou direcionan­do o relógio para monitorar atividades físicas e notificaçõ­es.

Quase três anos depois, a Apple agora está encontrand­o uma finalidade médica para o aparelho.

Em setembro, a companhia anunciou que o Apple Watch não mais precisaria estar conectado a um smartphone e se tornaria um aparelho autônomo. A partir daí, várias fabricante­s desenvolve­ram acessórios médicos para o produto – como um aparelho de eletrocard­iograma para monitorar problemas cardíacos crônicos.

O que vem ocorrendo com o Apple Watch é um dos primeiros sinais do grande avanço na utilidade nos aparelhos chamados “vestíveis”. “Esse é um passo importante na evolução dos vestíveis”, afirma Tim Bajarin, presidente da Creative Strategies, empresa de pesquisa e assessoria. “O Apple Watch agora pode oferecer o tempo todo esse monitorame­nto médico.” O Apple Watch superou a concorrênc­ia no mercado de relógios inteligent­es, mas não é considerad­o um produto inovador, como foram o iPod, o iPhone e o iPad. A

companhia não divulga dados sobre as vendas do relógio, mas elas cresceram 50% em relação ao ano anterior, por três trimestres consecutiv­os.

Revolução. Uma revolução digital na área da saúde já era prevista há anos e, até agora, vimos mais entusiasmo do que avanços. Mas a esperança é de que os sistemas de inteligênc­ia artificial examinem em detalhes os enormes volumes de dados que os acessórios médicos coletarão

do Apple Watch e encontrem padrões que poderão mudar o tratamento e detecção de doenças. Isso vai permitir às pessoas um maior controle no monitorame­nto de seus problemas de saúde, em vez de depender apenas dos médicos.

Vic Gundotra, ex-vice-presidente do Google e hoje diretor executivo da AliveCor, startup que fabrica aparelhos de eletrocard­iograma portáteis, afirma que os dispositiv­os colocarão os pacientes em pé de igualdade com os médicos porque eles terão mais informaçõe­s sobre sua saúde (ler mais ao lado). “Muda o caráter da relação entre médico e paciente”, disse ele, acrescenta­ndo que “o médico não será mais o sumo sacerdote”.

A Apple também está concentrad­a nos seus próprios avanços no campo médico. No mês passado, ela anunciou um estudo de pesquisa em conjunto com a Escola de Medicina da Universida­de de Stanford para saber se os sensores do ritmo cardíaco do Apple Watch conseguiri­am detectar a atividade irregular do coração sem um eletrocard­iograma para notificar as pessoas que poderiam estar tendo uma fibrilação atrial.

A companhia examina também a possibilid­ade de incorporar um aparelho de eletrocard­iograma nos futuros modelos do relógio. O produto necessitar­á de aprovação da agência reguladora de alimentos e medicament­os nos EUA, a FDA. Separadame­nte, ela continua a pesquisa de um leitor contínuo de glicose, não invasivo. O projeto ainda levará anos, segundo especialis­tas do setor.

A atual solução adotada por muitos diabéticos também tem a ver com o Apple Watch. A Dexom, fabricante de aparelhos de medição dos níveis de açúcar no sangue, está aguardando aprovação da FDA para um monitor contínuo de glicose que deve funcionar com o relógio inteligent­e. Eles usam pequenos sensores para perfurar a pele e rastrear o nível de açúcar no sangue do paciente.

Profission­ais da área de saúde afirmam que existe o risco do excesso de informação. Um enorme volume de dados, embora útil, pode também sobrecarre­gar o médico em vez de ajudá-lo a tomar decisões. “Um aparelho vestível não é como um médico”, disse o Khaldoun Tarakji, médico da Cleveland Clinic. “Temos de ser inteligent­es quanto à maneira de usar essas novas tecnologia­s.”

 ?? STEPHEN LAM/REUTERS ?? Nem iPod, nem iPhone. Longe de ser inovação, Apple Watch permite desenvolvi­mento de nova geração de aparelhos médicos
STEPHEN LAM/REUTERS Nem iPod, nem iPhone. Longe de ser inovação, Apple Watch permite desenvolvi­mento de nova geração de aparelhos médicos
 ?? MIKE SEGAR/REUTERS - 10/4/2015 ?? Conexão. Nova versão não depende do iPhone
MIKE SEGAR/REUTERS - 10/4/2015 Conexão. Nova versão não depende do iPhone

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