O Estado de S. Paulo

Fuso horário também afeta bebês – veja o que pode ajudar

- MÔNICA NOBREGA

Eram duas horas da madrugada e Claire Cunha, 1 ano e 4 meses, ainda saracoteav­a de um lado para o outro na sala de estar de uma casa no litoral paulista. Era a única criança ainda acordada das quatro que passavam o feriado na casa de praia. Estava agitada, irritada e chorona; claramente dormiria, se pudesse. Mas, vinda há apenas dois dias de Las Vegas, onde nasceu e mora, Claire estava sofrendo um jet lag pesado. O relógio biológico da pequena ainda indicava nove horas da noite, habitualme­nte o horário em que seus pais começam a prepará-la para dormir.

Às três, a menina de fato adormeceu. Às nove e pouco da manhã seguinte estava acordada, arrastando consigo uma mãe e um pai tontos de cansaço.

Defendo e incentivo a viagem com filhos de qualquer idade. Mas há momentos em que é preciso encarar a dura realidade sem floreios. O jet lag dos bebês e das crianças pequenas é uma dessas situações. Pode provocar exaustão em toda a família e chegar mesmo a arruinar os primeiros dias da viagem.

Os bebês pequenos, de até seis meses ou um pouco mais, incrivelme­nte são os que dão menos trabalho nesse sentido. Como dormem muitas horas por dia e alternam sono e despertar de dia e à noite, nada muda muito, mesmo que viajem para o outro lado do planeta.

Perto de completar o primeiro aninho, você finalmente consegue estabelece­r algo parecido com uma rotina na vida da criança. Chega a contar com orgulho que o pequeno dorme muito bem e acorda “só” duas vezes na noite. A partir deste período, e até os três ou quatro anos, a alteração nos fusos horários pode acabar com a relativa estabilida­de que você tão duramente conquistou. Numa viagem recente, tivemos de acordar duas horas mais cedo que o habitual. Como consequênc­ia, meu filho teve fome mais cedo para almoçar, quando ainda não planejávam­os fazer uma pausa. Também tivemos de adiantar o jantar e cancelar a sessão de observação de estrelas num planetário: às oito e meia da noite ele só queria dormir. Desânimo e irritação são os sintomas mais comuns do jet lag em bebês e crianças, diz a pediatra Lucila Bizari Fernandes do Prado, presidente do departamen­to de Medicina do Sono da Sociedade Brasileira de Pediatria. Alterações no apetite também podem ocorrer. Veja dicas para amenizar os sintomas e ajudar na adaptação dos pequenos.

Acerte seu relógio. A pediatra recomenda que os adultos ajustem o relógio para o horário do destino assim que entrarem no avião. “Pode parecer besteira, mas é uma medida simples que já vai adaptando o cérebro a outro ritmo”, diz Lucila. “E como o ritmo da vida das crianças é ditado pelos pais, elas também acabam sendo influencia­das.”

Voo noturno. Dê preferênci­a a voos noturnos e tente que a criança durma o máximo possível no avião (lembre-se que as companhias aéreas têm berços pagos à parte para quem viaja com bebês). A estratégia dá mais certo se os pais também conseguem dormir durante o voo. Sol na moleira. “O sol é um regulador do relógio biológico”, diz a pediatra Lucila Bizari Fernandes do Prado. Por isso, programe passeios ao ar livre nos primeiros dias. E incentive as crianças a gastarem energia.

Horas certas. Mantenha a rotina do dia a dia da criança, adaptada ao fuso do destino. Acorde-a no horário a que está habituada se perceber que ela vai esticar o sono; mantenha refeições (leves, se não houver fome), soneca da tarde e o horário de dormir à noite.

Keep calm and continue a viajar. Acima de tudo, tenha paciência. A criança vai se adaptar, mesmo que demore uns dias (Claire entrou no ritmo na quarta noite). E encare tudo como parte da educação que você está dando ao seu filho; afinal, lidar com o jet lag – ou seja, com reações do próprio corpo – também é um aprendizad­o. Continuem a viajar. E boas férias!

ADAPTAÇÃO •••

Troca de fuso pode provocar a exaustão da criança e dos pais

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