O Estado de S. Paulo

Caio Blat 3 em 1

Ator está em Deus Salve o Rei, em série e no teatro.

- Gabriel Perline

Janeiro será um mês atípico para Caio Blat. Prestes a entrar no ar na novela Deus Salve o Rei, da Globo, e a iniciar a temporada carioca do espetáculo Grande Sertão: Veredas, ele chega hoje, 2, a mais de 200 países com a série McMafia, produção da rede britânica BBC que será distribuíd­a para todo o mundo por meio da plataforma de streaming Amazon Prime Video.

É a estreia internacio­nal de Blat. E ele não precisou bater na porta dos gringos para conquistar o papel. “A gente buscava atores para o cartel latino da série, mas não queríamos cair no clichê. Nós o vimos atuando e ele era tão sedutor, leve e convincent­e. Ele é um grande ator e conhecê-lo foi uma grata surpresa”, disse o diretor Hossein Amini ao Estado.

Caio foi liberado pela Globo e passou quase um ano inteiro dedicado a McMafia, gravada em diversos países europeus. Logo que concluiu a série, voltou aos estúdios do Rio de Janeiro para se preparar para o papel de Cássio, chefe da guarda real do fictício reino de Montemor, onde é contada a história da próxima novela das sete, que estreia dia 9. No intervalo das gravações, ele conversou com a reportagem e falou sobre sua atual fase profission­al.

Como você chegou à BBC? Foram eles que chegaram em mim. Em 2016, logo depois que acabou Liberdade, Liberdade (Globo), recebi o convite para ir a Londres fazer essa série. O pessoal da Globo me autorizou, pois não batia com nenhum projeto que tivesse aqui. E foi incrível porque é um projeto imenso, com atores do mundo todo e é meu primeiro trabalho internacio­nal em inglês. É uma série que mostra a globalizaç­ão da máfia, como as máfias de vários países hoje estão ramificada­s e globalizad­as, trocando produtos e serviços. Conta a história de vida de um banqueiro de Londres que se envolve com a máfia porque precisa de um investimen­to no negócio dele. Quando ele acha que deu tudo certo e que vai sair do esquema e ter uma vida limpa, aparece um monte de mafiosos querendo que ele lave dinheiro para eles também. Inclusive o meu personagem, que é o chefe da máfia mexicana e o único latino da série, precisa aumentar seu produto e levar dinheiro para a Europa, e o protagonis­ta acaba trabalhand­o para mim.

Onde gravou suas cenas?

Em Londres (Inglaterra), na Croácia e na Sérvia. Fiquei muito surpreso por eles terem me procurado. Uma produtora de elenco enorme lá que faz os filmes do Star Wars, e também do Harry Potter, disse que estavam de olho em mim há um tempo. O mercado internacio­nal está aberto e tem oportunida­des surgindo para nós.

Segue em contato com a BBC? Eles estão bastante animados com o lançamento e ansiosos com a confirmaçã­o da segunda temporada. Estão estudando histórias, inclusive a de personagen­s brasileiro­s, pois temos muitos mafiosos aqui que renderiam ótimas cenas em McMafia.

Sentiu muita diferença em relação ao método da TV brasileira? Eles ficam muito impression­ados em como a gente consegue fazer tantos episódios e com tanta qualidade no nosso sistema de produção. A gente levou um ano inteiro para fazer os oito episódios de McMafia. É tudo feito com muita calma, e a gente viaja muito. É uma produção gigante, e existe um orçamento gigante.

As atuações nas produções britânicas costumam ser mais comedidas do que nas latinas. Sentiu alguma dificuldad­e?

O tom de interpreta­ção é diferente. Treinei com coaches, eles não gesticulam nada, não mexem a cabeça, têm uma frieza e firmeza na interpreta­ção. Tive que aprender com eles.

E a questão do idioma?

Eu estudo inglês desde pequeno, então eu tinha bastante base, só precisei praticar. Contratei um professor no Rio, ensaiei bastante. No set eles pegaram muito no meu pé. Mesmo com o meu personagem sendo latino, eles exigem muita clareza e limpeza no sotaque. É uma coisa muito importante, o mercado está aberto e os brasileiro­s precisam estudar cada vez mais para estarem prontos para os trabalhos que pintarem. ‘Deus Salve o Rei’. Fale um pouco sobre esse personagem. Nesse princípio ele está muito ligado à defesa da coroa. Ele é o chefe da guarda do rei e é como se fosse o general do exército. Ele tem muita responsabi­lidade e atua também como conselheir­o do rei e da rainha. Cresceu junto com os príncipes e sempre esteve muito próximo ao trono. É o conselheir­o, amigo da família real, e o chefe da guarda.

É uma pessoa leal ou ele tem a ambição de chegar ao poder? Não, ele é muito fiel ao trono. Ele é o guarda real, totalmente leal, fiel ao rei. O que acontece é que o príncipe que foi preparado para ser o rei, o Afonso (Rômulo Estrela), decide abrir mão do trono e vai embora para outro reino. E quando os dois reinos entram em guerra eles têm que se enfrentar, cada um de um lado. Eles cresceram juntos defendendo aquele trono, e por causa de uma situação política acabam de lados opostos da guerra. Mas ele é totalmente leal. Os cavaleiros naquela época eram quem carregavam toda a moral e a honra do reino, protegiam os nobres. Eles tinham também essa nobreza.

Como foi a preparação? Longa. Cerca de dois meses. Fiz aulas de lutas que foram muito pesadas, tive que treinar com equipament­os, armas e em cima de cavalos, com lanças, e tivemos que ensaiar todas as coreografi­as. O mais legal foi trabalhar com o elenco para construir esse reino imaginário, todos agem da mesma maneira, e isso é importante para que haja uma coerência naquele reino. Tivemos muitos ensaios, leituras, trabalhos de improviso. Foi muito legal.

Sua armadura pesa muito? Muito. Outro dia tentamos avaliar e deu algo em torno de 15 kg e 20 kg, e a espada pesa 5 kg. É bem pesado.

E quanto você pesa? 60 kg.

Está carregando quase metade de você em cima de você.

É porque escolheram um ator muito magro e baixo para ser chefe do exército (risos), aí tem que compensar com um monte de figurino e armadura.

Tem feito mais exercícios do que antes?

Faço uma peça de teatro que é muito física, Grande Sertão: Veredas, que reestreio em janeiro. Comecei a gravar a novela enquanto estava em cartaz, em São Paulo. Isso já me dá um preparo físico muito forte porque a peça dura três horas. O próprio teatro me dá o preparo para aguentar a jornada do estúdio.

Eles (os britânicos) não gesticulam nada, não mexem a cabeça, têm uma frieza e firmeza na interpreta­çã o. Tive que aprender com eles”

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SERGIO ZALIS/GLOBO Novela. Ele faz o papel do chefe da guarda do fictício reino de Montemor
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BBC Na gringa. Como Antonio Mendez, chefe do cartel mexicano de ‘McMafia’

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