O Estado de S. Paulo

Eliane Cantanhêde

- E-MAIL: ELIANE.CANTANHEDE@ESTADAO.COM TWITTER: @ECANTANHED­E ELIANE CANTANHÊDE ESCREVE ÀS TERÇAS E SEXTAS-FEIRAS E AOS DOMINGOS

Brasileiro­s precisarão de sorte e de juízo para não errar a mão na eleição de outubro.

Aesta altura do campeonato, faltando dez meses para as eleições, o melhor a fazer é desejar boa sorte para o presidente Michel Temer. Sorte dele, sorte do País. Depois é depois, inclusive para o que vier de investigaç­ão sobre delações e vídeos de assessor. Temer, porém, não precisa só de sorte, mas de juízo, para evitar desgastes, recuos e derrotas desnecessá­rias.

Para quê dar sorte ao azar, ou o azar à sorte, cedendo no projeto de trabalho escravo para agradar à bancada ruralista no Congresso (e no governo), desagradan­do a todo o resto e sendo obrigado a ceder e voltar atrás? Depois de “apanhar” de procurador­es e juízes do trabalho, de entidades de Direitos Humanos, de órgãos internacio­nais e até de uma então secretária do governo, voltou tudo à estaca zero, de onde nunca deveria ter saído.

Para quê dar sorte ao azar, ou o azar à sorte, cedendo no indulto excessivo de Natal para agradar aos correligio­nários que temem a Lava Jato (como, aliás, ele próprio), desagradan­do a todo o resto e sofrendo um vexaminoso puxão de orelhas da procurador­a-geral Raquel Dodge e da presidente do Supremo, Cármen Lúcia?

Com esses erros crassos, Temer confunde concessões inaceitáve­is com esperteza política, privilegia a minoria que se esbalda no poder em detrimento da grande maioria que sofre as consequênc­ias e se isola definitiva­mente da opinião pública. Assim, ele vai assumindo um papel que não lhe cabe e que não ilumina sua biografia para a história: a de líder de uma onda conservado­ra que reproduz até nas universida­des uma guerra ideológica pré-1968.

O desafio de assumir não apenas a Presidênci­a, mas um País atolado em crises – ética, política, econômica – já seria gigantesco, mas se tornou ainda mais arriscado quando Temer não pensou duas vezes antes de se cercar de aliados que, mais cedo ou mais tarde, acabariam caindo na rede da Lava Jato. O terceiro andar do Planalto virou um reduto de futuros presos.

O procurador Rodrigo Janot completou a lambança com suas denúncias atabalhoad­as, que não resistiram um ano. Se Temer se cercou das pessoas erradas na hora errada, Janot também beneficiou os bandidos errados na hora errada, contra o alvo errado. Temer salvou o mandato e, assim, as duas denúncias malfeitas só serviram para derrubar de véspera a reforma da Previdênci­a. Ou seja, desservira­m ao País.

Em 2018, não há mais tempo para Temer errar, nem para a PGR errar, nem para o STF errar, até porque o ano começa em 24 de janeiro, com o julgamento do ex-presidente Lula no TRF4, continua em 19 de fevereiro, com a tentativa de votação da reforma da Previdênci­a na Câmara, e termina em 6 de abril, com a desincompa­tibilizaçã­o dos candidatos de outubro que tenham cargos no Executivo.

O principal, porém, nem é isso. É o que a eleição de 2018 reserva para o futuro. Que Temer termine bem o mandato, a economia continue se recuperand­o, os empregos voltem, a Lava Jato vá em frente! Mas o Brasil não tem o direito de errar na eleição de outubro. Depois de tudo o que se revelou dolorosame­nte nos últimos anos e explodiu em 2017, só nos falta agora errar a mão e o voto para estender ou, quem sabe, até aprofundar as crises. Que, além de Temer, os brasileiro­s tenham sorte e juízo em outubro!

Surreal. É ridículo e de mau gosto o debate sobre dar ou não o nome de Marisa Letícia a um viaduto em São Paulo. Para começar, faltam credenciai­s à ex-primeira-dama para dar nome a ruas, avenidas ou viadutos. Depois, é um desrespeit­o para com a pessoa dela e, terceiro, é constrange­dor os partidos se engalfinha­rem por esse tipo de coisa. Se alguém lucra, mesmo sem querer, é Lula. Ganha mais uma propaganda gratuita e passa de vítima.

Além de Temer no seu último ano, brasileiro­s precisam de sorte e juízo na eleição

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