Tradição à mesa
Para comer com as mãos
A expressão "comer com os olhos" é usada quando algum prato tem o poder de despertar o nosso paladar pela aparência. No caso da Etiópia, o correto deveria ser dizer “comer com as mãos”. Afinal, é assim que se come no país. O prato mais adequado para esse tipo de experiência é o injera com wat. O injera é uma espécie de panqueca com consistência mais esponjosa, que lembra o pão sírio. É feito a base de farinha e de um grão muito comum na Etiópia, o teff (rico em proteínas e minerais, vem sendo usado por corredores, já que aumentaria a performance em corridas longas). Na preparação do injera, a farinha é fermentada em água durante 3 dias e, depois, assada sobre uma placa de barro.
Com o pão aberto sobre um prato, o wat é colocado. O quê? Wat são legumes, carnes e grãos dispostos sobre a injera. O prato é feito para ser compartilhado, e o pão faz as vezes de talher – é com ele que você vai pegar o que estiver sobre o pão.
A experiência é deliciosa, mas apimentada. Por isso, uma boa ideia é pedir a cerveja local, a levíssima São Jorge. Ou, talvez, um dos vinhos do país, cada vez mais bem ranqueado entre especialistas.
Aroma de café
Famoso mundialmente, o café etíope é melhor aproveitado em uma cerimônia. Nada muito ritualístico, mas bonito de se acompanhar e saboroso ao paladar. Em algum momento, você vai se deparar com uma mulher de vestido florido, sentada no chão e dedicando-se ao preparo. O ritual dura cerca de 15 minutos. Os grãos são lavados e colocados em uma fogueira de lenha. Depois de quentes, são torrados em uma panela – o processo é controlado por uma especialista, que define o ponto certo só de olhar para os grãos. Uma vez torrado, o grão é moído com um pilão. Em seguida, o café é filtrado – e pronto.
O segredo é que todo esse processo é para pequenas quantidades. Não existe café no bule ou na garrafa térmica. Para cada pedido (ou conjunto de 4 ou 5 xícaras), o trabalho recomeça. A simpatia e o sorriso no rosto de quem prepara também faz parte da experiência.
O café é aromático e forte, e deixa uma certa borra nas xícaras. Aliás, não é difícil encontrar as xícaras tradicionais do país (sem alça) à venda. Eu mesmo trouxe três, que têm deixado até o meu café de cápsula mais gostoso (o efeito é psicológico, eu sei). Ou, se preferir, traga na mala o café em pó.