Mercado de aplicativo de carona vive consolidação
Aplicativo brasileiro conseguiu incomodar o gigante Uber; maior concorrência no País reduziu preços
Com a compra da startup brasileira 99 pela Didi Chuxing, conhecida como o ‘Uber chinês’, o mercado de transporte por aplicativos brasileiro caminha para uma consolidação. O Uber, que opera no País desde 2014, segue como líder, mas a Cabify perde espaço para a 99, que com o dinheiro e experiência da rival chinesa, torna-se uma concorrente à altura do rival norte-americano no Brasil.
“A Didi está fazendo aqui o mesmo que já fez na Europa, Ásia e Estados Unidos: investido em concorrentes do Uber”, diz Benjamin Rosenthal, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP). No passado, a companhia chinesa já investiu na 99, mas também no serviço de transporte por aplicativo indiano Ola e no norte-americano Lyft, principal concorrente do Uber nos EUA.
A aquisição da 99 pela Didi já era esperada por fontes do mercado de startups. Para Pedro Waengertner, cofundador da aceleradora Ace, é normal que um investidor faça uma compra meses depois de um investimento desse porte. “A aquisição não me surpreendeu em si, mas ela foi mais rápida do que eu imaginava”, diz.
A compra da 99 foi possível graças a mais recente rodada de investimentos da Didi, encerrada em meados de dezembro. A empresa recebeu US$ 4 bilhões de um grupo liderado pelo fundo estatal de Abu Dhabi, Mubadala Capital. Segundo a empresa, os recursos seriam usados para sua expansão global e para pesquisas em inteligência artificial. “Certamente esse dinheiro levantado foi usado na compra e será investido na 99”, comenta Rosenthal.
Em termos globais, a aquisição também se justifica. A 99 conseguiu bater de frente com o líder global no Brasil e acelerou a expansão no último ano, o que elevou sua posição na cena global de startups. Além disso, segundo o empreendedor e autor do livro 10 mil startups, Felipe Matos, a aquisição mostra a força que a China deve ter no ecossistema global nos próximos anos. “A China deixou de ser o país que só copia para virar uma potência nesse setor”, diz. “Hoje, há mais investimento de capital de risco lá do que no Vale do Silício.”
No cotidiano dos brasileiros, os efeitos serão mínimos a curto prazo. Com o tempo, contudo, espera-se que a consolidação do mercado faça a 99, sob o comando de Didi, e o Uber reduzirem a “guerra de preços”. Para os usuários, isso vai resultar em um serviço mais caro.
“A consolidação de um mercado não favorece os consumidores, que costumam pagar mais caro pelos serviços”, afirma Rosenthal.