Em busca do pódio em Tóquio
Leticia Bufoni supera preconceito, conquista títulos mundiais e é a esperança do Brasil em Tóquio, quando o esporte radical vai estrear na Olimpíada
A skatista Leticia Bufoni, de 24 anos, é esperança de medalha para o Brasil na estreia da modalidade nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2020. A atleta conta que sofreu preconceito quando se iniciou no esporte radical, aos 9 anos, e diz ter enfrentado resistência até em casa. Hoje, vivendo na Califórnia, vê crescer o interesse pelas mulheres no skate.
A skatista Leticia Bufoni vem sendo cotada por diversos especialistas para subir ao pódio quando a modalidade estrear nos Jogos Olímpicos, em Tóquio, em 2020. A atleta de 24 anos pratica a modalidade desde os nove anos e teve de superar muitas barreiras para atingir o alto nível no esporte radical.
“Nos meus primeiros anos no skate sofri muito preconceito, principalmente no início, que andava só na rua e não era boa ainda. As pessoas me chamavam de Maria João, Maria Homem, Sapatão, então sofri muito preconceito. Falavam que lugar de mulher era na cozinha, não em cima do skate. Eu era a única menina no meio de dez moleques”, conta.
Até mesmo em casa ela era vista com desconfiança, mas isso mudou com a persistência da garota. “No começo meu pai não apoiava e até chegou a cortar meu skate com uma serra Makita. Mas ele viu que eu não iria desistir e passou a me apoiar. Hoje minha família é fã do skate, pois o esporte trouxe muita felicidade para mim e minha família. Agora consigo viver do skate, moro na Califórnia, viajo o mundo, então pude realizar meus sonhos.”
O skate vai fazer sua estreia olímpica em 2020. A tendência é que esteja presente na versão street, especialidade de Leticia, e no vertical, em ambas no masculino e feminino. No street, o atleta percorre uma pista que simula os obstáculos que são encontrados nas ruas. O skatista, assim, usa um repertório de manobras para ganhar pontos. “Ninguém sabe como vai ser o lance do uniforme, do julgamento, então são alguns pontos para acertar. Mas tudo indica que será um sucesso”, diz Leticia, que conta com três medalhas de ouro nos X Games e foi quatro vezes campeã Mundial de Street Skate (2010, 2011, 2012 e 2013), entre outros feitos.
A atleta sabe que disputar uma Olimpíada é atingir o ápice na carreira. “É meu sonho estar nos Jogos de Tóquio, representar o Brasil e ganhar uma medalha olímpica. Estou fazendo de tudo para que eu chegue lá e possa competir muito bem, mas sei que ainda tem muito chão pela frente. O skate é um esporte que machuca bastante, então não tem como planejar 100%”, explica a atleta.
Desde que o skate entrou para o programa olímpico, o impacto foi muito grande no meio, principalmente para as mulheres, que contam com menos eventos internacionais que os homens. “Acredito que neste ano vai mudar bastante e devemos ter mais etapas do Mundial. Estou vendo grandes marcas de carros, bebidas, sapatos e roupas investindo no skate e montando equipes já pensando na Olimpíada. É legal ver isso. Acho que só vai melhorar e os próximos anos prometem.”
Leticia consegue viver do esporte e tem a vida que escolheu. Possui bons patrocínios, é agenciada pela Go4it, empresa que trabalha com atletas como Gabriel Medina, Thiago Silva e Daniel Alves, e costuma fazer trabalho também para revistas de moda e beleza.
“Uma skatista profissional precisa cuidar do corpo. Eu tento ser vaidosa ao máximo, também faço coisas fora do skate, como fotos para revista de fitness ou como modelo. No esporte eu fico suada, caio no chão, fico ralada, machucada, mas quando faço essas outras coisas eu estou maquiada, bonita, super diferente”, comenta.
Ela sabe que terá de continuar treinando forte para chegar bem em Tóquio. “Depois que ganhei meu primeiro Mundial, todo mundo espera eu me dar bem ou ficar no pódio. Então é mais uma pressão, mas gosto disso, pois me motiva”, avisa.