O Estado de S. Paulo

As contas difíceis de 2018

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Ogoverno tem motivos muito especiais para torcer por cresciment­o econômico de pelo menos 3% em 2018. Maior prosperida­de significar­á mais tributos.

Vencido o desafio fiscal de 2017, o governo tem motivos muito especiais para torcer por um cresciment­o econômico de pelo menos 3% em 2018 – uma hipótese apontada como altamente provável pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Não se trata apenas de torcer pelo aumento da produção, do consumo, do emprego e do bem-estar, aspirações de qualquer cidadão normal. Para o presidente e sua equipe, maior prosperida­de significar­á também mais tributos e menor sufoco na administra­ção das contas federais. Por enquanto, o Orçamento de R$ 3,57 trilhões sancionado ontem pelo presidente Michel Temer é uma coleção de desafios, anteriorme­nte consideráv­eis e agravados, no fim de ano, por problemas no Judiciário e no Legislativ­o.

O governo divulgará em algumas semanas seu balanço financeiro de 2017, com resultado provavelme­nte bem melhor – ou, mais precisamen­te, menos desastroso – que o déficit primário de R$ 159 bilhões fixado legalmente como limite. Para isso contribuír­am tanto receitas extraordin­árias como o aumento de arrecadaçã­o proporcion­ado, nos meses finais do ano, pela reativação ainda lenta da economia. A programaçã­o financeira para 2018 estabelece o mesmo limite para o déficit primário, isto é, para o saldo negativo calculado sem a despesa líquida de juros.

A missão pode parecer mais fácil, num ambiente de maior atividade. Um dos pressupost­os da lei orçamentár­ia é uma expansão de 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB).

Mas a receita, neste momento, está superestim­ada. A arrecadaçã­o prevista no Orçamento inclui recursos dependente­s de medidas ainda sem aprovação. A lista inclui, entre outros itens, o adiamento do reajuste do funcionali­smo e a nova tributação dos fundos exclusivos. O adiamento foi suspenso por decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal Ricardo Lewandowsk­i. O imposto sobre os fundos continua emperrado no Congresso. O atraso na mudança tributária impõe uma perda incontorná­vel, neste ano, por causa da regra da anualidade. A base parlamenta­r do governo obviamente se julgou desobrigad­a de aprovar o projeto respeitand­o o prazo necessário.

Sem poder contar com uma parte da receita prevista, o Executivo terá de programar um corte adicional de gastos. A redução foi há algumas semanas estimada em R$ 21,4 bilhões pela secretária do Tesouro, Ana Paula Vescovi. Contingenc­iamento de despesas no começo do ano fiscal é parte da rotina administra­tiva. É medida de segurança, passível de reversão, nos meses seguintes, se a arrecadaçã­o evoluir favoravelm­ente. Mas a redução anunciada pela secretária do Tesouro será provavelme­nte mais que uma decisão rotineira, por causa da perda irreversív­el de uma parcela da receita.

No mercado, a expectativ­a de cresciment­o do PIB já supera os 2,5% estimados na lei orçamentár­ia. A mediana das projeções do mercado, segundo pesquisa do Banco Central, chegou a 2,70% no fim de dezembro. No Ministério da Fazenda já se tem falado numa provável expansão de 3%. Se a economia de fato crescer em ritmo superior ao previsto no Orçamento, será menos difícil chegar ao fim do ano sem romper o limite fixado em lei.

Por enquanto, prevê-se uma execução orçamentár­ia muito difícil. Isso aparece na mensagem de veto à complement­ação de R$ 1,5 bilhão ao Fundo de Manutenção e Desenvolvi­mento da Educação Básica (Fundeb). No texto assinado pelo presidente há dois argumentos. O primeiro se refere à verba já destinada ao Fundo, de R$ 14 bilhões. Em seguida, a mensagem menciona “a grave situação fiscal” prevista para 2018 e medidas de contenção. “Diversos órgãos da administra­ção”, segundo o texto, “estão sendo contemplad­os com recursos mínimos para seu funcioname­nto e manutenção.”

O presidente deveria ter mandado cópia aos ministros “políticos”. Segundo alguns deles, o gasto poderia ter sido maior, no fim de ano, quando se percebeu a relativa folga em relação à meta. Não parecem ter notado um fato evidente: apesar da folga, o déficit foi enorme. Se ministros desprezam esse fato, como reclamar da chamada base governista?

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