O Estado de S. Paulo

Para detentos, agentes não controlam presídio

Em vistoria feita em Aparecida de Goiânia após mortes no motim do dia 1º, presos falam que nem dormem por medo de brigas internas

- Eliane Cantanhêde / BRASÍLIA

Detentos do Presídio de Aparecida de Goiânia, em Goiás, onde nove pessoas foram assassinad­as no dia 1.º, relataram ontem a autoridade­s do Poder Judiciário e do Ministério Público que os agentes não têm controle sobre a cadeia.

Em vistoria determinad­a pela presidente do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, juízes e promotores ouviram de presos que esse controle pertence a internos das alas B e C, as que entraram em choque e cometeram os assassinat­os. A inspeção teve a presença do presidente do Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO), desembarga­dor Gilberto Marques filho, além do procurador-geral de Justiça, Benedito Torres Neto, e do superinten­dente da Administra­ção Penitenciá­ria, coronel Edson Costa Araújo.

Três detentos da Ala C disseram desconhece­r o motivo do ataque, mas reconhecer­am disputa entre grupos. Para as autoridade­s, não admitiram a existência de facções, e falaram em descontent­amento com a superlotaç­ão do local, além da demora na análise de processos.

Outros três homens, da Ala D, confirmara­m a tensão pela superlotaç­ão e falaram de problemas recorrente­s de falta de água e energia. Sobre as mortes, narraram que “tudo começou com uma ala atacando a outra”. Disseram ainda que as duas alas “disputam o comando da cadeia e há duas facções por trás, mas não as nominaram”. Como o Estado mostrou ontem, a suspeita é de disputa entre Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV).

Os detentos disseram ainda que muitos colegas fugiram por medo ao escutarem tiros, mas “que muitos querem cumprir a pena”. “Insistiram no medo e contaram que sequer conseguem dormir, pois não fazem parte de disputas, mas temem ser atacados a qualquer momento”, descreve a inspeção.

A iniciativa terminou com a sugestão de uma força-tarefa para analisar processos de presos. O governador do Estado, Marconi Perillo (PSDB), telefonou para Cármen Lucia, para agradecer a interferên­cia dela, e reclamou tanto do Judiciário de Goiás quanto do governo federal. Segundo ele, a ministra pensa em ir pessoalmen­te ao Estado.

Morte. Em nota no site da secretaria, o coronel Edson Costa disse que os presos informaram que “a rebelião é consequênc­ia da morte de Thiago César de Souza (o Thiago Topete), em fevereiro do ano passado”. A pasta, em nota oficial, admite problemas estruturai­s e cobra “sensibilid­ade” do governo federal para obter mais recursos.

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ALINE CAETANO/TJGO Estrutura. Rebelião piorou condições de presídio; presos reclamam até de falta de água

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