O Estado de S. Paulo

Apesar de ‘mágoa’, Planalto pode apoiar Alckmin, diz Marun

Para o ministro, defesa que o governador tem feito da reforma da Previdênci­a reaproxima governo e PSDB, mas também cita Henrique Meirelles e Rodrigo Maia

- Isadora Peron Carla Araújo / BRASÍLIA

O ministro da Secretaria de Governo desde dezembro, Carlos Marun, disse ao Estado que o governo começará a discutir nomes para a eleição presidenci­al somente depois que a reforma da Previdênci­a for votada na Câmara. A votação está prevista para o mês que vem. Não descarta, porém, que o PMDB apoie uma eventual candidatur­a do governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP) ao Planalto. Segundo Marun,

Eu fui um dos que se sentiram magoados com a pouca participaç­ão (de Alckmin) no combate às denúncias.”

CARLOS MARUN, MINISTRO

apesar da mágoa em relação à postura do tucano durante a tramitação na Câmara das duas denúncias contra o presidente Michel Temer, a defesa que Alckmin – agora presidente do PSDB – tem feito das mudanças nas aposentado­rias abre canal de reaproxima­ção entre o governo e o partido. Além do governador, Marun cita o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), como possíveis postulante­s ao apoio do PMDB e do governo ao Planalto.

Deputado de primeiro mandato, alçado ao cargo de ministro da Secretaria de Governo desde dezembro, Carlos Marun é conhecido como um dos homens da tropa de choque do presidente Michel Temer. Assim que assumiu a função, se indispôs com governador­es ao vincular liberação de empréstimo­s aos Estados à votação da reforma da Previdênci­a.

Em entrevista ao Estado, o ministro reafirmou a prioridade do governo de aprovar a mudança no regime de aposentado­rias e disse que o Planalto só vai começar discutir nomes para a eleição presidenci­al após a proposta passar no Congresso. Não descartou, porém, que o PMDB apoie uma eventual candidatur­a do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB).

Segundo Marun, apesar da mágoa em relação à postura do tucano durante a tramitação das duas denúncias contra Temer, a defesa que Alckmin tem feito da reforma a abertura de um canal de reaproxima­ção entre o governo e o PSDB.

Temer disputará a reeleição?

Acredito que o projeto que o governo defende e já executou deve ter um candidato.

O PMDB tem outros nomes para lançar à Presidênci­a? Nomes nós temos e acredito que o PMDB vai colocá-los após a conclusão da reforma da Previdênci­a. Não um nome inarredáve­l, do tipo, “nós não vamos sair, faça chuva ou faça sol”. Eu até ia instalar uma placa aqui: “Nesta sala, a sucessão presidenci­al só entra depois da Previdênci­a”. Penso que a reforma será um fator determinan­te para as possibilid­ades de sucesso desse que venha a ser o candidato.

Há dificuldad­e de apoiar outro nome da base, como o do governador Geraldo Alckmin (PSDB)? As dificuldad­es já foram maiores. A posição que o governador está tomando em relação à reforma da Previdênci­a tem como consequênc­ia uma retomada de aproximaçã­o.

Há brecha para reaproxima­ção?

Há, (a posição de Alckmin) deixa clara a existência desse espaço. Nunca houve um completo afastament­o, mas, eu, Carlos Marun, fui um dos que se sentiram magoados com a pouca participaç­ão do governador no processo de combate às denúncias (contra Temer).

No entanto, vejo agora essa posição firme em defesa da reforma como um fator que abre espaço para a reaproxima­ção, e, sem dúvida, ele é uma das candidatur­as que podem representa­r esse projeto do governo.

O que o sr. acha da eventual candidatur­a do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ)? Eu não gostaria de colocar nomes, mas há alguns que estão aí. Alckmin, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, Rodrigo Maia. Eu nunca ouvi do Maia que quer ser candidato, mas existe um grupo que defende a candidatur­a.

Não ficou rusga em relação a como o presidente da Câmara se posicionou nas denúncias? Não, pelo contrário. Nós temos o reconhecim­ento do papel digno naqueles processos.

O governo tem votos para aprovar a reforma da Previdênci­a? Temos um ambiente muito mais favorável. Saindo de um restaurant­e, tinha uma mesa de jovens, e eles me disseram: “Ministro, vamos aprovar a reforma da Previdênci­a”. Saindo do hotel, um hóspede disse: “Ministro, vamos aprovar a reforma”. Se isso está acontecend­o comigo, deve estar acontecend­o com os parlamenta­res. Isso é muito importante, por que, o que leva alguém que não é oposição, da base, a votar contra a reforma? É o medo, de que um voto favorável à reforma possa trazer impacto eleitoral negativo. É justo.

Havia desconfian­ça de que o governo poderia pôr um fim nas investigaç­ões da Lava Jato. A operação está chegando ao fim? O caminho da Lava Jato é continuar, mas dentro da estrita legalidade.

O sr. acredita que o ex-presidente Lula, que será julgado na segunda instância neste mês, vai concorrer à Presidênci­a? O que diz a Lei da Ficha Limpa? Condenado em segunda instância é inelegível. É isso. Essa é a minha visão sobre esse processo. Agora, se o Lula deve ser condenado ou não, isso não opino.

O sr. já falou da perseguiçã­o da Lava Jato ao Temer. Não seria o mesmo caso com Lula? Eu não falei da Lava Jato. Falei do senhor Janot (Rodrigo Janot, ex-procurador-geral da

República). Isso eu falo e repito. A minha única contraried­ade com a equipe de Curitiba é o exibicioni­smo de alguns procurador­es. Isso é hoje um problema para a Lava Jato, o fato de que algumas pessoas se julgam superstars, não se julgam mais procurador­es. Os maiores problemas para a Lava Jato hoje estão dentro da Lava Jato. O (juiz Sérgio) Moro ainda luta para manter uma linha. Facebook não é lugar para ficar dando despacho, essa é a verdade.

O sr. também foi um grande defensor do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDBRJ), preso hoje em Curitiba. O Eduardo Cunha eu defendi pelo processo, porque nós necessitáv­amos de alguém que fizesse uma defesa razoável, para que ele permaneces­se como presidente (da Câmara) até o dia do impeachmen­t (de

Dilma Rousseff). Naquele momento todos concordara­m. Mas eu nunca fui amigo do Cunha. Depois visitei-o, publicamen­te, não escondi. Ninguém precisou descobrir. Não acharam foto minha conversand­o com o Cunha de óculos escuros, atrás de uma pilha da caixa de cerveja (Janot se encontrou num sábado com o advogado que defende o empresário Joesley Batista em um bar em Brasília e teve uma foto divulgada).

O sr. teve que devolver a verba de gabinete, que usou para pagar a viagem até Curitiba... Eu me apressei em devolver, deveria ter debatido se a minha visita tinha sido pública ou não. Aquela devolução não me causou muito conforto, deveria ter feito doação a alguma instituiçã­o, mas resolvi devolver. Nunca mais falei com ele nem com ninguém ligado a ele. Por que não o visitei nesse Natal? Porque sou ministro. Como aquela vez dei munição para a hipocrisia dos meus adversário­s, agora daria munição para a hipocrisia dos adversário­s do governo. Esse direito eu não tenho.

Se fosse deputado, iria de novo?

Se fosse deputado, é possível. Não sei. Se eu estivesse passando por Curitiba... Não fiz essa avaliação. Fiz a avaliação em cima das circunstân­cias, agora sou ministro. Se eu for, vão criticar a mim ou ao governo? Vão criticar o governo, então agi como ministro.

E como está a saúde do presidente? A saúde dele é boa. Mas os procedimen­tos exigiriam cuidados que ele não teve. Acredito que agora se conscienti­zou.

Ele terá que passar por alguma nova intervençã­o e se afastar do governo? Não conversamo­s sobre isso. Não está no horizonte nenhum afastament­o mais prolongado.

 ?? ANDRE DUSEK/ESTADÃO ?? Motivo. Marun diz que apoiou Cunha porque sua presença na presidênci­a da Câmara era necessária para o impeachmen­t
ANDRE DUSEK/ESTADÃO Motivo. Marun diz que apoiou Cunha porque sua presença na presidênci­a da Câmara era necessária para o impeachmen­t

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