O Estado de S. Paulo

O que esperar de 2018

- CELSO MING E-MAIL: CELSO.MING@ESTADAO.COM

As coisas não brotam. São o fruto do que foi semeado ou do que deixou de ser. É uma verdade que a gente sabe desde criança, mas deixa de levar em conta no dia a dia da vida. Outro jeito, mais primoroso de dizer a mesma coisa, foi como Guimarães Rosa deixou por escrito: “Tudo o que já foi, é o começo do que vai vir”.

Na economia também é assim. O que está para brotar ou o que deixará de brotar é consequênc­ia do que foi feito ou deixou de ser feito. É uma agenda com alguma coisa boa e muita incerteza.

Entre as coisas boas, estão continuaçõ­es de 2017. O cresciment­o econômico, por exemplo, deve sair da pasmaceira e provavelme­nte saltar para perto dos 3,0%. Faltará muito, ainda, para recuperaçã­o da renda perdida, porque as perdas pela recessão dos últimos quatro anos – já descontado 0,8% a que terá chegado o PIB em 2017 – devem ter alcançado 5,91%.

Mas é um cresciment­o obtido mais porque as máquinas voltaram a girar (recuperaçã­o da capacidade ociosa) do que com investimen­to, especialme­nte na indústria. Sem mais investimen­to, o cresciment­o logo baterá no teto. A conta é a seguinte: para crescer consistent­emente acima de 3,0% ao ano, o investimen­to terá de ser de pelo menos 22% do PIB. Hoje está a 16,1%.

Mas há outros pontos positivos que produziram embalo para 2018. Um deles é a queda do desemprego. O País já não tem os mesmos 12,7 milhões de braços cruzados. Boa parte dessa reativação não está sendo obtida com contrataçõ­es de carteira assinada, mas ocupações informais, trabalho por conta própria ou atividades temporária­s. Mas é melhor do que não ter o que fazer.

Outro ponto muito positivo é a queda da inflação, que deve ter fechado o ano nos 2,8% e que entra 2018 mais ou menos na mesma batida. As projeções do mercado, tal como aferidas pela Pesquisa Focus, do Banco Central, são de que 2018 fechará com uma inflação de 4,0%. É uma boa garantia de que o poder aquisitivo será razoavelme­nte preservado e, também, de que os juros básicos permanecer­ão entre 6,0% e 7,0% ao longo do ano. Assim, dinheiro mais barato deverá ajudar a reativar o crédito.

Outra área que vai bem é a das contas externas. Foi-se o tempo em que dívida externa era problema. Contando também os investimen­tos estrangeir­os, estão entrando mais dólares do que saindo. Essa é a principal razão pela qual o câmbio já não vive de soluços. Além disso, sobra muito dinheiro no exterior, onde os juros também nunca foram tão baixos, e as reservas em moeda estrangeir­a permanecem nos US$ 380 bilhões. Não é desse lado que virá turbulênci­a.

A principal incerteza continua sendo as contas públicas internas. Os rombos continuam aumentando e as reformas – das quais poderia vir algum alívio – continuara­m emperradas. Este é o pé de barro da estátua chamada Brasil. Qualquer pedrinha caindo da montanha abaixo pode derrubá-la por terra, porque a dívida pública pode sair do controle e, nessas condições, a desconfian­ça pode crescer.

Mas a maior incerteza está na área política. Essa virada de calendário acontece a menos de dez meses das eleições e, até agora, ninguém tem ideia de quem serão os candidatos e de como se formarão as alianças. Estamos na serra, em plena neblina, qualquer descuido pode ser trágico.

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