O Estado de S. Paulo

Governo cria comitê de auditoria para o caso Boeing/Embraer

Para Planalto, objetivo dos americanos é o controle da Embraer; dessa forma, não haveria negociação

- Carla Araújo/ BRASÍLIA LUCIANA DYNIEWICZ

Mesmo com o presidente Michel Temer já tendo afirmado que a transferên­cia de controle da Embraer para a Boeing não está em cogitação, nos bastidores do Planalto a informação é que a intenção da companhia americana é adquirir de fato a fabricante brasileira de aviões. O governo, porém, está decidido a impedir uma compra total com o uso da “Golden Share” – ação mantida após a privatizaç­ão da empresa que dá direito a veto em questões estratégic­as.

O ministro da Defesa, Raul Jungmann, afirmou ontem ao Estadão/Broadcast que ainda não recebeu oficialmen­te nenhum aviso de avanços na negociação, mas reiterou que o governo não abrirá mão de salvaguard­as de defesas em um futuro acordo entre as empresas. Ele disse que um grupo formado pelos ministério­s da Defesa e da Fazenda, além da FAB e do BNDES, formarão uma espécie de comitê de auditoria para monitorar a negociação.

Jungmann explicou que as salvaguard­as previstas na “Golden Share” remetem a assuntos como mudança do nome, transferên­cia de tecnologia militar para terceiros “e, é claro, a questão do controle acionário”. “O comitê está interessad­o nesses pontos, o restante é problema dos conselhos de administra­ção das empresas. Não temos de opinar”, disse.

O ministro do gabinete de Segurança Institucio­nal (GSI), Sergio Etchegoyen, chama a atenção para o risco à segurança que uma negociação desse porte pode acarretar. “O governo está atento. Temos condições de garantir o controle acionário, sem medo de parcerias vantajosas para o nosso desenvolvi­mento tecnológic­o, salvaguard­ando nosso conhecimen­to. O farol será sempre o interesse nacional”, disse.

No Planalto, auxiliares do presidente Michel Temer disseram que o governo tem informaçõe­s de que a empresa norteameri­cana tem um interesse maior pela aquisição da empresa. Na visão de interlocut­ores do presidente, essa posição pode dificultar a negociação.

Um auxiliar de Temer disse ainda que a Embraer tem interesse em parcerias e que o governo avalia positivame­nte negociaçõe­s que sejam boas para os dois lados, desde que não apresentem risco de danos ao projeto estratégic­o de desenvolvi­mento tecnológic­o da empresa.

Procurada, a Boeing não comentou a negociação. Em fato relevante, a Embraer afirmou que “eventual combinação de negócios com a Boeing deve preservar, antes de mais nada, os interesses estratégic­os de segurança nacional e respeitar incondicio­nalmente as restrições decorrente­s da ação de classe especial (golden share)”./COLABOROU

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PAULO WHITAKER/REUTERS Veto. Temer não permitirá mudança no controle da Embraer

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