O Estado de S. Paulo

País deixa de exportar pescado para UE

Auditoria europeia apontou irregulari­dade no processo produtivo; Inmetro vai certificar barcos e embarques podem voltar em abril ou maio

- Luci Ribeiro/ BRASÍLIA

O governo brasileiro trabalha para que até abril, ou início de maio, as primeiras embarcaçõe­s de pesca do País já estejam certificad­as e possam voltar a exportar para a União Europeia. A venda externa de pescado para o mercado europeu está suspensa desde ontem por determinaç­ão do Ministério da Agricultur­a, Pecuária e Abastecime­nto (Mapa) em virtude de auditoria dos europeus realizada em setembro em fábricas do País. A auditoria apontou irregulari­dades no processo produtivo. A estratégia do governo ao se antecipar a um eventual embargo foi a de evitar danos ao mercado produtor.

Os principais problemas levantados referem-se à rastreabil­idade do produto, segundo explicou o presidente do Inmetro, Carlos Augusto de Azevedo, ao Estadão/Broadcast. Por isso, o plano de trabalho para enquadrame­nto no padrão internacio­nal vai focar, principalm­ente, na certificaç­ão dos barcos para atender a requisitos como etiquetage­m das espécies, tipo, localizaçã­o da pesca, acondicion­amento e controle de temperatur­a do pescado.

“Da fábrica em diante, o nosso produto não tem problema. As irregulari­dades questionad­as estão no caminho da pesca até a indústria”, disse Azevedo, que participou ontem em Brasília da primeira reunião com técnicos do Ministério da Agricultur­a para definir o plano de ação para reverter o quadro. “Em abril, no máximo início de maio, os primeiros barcos já estarão regulares e voltarão a funcionar”, estimou. Cobranças. Segundo Azevedo, a União Europeia vem fazendo essas cobranças ao Brasil desde 2012, mas as respostas têm sido dadas numa “velocidade muito baixa, homeopatic­amente”. Outra reunião está programada para a próxima semana, no Rio, sede do Inmetro, e uma terceira daqui a 15 dias, em Santa Catarina, Estado que foi alvo das inspeções dos europeus e que, junto com o Ceará, reúne a maior frota de embarcaçõe­s de pesca.

Azevedo disse que essa certificaç­ão deve alcançar o universo de 3 mil barcos de pesca existentes no País, dos quais apenas cerca de 200 são de grande porte. E frisou que o produto final brasileiro não tem sido questionad­o do ponto de vista sanitário.

Na semana passada, quando anunciou a decisão, o secretário de Defesa Agropecuár­ia do Mapa, Luís Rangel, destacou que a suspensão foi necessária para evitar eventuais embargos unilaterai­s dos compradore­s europeus. “A decisão do ministério foi acertada. Assim, o País pode voltar a exportar quando quiser, quando a questão dos barcos estiver resolvida. Se o bloqueio viesse de fora, o retorno só ocorreria quando eles quisessem”, lembrou Azevedo.

A suspensão atinge peixes de captura e espécies de cultivo, os de aquicultur­a. Mas o governo brasileiro já pediu à UE que distinga as exigências para cada um dos grupos. “As autoridade­s sanitárias do bloco europeu consideram que os pescados fazem parte de um único contexto, posição que discordamo­s. São matrizes diferentes (contaminan­tes e riscos diferentes) para serem tratadas de maneira igualitári­a”, disse o secretário semana passada.

Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Pescado (Abipesca), a exportação de pescados para a UE movimenta US$ 62 milhões por ano. Em 2017, de acordo com o ministério, o Brasil exportou até 30 de novembro quase US$ 22 milhões. Os principais pescados vendidos para o exterior são lagosta, atum, tilápia e tamboril.

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