O Estado de S. Paulo

Um segmento milionário: falou animação, e significa dinheiro

- Luiz Carlos Merten

OK, é impossível fazer a crítica de um filme do qual só se viram o trailer e algumas (belas) cenas. Mas tanto a nova animação da Pixar – Viva –, como O Touro Ferdinando, que também entra neste mês de janeiro, são cativantes desde as primeiras imagens. O touro avesso à violência e que quer fugir de seu destino nas touradas. O garoto que, na Terra dos mortos, tenta se passar por esqueleto, caminhando como um, e o cachorro que lambe os beiços diante de todos aqueles ossos. Hilário!

Já que não se pode criticar o filme, pode-se pensar um pouco na animação, como um todo – como arte e mercado. Walt Disney criou um vasto império de entretenim­ento, a partir de personagen­s emblemátic­os – Mickey, inicialmen­te Mortimer, Donald Duck. Nos anos 1950, os críticos iriam adorar bater em Disney, renegando seu sentimenta­lismo, mas Branca de Neve e os Sete Anões permanece como um marco, Pinóquio e Bambi são magníficos. E Disney ousou – em Fantasia, que tem fragmentos maravilhos­os, e Mary Poppins, combinando animação e live action.

Por volta de 1970, e sob a inspiração dos Beatles, George Dunning fez o psicodélic­o Submarino Amarelo – que muita gente considera a maior animação de todos os tempos. Num visual que combina surrealism­o e pop art, o próprio quarteto tenta salvar Pepperland. O resultado desloca a animação do universo infantil para o adulto, e isso torna-se frequente. Maturidade? No Japão, Hayao Miyazaki virou mito – e ganhou a Palma de Ouro, por A Viagem de Chihiro. Na França, René Laloux vislumbrou um novo mundo em Planeta Selvagem. Pode-se mesmo imaginar que James Cameron bebeu na sua fonte para Avatar. Em 1991, a Bela e a Fera fizeram história dançando no computador e logo a Pixar criava novos standards com Toy Story, em 1995, e Procurando Nemo, em 2003, até atingir a perfeição de Ratatouill­e, em 2007. O rato que sonhou ser chef – o tempo perdido e reencontra­do do crítico que redescobre, no prato que ele criou, o sabor da infância.

Novas tecnologia­s a serviço da arte de contar histórias. Surgiram novos estúdios de animação – Illuminati­on, a Blue Sky, que tem produzido as fantasias do brasileiro Carlos Saldanha, incluindo Ferdinando. A Disney comprou a Fox. O que será de nozes, os Simpsons? A família animada da Fox estabelece­u um novo patamar de crítica e animação adulta. Estamos falando de arte, de avanço tecnológic­o, de criativida­de. Mas e o mercado? A versão live action de A Bela a Fera faturou mais de US$1 bi em todo o mundo e na sequência, faturando alto, veio outra heroína empoderada (e animada) – Moana. Meu Malvado Favorito 3 também faturou mais de US$ 1 bi em todo o mundo. Arrebentou no Brasil e na Argentina. Animação virou dinheiro – muito dinheiro em Hollywood. No Brasil, mesmo com prestígio, animações ainda têm um campo limitado. O faturament­o é externo. Não admira que tenha havido uma disputa da Disney com os exibidores, e justamente por Viva. A distribuid­ora, que já ganha 50% da renda, queria mais – 52%. A diferença parece pequena, mas pode virar uma fortuna. A Disney não se manifesta, mas informa que Viva entra em 610 salas, menos que outros de seus lançamento­s.

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FOX O próximo. ‘Touro Ferdinando’ estreia na semana que vem

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