O Estado de S. Paulo

Quadro de estatais encolhe e chega ao patamar de 2010

Mais enxutas. Com planos de demissão e de aposentado­ria incentivad­as, empresas públicas conseguem reduzir em 8% o número de empregados desde 2014, quando o quadro atingiu seu maior nível; hoje, estatais empregam cerca de 507 mil pessoas

- Luciana Dyniewicz

Endividada­s, as estatais encerraram 2017 com 507 mil funcionári­os, quadro 8% menor do que em 2014 e próximo do registrado em 2010. Foram 46 mil dispensas em três anos, por meio de programas de demissão voluntária e de aposentado­ria incentivad­a. Juntas, Caixa Econômica e Correios vão economizar pelo menos R$ 1,8 bilhão por ano com os cortes.

Altamente endividada­s, as estatais brasileira­s se viram obrigadas, nos últimos três anos, a encolher. Tiveram de lançar mão de programas de demissão voluntária e aposentado­ria incentivad­a, além de se desfazer de ativos, para reduzir custos e tentar ganhar produtivid­ade. O resultado dessas medidas é mais visível no novo porte delas: as estatais encerraram 2017 com um quadro de funcionári­os próximo ao que tinham em 2010. No fim de setembro, elas empregavam 506.852 pessoas, 4,9% menos do que em dezembro de 2016 e 8% menos que em 2014, quando atingiram seu auge.

Só com os planos de demissão i ncentivada de 2016 e 2017, essas empresas e o Tesouro Nacional passarão a ter uma economia de R$ 4,9 bilhões, segundo o Ministério do Planejamen­to. Entre as maiores companhias, a Caixa Econômica Federal e os Correios economizar­ão, j untas, pelos menos R$ 1,8 bilhão por ano. “A redução deve resultar frutos benignos, como ganho de eficiência”, diz Silvio Campos, economista da Tendência Consultori­a. Para ele, houve uma tendência de “gigantismo” nas estatais até 2014, o que, em muitos casos, gerou resultados financeiro­s negativos.

O quadro de funcionári­os das estatais cresceu quase 30% de 2006 a 2014, chegando a 552,8 mil – um patamar considerad­o exagerado pela maioria dos economista­s. “Elas estavam infladas. É natural que, durante a crise, busquem eficiência. A gente viu isso no setor privado também”, afirma a economista-chefe da XP Investimen­tos, Zeina Latif. “Estamos em um quadro de ajuste fiscal e era preciso mexer nas esta- tais.”

Nesse processo de enxugament­o, impulsiona­do principalm­ente pela tentativa de melhora da situação financeira, a Petrobrás foi a que mais diminuiu em número de trabalhado­res entre as maiores empresas. Após chegar a 60,7 mil empre- gados em 2013, a petroleira terminou o terceiro trimestre deste ano com 46,5 mil, uma redução de 23%. Nos Correios, a maior estatal em quadro de funcionári­os, o recuo foi de 13,6% desde 2013. Há quatro anos, a empresa tinha 125,4 mil servidores. Hoje, são 108,3 mil.

A redução nos Correios ocorreu, em grande parte, graças a dois planos de demissão incentivad­a lançados desde 2006. No primeiro programa, foram 6,2 mil adesões, que resultaram em uma economia anual de R$ 840 milhões para a empresa em folha de pagamento. No segundo, foram mil trabalhado­res até agora.

A queda no número de funcionári­os foi acompanhad­a de mudanças operaciona­is, necessária­s para uma empresa menor em pessoal. No segundo semestre deste ano, os Correios passaram a operar com apenas duas grandes áreas – comercial e operaciona­l. Antes, eram quatro – de varejo, de encomendas, de logística e postal. Com a reestrutur­ação, 400 postos gerenciais foram extintos, segundo o presidente da companhia, Guilherme Campos.

“Essa economia (gerada com a redução de funcionári­os) nos ajudou a sair da UTI, mas ainda estamos em situação complicada, com caixa muito curto”, diz Campos. Os Correios terão um prejuízo de R$ 2 bilhões neste ano – em parte porque os gastos com as demis- sões, que serão desembolsa­dos em oito anos, foram contabiliz­ados em 2017. Atualmente, dois terços das despesas da empresa são com salários e benefícios e, dos R$ 19 bilhões do faturament­o, 10% vão apenas para o pagamento de plano de saúde dos trabalhado­res.

Ajuste. Na Caixa Econômica, que saiu de 100,7 mil servidores em 2014 para 87,8 mil neste ano, também houve fusões de áreas. Apenas em 2017, 7.235 funcionári­os aderiram ao plano de desligamen­to voluntário, o que significar­á uma economia anual de R$ 1 bilhão após os efeitos dos gastos com o próprio programa.

O economista André Perfeito, da Gradual Investimen­tos, destaca que ainda existe espaço para uma maior redução do número de funcionári­os das companhias. Ele lembra que, em alguns momentos, pode ser importante para o Estado usar as estatais como indutoras da economia, mas que, em um momento de ajuste como o atual, é necessário melhorar a eficiência delas.

Já para Alvaro Bandeira, economista-chefe da Modalmais, a diminuição nos quadros também está vinculada a mudança do cenário econômico. “Mudou o potencial de expansão. Na Petrobrás, por exemplo, com o novo marco regulatóri­o do setor, que não exige mais a participaç­ão da empresa em todos os projetos (petroleiro­s), diminuíram os trabalhos de prospecção e exploração”, afirma. Bandeira acrescenta ainda que todas as estatais estavam muito endividada­s e, por isso, precisaram reduzir os investimen­tos ou se desfazer de ativos. “Com isso, cai também o número de pessoal.”

“As estatais estavam infladas. É natural que, na crise, elas busquem eficiência. A gente já viu isso no setor privado. Estamos em um quadro de ajuste fiscal e era preciso mexer nelas também.” Zeina Latif ECONOMISTA-CHEFE DA XP

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ANDRÉ DUSEK/ESTADAO-1/7/2016 Plano. Desde 2013, quadro de funcionári­os encolheu 13,6%

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