O Estado de S. Paulo

Brasileiro preso está bem, diz Venezuela

Venezuela. Jonatan Moisés Diniz foi detido em dezembro sob a acusação de ser um agente da CIA e tramar contra governo de Nicolás Maduro; segundo irmão de catarinens­e, ele está no Helicoide, sede do serviço de inteligênc­ia da Venezuela, em Caracas

- Rodrigo Turrer Rodrigo Cavalheiro / COLABORARA­M DAIENE CARDOSO E CARLA ARAÚJO

Governo venezuelan­o afirma que Jonatan Moisés Diniz está bem. Juliano Diniz, irmão do brasileiro, disse que Jonatan foi confundido com americano.

O brasileiro Jonatan Moisés Diniz foi detido na Venezuela após ter sido confundido com um cidadão americano – ele vive nos EUA e portava uma carteira de motorista do país – e está preso na sede do serviço secreto venezuelan­o, segundo informaçõe­s recebidas por sua família. O chavismo afirmou na manhã de ontem ao Ministério de Relações Exteriores do Brasil que o estado de saúde do brasileiro é bom.

Segundo Juliano Diniz, irmão do brasileiro, as autoridade­s venezuelan­as confirmara­m que Diniz está na sede do Serviço Bolivarian­o de Inteligênc­ia Nacional (Sebin), na prisão Helicoide, um antigo projeto de shopping transforma­do em presídio, em Caracas.

“Já sabemos que ele está nessa Helicoide, e disseram ao Itamaraty que ele está bem, mas ainda não tivemos contato direto com ele”, disse ao Estado Juliano Diniz. A prisão, destino de dezena de presos políticos encarcerad­os sem o devido processo legal, é conhecida como “A Tumba”.

Segundo Juliano Diniz, a situação de seu irmão se agravou em razão de um mal-entendido. Como morava nos Estados Unidos e portava apenas a carteira de motorista do Estado onde morava, a Califórnia, as autoridade­s venezuelan­as acreditara­m que ele era cidadão americano.

Segundo o Estado apurou, a informação sobre um equívoco na identifica­ção da nacionalid­ade de Diniz chegou ao Itamaraty, mas foi interpreta­da como uma justificat­iva fraca para uma prisão sem razões sólidas. Opositores acreditam que o regime teria interesse na detenção de americanos para usá-los como moeda de troca na dispu- ta diplomátic­a com os EUA. A Justiça americana condenou recentemen­te dois sobrinhos de Nicolás Maduro por tráfico de 800 quilos de cocaína. Eles fica- ram conhecidos como “narcossobr­inhos”.

De acordo com Juliano Diniz, a ONG Foro Penal Venezolano ajudou no processo de ob- ter informaçõe­s sobre o irmão. “Nós tivemos de procurar um advogado local para fazer todo o processo, porque o regime é muito fechado”, disse. “Eles aju- daram a fazer a intermedia­ção e a descobrir o que aconteceu de fato com ele.”

Crise diplomátic­a. A informação sobre a localizaçã­o de Diniz foi dada um dia depois de o Itamaraty emitir uma nota cobrando detalhes do governo da Venezuela sobre o paradeiro do brasileiro e apelando para convenções internacio­nais das quais os dois países são signatário­s.

O Itamaraty disse que recebeu informaçõe­s de que o brasileiro está detido em um edifício de segurança na Venezuela – mas sem dar detalhes se era uma prisão ou uma delegacia. A diplomacia brasileira esperava que o Consulado do Brasil em Caracas obtivesse autorizaçã­o para visitar Diniz.

Caso o chavismo autorizass­e a visita, a tendência é de que ela fosse feita por um diplomata. A família do brasileiro não tinha informaçõe­s sobre seu paradeiro desde o dia 26 de dezembro – sua detenção foi anunciada pelo número dois do chavismo, o deputado Diosdado Cabello, durante transmissã­o na emissora estatal venezuelan­a, no dia 27.

Segundo autoridade­s venezuelan­as, ele foi preso por tramar contra o governo de Nicolás Maduro. A família, no entanto, garante que ele trabalhava numa ONG destinada a ações humanitári­as.

O Itamaraty precisou reforçar os pedidos de informaçõe­s sobre o brasileiro, usando para isso a Polícia Federal, a Agência Brasileira de Inteligênc­ia (Abin) e o Ministério da Defesa para conseguir notícias do brasileiro. Em nota divulgada na quinta-feira, o Brasil solicitava à Venezuela que respondess­e “aos diversos pedidos de informação sobre a localizaçã­o de nosso compatriot­a e sua situação jurídica, bem como de visita consular, cursados nos termos das convenções internacio­nais e de acordo com as obrigações assumidas pelos dois países à luz do direito internacio­nal”.

Diniz mora na Califórnia, nos EUA, mas viajou pelo menos quatro vezes para a Venezuela nos últimos dois anos. Em suas contas pessoais no Facebook e no Instagram, há fotos dele distribuin­do roupas e alimentos e promovendo campanhas para arrecadar dinheiro.

Diniz chegou a viver em Caracas, a capital venezuelan­a, por dois meses, no início de 2017, quando se envolveu mais profundame­nte com a crise na Venezuela. Procurado ontem para comentar as acusações contra Diniz, o governo da Venezuela não se manifestou.

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CRISTÓBAL ALVARADO MINIC/GETTY IMAGES Helicoide. Sede do serviço de inteligênc­ia venezuelan­o em Caracas, local em que brasileiro está detido, segundo parentes
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JONATAN DINIZ/FACEBOOK Alvo. Diniz: brasileiro com documentos americanos

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