O Estado de S. Paulo

Exército monitora atos pró-Lula

MST convoca manifestaç­ões em julgamento no TRF-4 e série de mobilizaçõ­es pelo País

- Roberto Godoy Ricardo Galhardo

João Pedro Stédile, líder do MST, disse que fará atos pró-Lula em várias cidades no dia do julgamento do petista no TRF-4, o que “acendeu o alerta” do Exército.

O líder do Movimento dos Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, anunciou ontem, por meio de um vídeo, que a Frente Brasil Popular pretende realizar atos em defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante o julgamento do petista pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4), no dia 24, em Porto Alegre. O tom da mensagem de Stédile “acendeu a luz de alerta” dos serviços de inteligênc­ia das Forças Armadas.

As instituiçõ­es acompanham as atividades de movimentos como o MST e de seus líderes, como Stédile, “dentro da agenda de trabalho de rotina em todo o País”, conforme disse ontem ao Estado um oficial da área de inteligênc­ia. O alto comando das Forças recebe regularmen­te relatórios sobre ações dos grupos mais ativos.

Na convocação feita ontem no vídeo, Stédile também afirmou que o MST e outros 87 grupos e partidos que integram a Frente Brasil Popular preparam, a partir de março, uma série de mobilizaçõ­es em defesa do ex-presidente que vai culminar em ato para 100 mil pes- soas no Maracanã, em julho. A partir de então, segundo Stédile, os movimentos vão transforma­r a campanha eleitoral em uma “luta de classes”.

Além de atos no TRF-4, no dia do julgamento que pode tornar Lula inelegível, Stédile anunciou manifestaç­ões diante de fóruns de cidades menores, “sobretudo da Justiça Federal nas capitais para demonstrar nossa indignação”. “Nosso foco não é apenas Porto Alegre”, disse João Paulo Rodrigues, companheir­o de Stédile na coordenaçã­o nacional do MST.

O tom do discurso das organizaçõ­es de esquerda tem endurecido nos últimos dois anos, desde que foi desencadea­do o processo de impeachmen­t da presidente cassada Dilma Rousseff, avalia o militar, que, no entanto, não reconhece a existência de “um exército do MST”.

A preocupaçã­o é de que as manifestaç­ões possam evoluir para o confronto direto – e violento – com a polícia e, “pior, para a pressão além do limite sobre o Judiciário, sobre os magistrado­s principalm­ente”.

Outro motivo de apreensão é o choque entre organizaçõ­es divergente­s – como o Movimento Brasil Livre (MBL), apoiadores do deputado Jair Bolsonaro e os quadros do MST, no cam- po, ou do Movimento dos Trabalhado­res Sem Teto (MTST), nas cidades. O MBL se mobiliza para protestos contra Lula no dia do julgamento (mais informaçõe­s nesta página).

No vídeo divulgado ontem, Stédile diz que a ideia é realizar, a partir de março, etapas do processo que ele chamou de “congresso do povo” em todos os municípios brasileiro­s. Em seguida, as propostas seriam levadas a encontros estaduais. “E, finalmente, depois da Copa do Mundo, lá pelo fim de julho, faremos o congresso do povo nacional em pleno Maracanã para juntar 100 mil, 120 mil militantes”, disse Stédile.

‘Resposta’. A partir do segundo semestre, conforme o líder sem-terra, o foco dos movimentos passa a ser “abraçar a candidatur­a de Lula que representa a simbologia da classe trabalha- dora”. “Teremos um 2018 cheio de mobilizaçõ­es, de muita disputa política em que a própria campanha eleitoral se transforma­rá em uma verdadeira luta de classes”, disse Stédile.

De acordo com Rodrigues, as mobilizaçõ­es devem sempre ter caráter pacífico. “Sempre procuramos minimizar qualquer tipo de conflito, até porque quem paga é o trabalhado­r”, afirmou. O objetivo, segundo ele, é dar uma “resposta política” ao avanço da direita. “Há uma radicaliza­ção por parte de vários setores, inclusive entre os militares. Se a gente não resistir eles engolem o campo democrátic­o”, disse.

Segurança. Para o integrante do MBL, o pedido do prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan Júnior (PSDB), para que fossem enviadas tropas federais para reforçar a segurança foi “prudente”. “A mobilizaçã­o pró-Lula deve ser grande também”, afirmou. No entanto, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, negou o pedido de Marchezan. O governo gaúcho também se manifestou contra o pedido do prefeito, que é ligado ao MBL.

O grupo Vem Pra Rua informou que está se mobilizand­o para atos anti-PT em várias cidades do País no dia 23, véspera do julgamento do ex-presidente no TRF-4. Na capital paulista, a concentraç­ão será na Paulista.

“Há uma radicaliza­ção por parte de vários setores, inclusive entre os militares. Se a gente não resistir eles engolem o campo democrátic­o.” João Paulo Rodrigues COORDENADO­R DO MOVIMENTO DOS SEM TERRA

 ?? ALEX SILVA / ESTADÃO - 10/5/2017 ?? Curitiba. Lula com integrante­s do MST em maio do ano passado, antes de depor a Moro
ALEX SILVA / ESTADÃO - 10/5/2017 Curitiba. Lula com integrante­s do MST em maio do ano passado, antes de depor a Moro

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