O Estado de S. Paulo

A reforma do serviço de ônibus

-

Aproposta do governo do prefeito João Doria para a tão esperada reforma do serviço de ônibus da capital – constante do edital para a licitação que vai escolher as novas empresas concession­árias, aberto a consulta pública – tem dupla importânci­a para os paulistano­s. Além de encerrar um longo período em que esse setor viveu sob contratos de emergência – desde 2013 –, com sérios prejuízos para a cidade, a reforma contém medidas que podem ao mesmo tempo melhorar e baratear o transporte de ônibus.

Entre as mudanças desejadas pela Prefeitura, que devem começar a ser implementa­das no final de 2018, está a reformulaç­ão das linhas, sempre apontada por especialis­tas na matéria como uma das mais importante­s para tornar o sistema mais racional e eficiente. Segundo o secretário municipal de Mobilidade e Transporte­s, Sérgio Avelleda, o objetivo é diminuir a sobreposiç­ão de linhas com trajetos idênticos. Isso aumenta desnecessa­riamente o custo do sistema, sem nenhuma vantagem para o usuário. Tanto para evitar a sobreposiç­ão como para atualizar os trajetos, de acordo com as necessidad­es da população, no total serão alterados os percursos de 43% das linhas. As 1.336 linhas atuais serão reduzidas para 1.187.

Também aumentarão de 22 para 29 as empresas concessio- nárias, que operarão três sistemas complement­ares: distribuid­or, com ônibus pequenos circulando dentro dos bairros; de articulaçã­o regional, com ônibus médios ligando bairros aos grandes corredores; e estrutural, com ônibus grandes, que utilizam avenidas e corredores para chegar ao centro. Espera-se que eles substituam com vantagem os dois sistemas atuais (local e estrutural).

Outra medida que, a exemplo da que reduz a quantidade de linhas, também deve dar maior agilidade ao serviço – ao contrário do que parece – é a diminuição do número de ônibus, que passará de 13.603 para 12.667. Mesmo assim, o número de viagens/dia deve aumentar de 9.330.040 para 10.272.674 e a cobertura do serviço (em quilômetro­s), de 4.680 km para 5.100 km, por causa de melhor planejamen­to. É que a previsão de compra pelas concession­árias de ônibus novos e maiores – a média de lugares por veículo deve subir de 76 para 90 – permitirá atender um número maior de passageiro­s, como explica Avelleda.

A Prefeitura estima que a reforma fará o custo do sistema baixar de R$ 8 bilhões/ano para R$ 7,8 bilhões/ano. Nisso terá papel relevante também a mudança no cálculo do pagamento às concession­árias. Uma questão delicada, tendo em vista a capacidade de pressão das empresas, que impediu até agora mudanças nesse ponto. Hoje, o cálculo de quan- to recebe uma empresa de ônibus é feito com base nos custos fixos para operar uma linha com número determinad­o de partidas por hora. Esse valor é então dividido pelo número estimado de passageiro­s.

O que se deseja agora é que, feito aquele cálculo baseado nos custos, as empresas só tenham remuneraçã­o completa se pesquisas de satisfação mostrarem aprovação da linha e se os seus índices de qualidade atingirem o grau de excelência. Isso inclui, por exemplo, redução de acidentes. Ou seja, a qualidade do serviço prestado aos usuários terá de ser levada em conta pelas concession­árias, sob pena de ver sua remuneraçã­o reduzida.

A reforma pretendida pelo prefeito tem elementos capazes de garantir melhora num serviço de grande importânci­a para milhões dep aulistanos. Em breves e saberás e Doria conseguirá passar das boas ideias e das boas intenções aos fatos, conseguind­o êxito num terreno em que seus antecessor­es malograram. Para isso terá de vencer provável resistênci­a das empresas que dominam o setor há muito tempo eque, por falta de concorrent­es, serão certamente as grandes vencedoras da licitação.

É oques e espera dele, porque o serviço de ônibus ainda terá por longo tempo papel relevante no sistema de transporte coletivo da capital, tendo em vista o atraso na construção do metrô.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil