O Estado de S. Paulo

A trincheira do PT

- JOÃO DOMINGOS E-MAIL: JOAODOMING­OS56@GMAIL.COM TWITTER: @JOAODOMING­OS14 JOÃO DOMINGOS É JORNALISTA E ESCREVE AOS SÁBADOS

Ojulgament­o do recurso contra sua condenação a 9 anos e 6 meses, no caso do triplex do Guarujá, transformo­u-se no principal instrument­o de Lula para radicaliza­r a luta política a seu favor. Caso consiga entupir Porto Alegre de gente a gritar que eleição sem Lula é fraude e golpe, uma forma de pressionar o Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4) a aceitar o recurso, revogar a prisão e evitar que seja enquadrado na Lei da Ficha Limpa, o ex-presidente vai dizer que abortou a segunda fase de um golpe iniciado em 2016, com o im- peachment de Dilma Rousseff. E que agora, livre para seguir em frente com sua candidatur­a, vai procurar o empresaria­do para mostrar que não é nenhum bicho-papão.

Se, apesar de toda a pressão, os desembarga­dores do TRF-4 confirmare­m a sentença do juiz Sérgio Moro, Lula vai recorrer ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) com pedido de efeito suspensivo da sentença, para que não vire ficha-suja, e voltará seu discurso contra o Ministério Público, a Polícia Federal, o Judiciário e os meios de comunicaçã­o. Alegará que todos eles estão envolvidos num conluio político, algo macabro, para impedir que seja candidato, discurso que vem sendo repetido há cerca de dois anos.

Portanto, independen­temente da decisão do TRF-4, Lula manterá sua candidatur­a à Presidênci­a. E, no período em que aguardar a definição do recurso no STJ, talvez um pouco à frente um outro recurso, agora no STF, o ex-presidente continuará em campanha. Será o tempo suficiente para que possa medir a força que tem no eleitorado a partir de sua estratégia de se fazer de vítima.

Porque o discurso de vítima já roda o mundo em forma de abaixo-assinado em versões em português, inglês, espanhol, francês e árabe. Com o título “Eleição sem Lula é fraude”, o manifesto afirma que “a tentativa de marcar em tempo recorde para o dia 24 de janeiro a data do julgamento em segunda instância do processo de Lula nada tem de legalidade”.

“Trata-se de um puro ato de perseguiçã­o da liderança política mais popular do País. O recurso de recorrer ao expediente espúrio de intervir no processo eleitoral sucede porque o golpe do impeachmen­t de Dilma não gerou um regime político de estabilida­de conservado­ra por longos anos. O plano estratégic­o em curso, depois de afastar Dilma da Presidênci­a da República, retira os direitos dos trabalhado­res, ameaça a previdênci­a pública, privatiza a Petrobrás, a Eletrobras e os bancos públicos, além de abandonar a política externa ativa e altiva.”

O documento é uma plataforma de campanha política. Segue dizendo que “a reforma trabalhist­a e o teto de gastos não atraíram os investimen­tos externos prometidos, que poderiam sustentar a campanha em 2018 de um governo alinhado ao neoliberal­ismo. Diante da impopulari­dade, esses setores não conseguira­m construir, até o momento, uma candidatur­a viável à Presidênci­a”.

Em seguida, o manifesto diz que Lula cresce nas pesquisas em todos os cenários de primeiro e segundo turno e até pode ganhar em primeiro turno. “O cenário de vitória consagrado­ra de Lula significar­ia o fracasso do golpe, possibilit­aria a abertura de um novo ciclo político.”

Por isso, prossegue o abaixo-assinado, na trama de impedir a candidatur­a de Lula vale tudo: “Condenação no tribunal de Porto Alegre, instituiçã­o do semiparlam­entarismo e até adiar as eleições. Nenhuma das ações elencadas está fora de cogitação. Compõem o arsenal de maldades de forças políticas que não prezam a democracia”.

Para os autores do manifesto, “a questão da perseguiçã­o a Lula não diz respeito somente ao PT e à esquerda, mas a todos os cidadãos brasileiro­s”.

Como se vê, um discurso político de campanha bem completo e bem ao sabor de Lula e do PT.

Lula alegará que é vítima de um conluio, algo macabro, para impedir que seja candidato

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