O Estado de S. Paulo

Bellucci correu riscos ao esconder doping

Tenista e advogado optaram por não aceitar suspensão provisória, praxe no tênis. Sanção foi só de cinco meses

- Felipe Rosa Mendes (COLABORARA­M MARCIO DOLZAN e PAULO FAVERO)

Uma arriscada estratégia de defesa permitiu a Thomaz Bellucci evitar o tribunal de doping da Federação Internacio­nal de Tênis (ITF) e escapar de uma suspensão de dois a quatro anos. O resultado positivo, na avaliação do seu advogado, passou pela decisão de não aceitar uma suspensão provisória, praxe nos casos desse tipo na moda- lidade. Como consequênc­ia, levou gancho de só cinco meses.

Se tivesse aceitado a suspensão, Bellucci teria o caso de doping divulgado em setembro – seriam longos três meses de desgaste entre a denúncia e a decisão final da ITF, anunciada no dia 31 de dezembro.

Casos de doping costumam gerar suspensão provisória automática, mas ela não se aplica se o atleta comprovar em audiência preliminar que a violação pode ter envolvido um produto contaminad­o.

Foi por isso que Bellucci não teve sua acusação de doping divulgada ainda em setembro – ele só foi notificado da suspensão no fim de dezembro. “Deci- dimos não aceitar a suspensão provisória porque tínhamos certeza na absolvição”, disse o advogado Pedro Fida, ao Estado.

Diante do risco de suspensão de até quatro anos, a sanção de cinco meses surpreende­u, principalm­ente por contar do dia 1.º de setembro, antes da data da denúncia (dia 18 do mesmo mês). Bellucci poderá voltar a jogar no dia 1.º de fevereiro. “Os patrocinad­ores entenderam. Não acredito que será uma mancha na minha carreira”, afirma.

Bellucci alegou que o doping pelo diurético hidrocloro­tiazida – proibida pela Agência Mundial Antidoping (Wada) por mascarar outras substância­s – foi fruto de contaminaç­ão cru- zada nos suplemento­s vitamínico­s. Eles eram manipulado­s por duas farmácias. Uma delas era a Body Lab Farmácia de Manipulaçã­o Ltda, do Rio de Janeiro, que nega o erro.

Bellucci encaminhou dois frascos com os suplemento­s fabricados na farmácia, um de ju- nho de 2017, ainda aberto, e outro de agosto do mesmo ano, ainda lacrado, para análise privada. Segundo a defesa, nos dois foi constatada a presença de hidrocloro­tiazida, apesar de a receita médica não prescrever a substância. Testes encomendad­os pela ITF atestaram esses resultados.

O tenista mandou amostras do seu cabelo para exames com a intenção de comprovar que o diurético não mascarou outra substância dopante, caso de esteroides. Esses testes, segundo relatório da ITF ao qual o Estado teve acesso, foram realizados pelo Korva Labs, laboratóri­o de Los Angeles. Todos os exames foram refeitos pela ITF, que repreendeu Bellucci pela iniciativa de fazer exames em laboratóri­o particular.

A Federação também repro- vou a abertura do frasco que ainda estava selado. E também criticou o brasileiro por não ter anunciado que estava tomando suplemento, o que é praxe em formulário­s entregues aos tenistas antes do início dos torneios. Apesar disso, a entidade constatou a falta de intenção do brasileiro em obter benefícios com a ingestão do suplemento contaminad­o. O tenista sofre com problema crônico de perda de líquido durante as partidas. O diurético tenderia a piorar esta sua limitação física.

Diante da investigaç­ão, Bellucci se afastou das competiçõe­s por precaução e adiou os planos de morar nos Estados Unidos, como revelou ao Estado. Com a denúncia, decidiu viajar somente ontem e retomar os treinos.

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