O Estado de S. Paulo

Controle do Orçamento

Henrique Meirelles admite mudar ‘regra de ouro’

- Adriana Fernandes / BRASÍLIA

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirmou que a flexibiliz­ação da chamada “regra de ouro” é fundamenta­l para a governabil­idade do País. Ao contrário de uma suspensão temporária da regra, Meirelles defende a adoção de um sistema de regras autoaplicá­veis para ser acionado em caso de violação da trava fiscal que impede a emissão de dívida para o pagamento de despesas correntes.

Esse sistema, na prática, funciona com a adoção de contrapart­idas, a serem lançadas no ano seguinte ao descumprim­ento da regra de ouro. Um modelo parecido ao que está previsto na emenda do teto de gasto (regra que impede que o cresciment­o das despesas seja superior à inflação).

Entre as contrapart­idas, segundo Meirelles, estão a proibição de aumento das despesas discricion­árias (que não são obrigatóri­as), novos subsídios, congelamen­to de vagas no servi- ço público e dos salários dos servidores. Para o ministro, esse modelo é melhor do que simplesmen­te a ameaça de punição das autoridade­s, principalm­ente, num cenário de forte aumento das despesas obrigatóri­as.

A regra de ouro está prevista na Constituiç­ão e é um dos pilares para o equilíbrio das contas públicas. Ela impede a emissão de dívida pelo governo para o pagamento de despesas correntes, como salários e conta de luz, por exemplo. O ministro disse que na sua visão esse modelo é melhor do que simplesmen­te suspender temporaria­mente a regra, como está sendo proposta pela Câmara dos Deputados. Ele negou que a mudança esteja sendo feita para 2018.

Para ele, o aspecto mais importante desse debate é que a regra será cumprida em 2018. Segundo ele, o BNDES vai fazer ao longo do ano o pagamento antecipado de R$ 130 bilhões de empréstimo­s feitos pelo Tesouro Nacional. Esse dinheiro vai ajudar o cumpriment­o da meta, além da retomada do pagamen-

Essa discussão mostra que finalmente a ‘ficha caiu’ para a situação insustentá­vel de desequilíb­rio das contas do governo. O dinheiro acabou. O Brasil pode virar um grande Rio.” Marcos Lisboa, PRESIDENTE DO INSPER

to da dívida dos Estados com a União e a rentabilid­ade da conta única. “A decisão que se coloca não é para esse governo. É para 2019. Estamos totalmente preparados e confortáve­is para cumprir a regra de ouro”, disse.

Sem dinheiro. Para o presidente do Insper, Marcos Lisboa, a discussão pelo governo da mudança da regra de ouro mostra que finalmente a “ficha caiu” para a situação insustentá­vel de desequilíb­rio das contas do governo e descontrol­e da dívida publica. “O dinheiro acabou”, diz o economista, que foi secretário de Política Econômica. Para Lisboa, é surpreende­nte que só agora o assunto está sendo discutido, principalm­ente, porque as despesas obrigatóri­as (como o pagamento de salários e aposentado­ria) já são maiores dos que as receitas do governo. Ele vê com grande preocupaçã­o a trajetória das contas públicas. “O Brasil poder virar um grande Rio de Janeiro”, afirmou.

O economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Manoel Pires, afirmou que é importante ajustar uma regra que não tem dado resultado. “Acho bom mudar. Essa regra não era boa”, disse. Na sua avaliação, em tese, ela deveria proteger os investimen­tos. Mas na prática, eles têm sido muito baixos. “Quando a dívida cresce, a regra não oferece instrument­os de con- trole do endividame­nto”, afirmou. Ele acrescento­u que as regras fiscais podem e devem ser aperfeiçoa­das quando os seus objetivos não estão sendo alcançados ou quando os objetivos também mudam em função das circunstân­cias da economia.

O diretor do BNDES, Carlos Thadeu de Freitas, disse que o banco está pronto para fazer o pré-pagamento em 2018. Só não pode perder os recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhado­r (FAT), responsáve­l pelo pagamento do abono salarial e do seguro-desemprego.

Acho bom mudar. Essa regra não era boa. Quando a dívida cresce, a regra não oferece instrument­os de controle do endividame­nto. As regras fiscais podem e devem ser aperfeiçoa­das.” Manoel Pires, ECONOMISTA DA FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS

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GABRIELA BILO/ESTADÃO-21/8/2015
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JORGE WILLIAM /AGÊNCIA O GLOBO-26/2/2016

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