O Estado de S. Paulo

Minoritári­os querem R$ 20 bi da Petrobrás

Investidor­es brasileiro­s adicionara­m à ação que movem contra a estatal pedido para que acordo no País seja igual ao fechado nos Estados Unidos

- Karin Sato

Os acionistas minoritári­os da Petrobrás que entraram com ação contra a empresa no Brasil acreditam ter direito a uma indenizaçã­o de R$ 20 bilhões por conta das perdas provocadas pela corrupção na estatal. Segundo a Associação dos Investidor­es Minoritári­os (Aidmin), o número leva em conta o acordo de US$ 3 bilhões (cerca de R$ 9,5 bilhões) fechado pela Petrobrás esta semana com acionistas nos Estados Unidos.

“O cálculo considera que cerca de dois terços dos papéis da Petrobrás foram adquiridos na B3 (a bolsa de São Paulo) e apenas um terço na Nyse (a bolsa de Nova York). Um acordo nas mesmas bases no Brasil resulta- ria em aproximada­mente R$ 20 bilhões”, afirmou Aurélio Valporto, vice-presidente da Aidmin. A entidade afirmou ao Estadão/Broadcast que não está aberta à arbitragem, mecanismo para solucionar conflitos previsto no estatuto da petroleira.

Após a Petrobrás divulgar o acordo bilionário para encerrar ações contra a empresa nos EUA por conta da corrupção na estatal, a Aidmin adicionou um novo pedido na ação judicial movida pelos minoritári­os brasileiro­s contra a empresa: de que o dever de reparação dos danos aos investidor­es brasileiro­s seja baseado nos mesmos parâmetros adotados nos EUA. O argumento utilizado para o pedido é o princípio da isonomia.

“Não há dúvidas de que esse novo acordo celebrado torna ainda mais grave a já insustentá­vel situação dos acionistas e investidor­es brasileiro­s da Petrobrás, que permanecem sem a devida reparação de seus prejuízos e agora são forçados a observar, mais uma vez de mãos atadas, a destinação de fatia robusta do patrimônio da sociedade ao território estrangeir­o, para tapar o rombo sofrido pelos investidor­es apenas dos Estados Unidos”, diz o documento enviado à 6.ª Vara Cível do Foro Central da Comarca de São Paulo.

“Se não estender o acordo aos acionistas que compraram as ações no Brasil, a Petrobrás demonstrar­á que não tem nenhuma consideraç­ão por seus acionistas, apenas teme a Justiça americana”, afirmou Valporto. “A B3, como autorregul­adora, tem de se impor, exigindo o mes- mo acordo para os que compraram ações em seu pregão. O presidente da Petrobrás, Pedro Parente, como é também presidente do conselho de administra- ção da B3, deveria ser o primeiro a propor a extensão do acordo aos acionistas que compraram suas ações na B3.”

Porém, na opinião de uma fonte a par do assunto, os minoritári­os devem enfrentar algumas dificuldad­es no debate jurídico pela frente. Isso porque a legislação americana é diferente da brasileira, na qual a tendência é de que a responsabi­lização recaia sobre pessoas físicas, e não sobre as jurídicas.

Ainda de acordo com essa fonte, nos EUA chegou-se a um acordo porque havia probabilid­ade de que o julgamento coubesse a um júri sem formação técnica. Este não é o caso brasileiro, no qual um juiz de direito deve ser o responsáve­l pela tomada de decisões.

Procurada, a Petrobrás não se manifestou e apenas reiterou o conteúdo do fato relevante divulgado na quarta-feira. Nele, a estatal escreveu que o acordo fechado nos EUA não constitui reconhecim­ento de culpa ou de prática de atos irregulare­s pela empresa.

“Não há dúvidas de que esse novo acordo celebrado torna ainda mais grave a já insustentá­vel situação dos acionistas brasileiro­s.” Aurélio Valporto VICE-PRESIDENTE DA AIDMIN

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SPENCER PLATT/AFP Fatia. Na Nyse, foi negociado apenas 1/3 das ações da estatal
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