O Estado de S. Paulo

FLÁVIA ‘ABRE O LEQUE’ NA LUTA POR DIREITOS

- GABRIEL MANZANO

Eleita representa­nte do Brasil na Comissão Interameri­cana de Direitos Humanos, a paulistana Flávia Piovesan ainda não se mudou para Washington mas já está com a mão na massa. Recentemen­te viajou a Frankfurt, onde participou de um encontro no Max Planck Institute sobre sistemas regionais de direitos humanos. Depois, participou de uma agenda da própria CIDH nos EUA.

Enquanto “corre atrás’ de uma casa onde morar e de uma escola para as crianças na capital americana, a ex-secretária nacional dos Direitos Humanos de Temer achou tempo para rever e atualizar três livros sobre sua área – um deles na 17.ª edição – que serão relançados pela editora Saraiva.

“Nem defini a data para mudar”, disse à coluna, “mas a cabeça já está nas rotinas da nova tarefa”. De que rotinas ela fala? A primeira, definir seu papel em um dos três eixos da instituiçã­o – a proteção de pessoas ameaçadas, as relatorias temáticas e as relatorias por países. Seu destino provável – a ser confirmado na distribuiç­ão de relatorias, que acontece em fevereiro – é ficar com a Colômbia. Leia-se: tornar-se a relatora dos assuntos desse país e cuidar da herança das Farc.

A missão seguinte é prática. “Trata-se de ajudar os ex-militantes da antiga guerrilha a se encaixarem na sociedade, a superar seu deslocamen­to, orientá-los nas negociaçõe­s jurídicas para tornar sua longa vida na selva um passado a ser esquecido”, resume a ex-secretária do governo Temer.

É preciso deixar clara a diferença entre a tarefa da comissão e a das instituiçõ­es políticas e diplomátic­as. “Não cuidamos de assuntos de governo, ou dos de natureza policial. A nossa missão é proteger pessoas, servir como um pronto-socorro para quem, muitas vezes, está em perigo de vida.” A função da CIDH, insiste a nova integrante, “é salvar vidas, contribuir para tirar do mapa os regimes ditatoriai­s, fortalecer por todo lado o Estado de Direito”.

Flávia quer “carregar” para dentro dessa operação as universida­des – um aprendizad­o recente que a deixou entusiasma­da. “Já fizemos isso no Brasil, entre a Secretaria Especial dos Direitos Humanos e universida­des de alguns Estados. Queremos ampliar essa experiênci­a, convocar esses estudiosos, colocar a pesquisa e os dados a serviço de soluções para os desequilíb­rios regionais. E produzir assim um impacto em toda a região.”

Não é fácil, e não é pouco o trabalho. “Estamos lidando com a região mais desigual e mais violenta do planeta”, resume a nova integrante da comissão. E, entre os conflitos do continente, os vividos por Venezuela, México e Honduras são os mais urgentes. Quanto à Venezuela, que define como “um país na UTI”, a representa­nte brasileira acha “lamentável” a ideia, sugerida dias atrás, de intervençã­o externa. “Isso traria o colapso de vez. É preciso achar sempre um caminho para o diálogo.”/

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