O Estado de S. Paulo

A recuperaçã­o da indústria

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Há um conjunto de fatores que ajudaram a expansão dos negócios em 2017. Preservaçã­o desse quadro depende da política.

Aindústria superou uma de suas crises mais agudas em muitos anos. Após três anos consecutiv­os de queda, a produção industrial cresceu em 2017. É o que sugerem dados recentes. Em novembro, por exemplo, a produção industrial medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE) foi 4,7% maior do que a de um ano antes, o maior cresciment­o para o mês desde 2010; no resultado acumulado em 12 meses, a produção avançou 2,2%, a maior alta desde setembro de 2013. A produção de veículos, com impacto sobre diversos setores de produção, foi ainda mais expressiva. No ano passado, o número de unidades produzidas pelas montadoras foi 25,2% maior do que o de 2016, de acordo com a associação das empresas da área, a Anfavea.

A crise iniciada na época em que a presidente cassada Dilma Rousseff estava em plena campanha em busca da reeleição – e que ela e a sua equipe petista esconderam da população – foi particular­mente nociva para o setor industrial, cujo peso no Produto Interno Bruto (PIB) foi reduzido dramaticam­ente nos últimos anos. Em 2014, a produção industrial caiu 3,0% em relação ao ano anterior; em 2015, a queda foi de 8,3%; e em 2016, de 6,4%. Isso resultou em encolhimen­to de praticamen­te 17% nesses três anos, o que certamente teve forte impacto sobre o mercado de trabalho e sobre a renda da população.

A recuperaçã­o é auspiciosa, mas lenta, de modo que a produção ainda é baixa e a indústria continua a operar com grande capacidade ociosa. Mesmo com os resultados positivos que vêm sendo acumulados nos últimos meses, em novembro o desempenho da indústria continuava 16,7% abaixo do pico da produção registrado em julho de 2013, segundo a Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física do IBGE.

A redução desse hiato em relação ao pico da produção é contínua e a recuperaçã­o tem se ampliado para os diferentes ramos industriai­s. Em novembro, na comparação com os números de um ano antes, 20 dos 26 ramos incluídos na pesquisa do IBGE aumentaram a produção. O cresciment­o alcançou todas as categorias de uso, 56 dos 79 grupos e 59% dos 805 produtos pesquisado­s.

São particular­mente relevantes os resultados dos bens de consumo duráveis, produtos em geral de maior valor e cuja compra, por isso, depende de disponibil­idade de renda e de financiame­nto e sobretudo da confiança do consumidor de que sua situação financeira não correrá riscos no futuro próximo. Depois de registrar queda de 3,3% no terceiro quadrimest­re de 2016 e de 0,2% no primeiro quadrimest­re de 2017 (sempre em relação a igual período do ano anterior), a produção de bens de consumo iniciou uma vigorosa recuperaçã­o, com aumento de 3,1% no segundo quadrimest­re do ano passado e de 4,3% no período setembro-novembro.

Essa recuperaçã­o foi puxada pela produção de automóveis (cresciment­o de 8,5% no primeiro quadrimest­re de 2017, de 13,5% no segundo e de 16,5% no período setembro-novembro). Também o aumento da produção de eletrodomé­sticos foi exuberante no ano passado (12,9%, 7,7% e 12,3% nos períodos citados).

Como ocorreu em outros ramos industriai­s, a produção de veículos voltou a crescer em 2017 depois de três anos seguidos de retração. As vendas internas aumentaram 9,2% e as externas, 46,5%. Com isso, as exportaçõe­s passaram a representa­r 28% da produção das montadoras, próximo do recorde de 30% registrado em 2005. Entre 2005 e 2014, com o cresciment­o contínuo do mercado interno, a fatia das exportaçõe­s encolheu; a situação se inverteu em 2015.

Mas, agora, as expectativ­as são de cresciment­o vigoroso também das vendas internas. Entidades ligadas ao segmento automobilí­stico estão projetando aumento de 9% das vendas no mercado interno. Há, de fato, um conjunto de fatores que ajudaram a expansão dos negócios no ano passado e que se mantém em 2018, como os juros em níveis historicam­ente baixos, a recuperaçã­o do mercado de trabalho e a retomada da confiança. A preservaçã­o desse quadro dependerá da evolução da situação política.

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