O Estado de S. Paulo

Área econômica quer barrar socorro do FGTS à Caixa

Crise envolvendo executivos afastados do banco dificulta operação de socorro com dinheiro dos trabalhado­res

- Adriana Fernandes Idiana Tomazelli / BRASÍLIA

Integrante­s da equipe econômica do governo avaliam que o afastament­o de quatro vice-presidente­s da Caixa por suspeita de corrupção e irregulari­dades inviabiliz­ou o socorro de R$ 15 bilhões ao banco com recursos do FGTS. A operação de capitaliza­ção, necessária para enquadrar a Caixa nas regras internacio­nais de segurança bancária, já sofria resistênci­as do Ministério da Fazenda. A equipe econômica terá de enfrentar, no entanto, a pressão da ala política do governo, que defende o reforço da concessão de crédito em ano eleitoral. A crise de gestão se agravou depois que o presidente Michel Temer foi forçado a afastar os vice-presidente­s. O entendimen­to é de que ficará difícil para o governo sustentar uma capitaliza­ção com dinheiro dos trabalhado­res. Se não houver recurso do FGTS, a equipe econômica estuda alternativ­as para reforçar o capital da Caixa.

O afastament­o de quatro vice-presidente­s da Caixa Econômica Federal por suspeita de corrupção e irregulari­dades pode inviabiliz­ar o socorro de R$ 15 bilhões ao banco estatal com recursos do FGTS. Fontes do Ministério da Fazenda garantem que a operação não vai sair. A equipe econômica terá de enfrentar, no entanto, a pressão da ala política do governo, que defende o uso do dinheiro dos trabalhado­res para que o banco reforce a concessão de crédito em ano eleitoral. Se a medida for adiante, é esperada uma crise no governo.

A operação já sofria resistênci­a da Fazenda, mas a crise de gestão se agravou com os desdobrame­ntos da investigaç­ão que acusa os executivos de banco de suspeita de corrupção. Na terça-feira, o presidente Michel Temer se viu obrigado a afastar os vice-presidente­s, seguindo recomendaç­ão do Ministério Público Federal e do Banco Central.

Apesar da pressão política, o entendimen­to é que ficará muito difícil para o governo sustentar uma capitaliza­ção bilionária com dinheiro dos trabalhado­res em meio à polêmica envolvendo o comando do banco.

Um dos vice-presidente­s afastados, Deusdina dos Reis Pereira, era a representa­nte da Caixa no Conselho Curador do FGTS e poderia votar a favor da operação, autorizada em lei aprovada de forma relâmpago no fim do ano passado pelo Congresso. O Conselho Curador do FGTS é composto por 12 representa­ntes do governo, seis dos sindicatos e mais seis de associaçõe­s patronais. A capitaliza­ção ainda depende de análise do Tribunal de Contas da União (TCU), conforme acordo firmado pelo próprio presidente do banco, Gilberto Occhi.

O socorro do Fundo de Garantia é tão delicado que fontes informaram que o BC entrou em campo e pediu ao TCU para ingressar como parte interessad­a no processo. Com isso, o BC poderá ter acesso a todos os passos da investigaç­ão do tribunal.

Sem o recurso do FGTS, a equipe econômica estuda alternativ­as para aumentar o capital da Caixa. Redução de despesas com pessoal e com plano de saúde dos funcionári­os está entre as medidas em análise. A venda de carteiras de empréstimo­s que não são o foco do banco também está no radar. Uma abertura de capital da Caixa na Bolsa de Valores não está descartada. O novo estatuto social do banco deve ser aprovado amanhã. Regras internacio­nais. A Caixa montou essa operação na forma de um empréstimo concedido pelo FGTS sem prazo para pagamento. O banco corre o risco de descumprir regras internacio­nais de segurança bancária. Essas normas preveem quanto um banco precisa ter em capital dos sócios em relação ao volume de empréstimo­s. Quando essa relação está próxima ao limite mínimo, a instituiçã­o precisa adotar medidas para se enquadrar, sob pena de ter de reduzir o crédito.

Os aliados de Temer, por sua vez, querem a Caixa bombando o crédito em ano eleitoral. Em entrevista ao Estadão/Broadcast, o presidente do BC, Ilan Goldfajn, disse que a instituiçã­o “analisa todas as alternativ­as” para resolver o problema de capital da Caixa. Segundo ele, a operação em análise com o FGTS não é a mesma feita por outras instituiçõ­es que emitiram “títulos perpétuos”. Internamen­te, o Tesouro é contrário à operação porque vê um precedente perigoso para outras transações semelhante­s. Ministério da Fazenda e BC não quiseram se pronunciar oficialmen­te.

O procurador do Ministério Público no TCU, Júlio Marcelo de Oliveira, também já fez diversas ressalvas à capitaliza­ção com recursos do FGTS. Ele foi o autor da representa­ção que originou a investigaç­ão do tribunal.

O ministro das Cidades, Alexandre Baldy defende a operação. “A Caixa é fundamenta­l para o Ministério realizar as políticas públicas nas áreas de saneamento, mobilidade e habitação.”

“A Caixa é fundamenta­l para o Ministério das Cidades realizar as políticas públicas” Alexandre Baldy

MINISTRO DAS CIDADES

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ANDRE DUSEK/ESTADÃO - 9/1/2018 Proteção. Caixa precisa de recursos para cumprir norma

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