O Estado de S. Paulo

Investimen­to estrangeir­o faz Bolsa passar dos 81 mil pontos

Com excesso de recursos no mercado internacio­nal, investidor­es estrangeir­os fizeram a bolsa brasileira bater recorde no pregão de ontem

- DOUGLAS GAVRAS, EULINA OLIVEIRA e SIMONE CAVALCANTI

O grande fluxo de investimen­tos estrangeir­os e o bom momento dos mercados internacio­nais fizeram o Ibovespa encerrar o dia com 81.189 pontos, um recorde. Na opinião de analistas, há um reconhecim­ento de que os problemas fiscais do Brasil são preocupant­es e de que a conta deve ficar para o próximo presidente, mas o mercado já havia antecipado essas dificuldad­es e aposta que ainda há espaço para valorizaçã­o. O dólar teve queda de 0,42% e fechou em R$ 3,2136.

A Bolsa já tinha começado o pregão de ontem com a expectativ­a de fechar o dia na casa dos 80 mil pontos, mas foi além. O grande fluxo de investimen­tos estrangeir­os e o bom momento dos mercados internacio­nais fizeram o Ibovespa, principal índice do mercado, encerrar a sessão em 81.189 pontos, um novo patamar histórico. O dólar à vista teve leve queda, de 0,42%, e fechou cotado a R$ 3,2136. Analistas ouvidos pelo Estado consideram que mesmo com as altas consecutiv­as, a Bolsa não vive uma bolha e ainda há espaço para crescer mais. Eles lembram que o mercado sempre tenta olhar para frente e os investidor­es já previam um movimento de recuperaçã­o da economia do País a partir de 2017.

No ano passado, o Ibovespa também bateu recordes e fechou o ano com uma valorizaçã­o de quase 27%, subindo mais que o dobro do CDI. Desde o início deste ano a Bolsa acumula valorizaçã­o de 6,27%.

Sobre os recordes consecutiv­os da Bolsa, Alexandre Espírito Santo, economista da Órama e professor do Ibmec-RJ, avalia que não existe uma única explicação, mas várias que se complement­am nesse contexto. A principal delas, diz, é que a liquidez internacio­nal é forte e o dinheiro ainda está barato.

“Os mercados lá fora estão tendo o melhor janeiro em muitos anos, com as Bolsas batendo recordes dos Estados Unidos à China”, ressalta, lembrando que os investidor­es não percebem que esse cenário possa mudar no curto prazo.

O mercado internacio­nal vive, portanto, um momento positivo, com excesso de recursos e investidor­es com maior apetite ao risco. Baratas desde a crise, as empresas brasileira­s têm um grande potencial de atração de investimen­tos estrangeir­os.

Álvaro Bandeira, economista-chefe da ModalMais, complement­a que o apetite pelo risco ganha força também com a cena global em recuperaçã­o. “Há uma recuperaçã­o de lucrativid­ade de empresas no mundo inteiro. E, no início de ano, os investidor­es buscam arriscar um pouco mais porque dá tempo de corrigir depois. Isso justifica a propensão maior ao risco.”

É preciso considerar que os juros estão em um patamar historicam­ente baixo e a nossa Bolsa está mais competitiv­a, analisa o especialis­ta em Finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV), Joelson Sampaio. “O investidor estrangeir­o vê a economia se recuperand­o ao mesmo tempo em que a nossa Bolsa continua barata. O Ibovespa está em um patamar elevado em reais, mas em dólar está na casa dos 24 mil pontos, muito atrativa para quem olha do exterior.”

Otimismo. No fim da semana passada, após o rebaixamen­to da nota de risco do País pela agência S&P Global, justificad­a sobretudo pela não aprovação da reforma da Previdênci­a e pelo agravament­o das contas públicas, havia uma preocupaçã­o de que o mercado brasileiro seria tomado pelo pessimismo, mas isso não ocorreu.

Na opinião dos analistas, há um reconhecim­ento de que os problemas fiscais e previdenci­ários do Brasil são preocupant­es e que a conta deve ficar para o próximo presidente, mas o mercado já havia reagido ao atraso da votação da reforma da Previdênci­a, caindo em novembro enquanto o resto do mundo subiu, e precificad­o a dificuldad­e de aprovação do texto este ano.

“A questão da nota soberana está atrelada à agenda fiscal e nesse caso todos aceitamos que a reforma da Previdênci­a virá só em 2019. Mesmo com toda a incerteza política deste ano, há, no fundo, uma expectativ­a de que um candidato reformista seguirá com essa agenda e o mercado acaba ficando tranquilo”, diz o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale.

Fernando Marcondes, analista do Grupo GGR, também pondera que, apesar de o Ibovespa vir batendo recordes, o patamar de 81 mil pontos é nominal. “É preciso lembrar que a inflação dos últimos dez anos é de aproximada­mente 72%. Assim, o recorde real seria próximo dos 130 mil pontos.”

No pregão de ontem, a valorizaçã­o da Bolsa foi acentuada pelo rali das ações da Petrobrás, que eram favorecida­s pela aproximaçã­o do petróleo tipo Brent dos US$ 70 por barril, patamar capaz de gerar receita suficiente para reduzir a alavancage­m da petroleira a níveis melhores.

Os recursos vindos do exterior encontrara­m ambiente tranquilo com uma agenda doméstica esvaziada pelo recesso parlamenta­r. As blue chips – ações considerad­as de primeira linha –, tiveram valorizaçã­o relevante. Petrobrás ON e PN subiram 3,62% (R$ 19,47) e 4,02% (R$ 18,36), respectiva­mente. No setor financeiro, Bradesco PN subiu 2,5% (R$ 36,89) e Banco do Brasil ON, 2,37% (R$ 35,42).

Agenda reformista

“Mesmo com toda a incerteza política deste ano há, no fundo, uma expectativ­a de que um candidato reformista seguirá com essa agenda e o mercado acaba ficando tranquilo.”

Sergio Vale

ECONOMISTA-CHEFE DA MB

ASSOCIADOS

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