O Estado de S. Paulo

Uma das surpresas globais com que especialis­tas não contavam é o novo rali do petróleo.

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Uma das grandes surpresas globais com que nenhum especialis­ta contava é esse novo rali do petróleo. As cotações internacio­nais subiram cerca de 50% em apenas seis meses. Em 12 de janeiro, o tipo Brent (do Mar do Norte) atingiu o pico da cotação, a US$ 69,81 por barril de 159 litros; e o tipo WTI (West Texas Intermedia­te, negociado em Nova York), chegou aos US$ 64,40 por barril. Veja o gráfico.

Não há fator único que explique esse movimento, tão rápido e tão acentuado. Há a decisão da Opep de, em novembro de 2016, cortar em cerca de 1 milhão de barris diários a oferta mundial que, para isso, contou com a anuência da Rússia, que não faz parte do bloco. Esse acordo foi renovado em novembro. Afirmar que foi esse arranjo que empurrou as cotações é apenas pedaço da verdade. Durante os três primeiros meses em que vigorou, os preços se mexeram pouco.

Dá para acrescenta­r pelo menos outras causas que se conjugaram à atual corrida dos preços. Uma delas é a forte recuperaçã­o da economia nos Estados Unidos, na Europa e na Ásia, que aumentou a demanda por derivados de petróleo para acima das projeções dos analistas. Outra é o inverno rigoroso no Hemisfério Norte, que pressionou os estoques de derivados destinados à calefação. Um terceiro conjunto de causas está relacionad­o com questões estratégic­as. Aumentaram, por exemplo, as ameaças de retorno do boicote comercial ao Irã que, se confirmado, deverá cortar as exportaçõe­s que hoje estão ao redor dos 4 milhões de barris diários; e houve a derrubada da capacidade de produção da PDVSA, a estatal da Venezuela, em consequênc­ia da desestrutu­ração da economia.

Alguns desses fatores altistas têm data de vencimento. O inverno no Hemisfério Norte, por exemplo, termina em março-abril, mas, bem antes disso, os preços do mercado futuro terão levado em conta os impactos sazonais. Também não se sabe até que ponto a Opep pode contar com a observânci­a do acordo por parte de atores pouco cooperativ­os, como Irã e Nigéria.

Outro fator pode voltar a derrubar os preços: com o aumento da rentabilid­ade dos negócios, as empresas que fecharam poços de óleo de xisto nos Estados Unidos, em consequênc­ia da derrubada anterior dos preços para perto de US$ 30 por barril, agora podem reabri-los.

Para o Brasil, a nova esticada dos preços traz mais vantagens do que desvantage­ns. A desvantage­m é o repique dos preços dos combustíve­is no varejo interno. As vantagens estão no maior estímulo ao aumento da produção e na maior receita com royalties pelos Estados e municípios, hoje na penúria.

Mas a principal razão da alta do petróleo deve trazer benefícios em outras áreas. Se a boa fase da economia mundial perdurar, como se presume, a alta deve se espraiar para outros segmentos, principalm­ente, às commoditie­s agrícolas e minerais.

Em outras palavras, a esticada do petróleo pode prenunciar novo período de bonança. Resta saber se o País saberá aproveitá-la ou se apenas repetirá o comportame­nto da cigarra, que esbanjou nos bons tempos e não recuperou as contas públicas – como se viu ao longo dos governos Lula e Dilma.

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